A vida espiritual em uma cultura secular: uma vida em destaque
Daniel 1
Quando a história de Daniel começa, Judá está sendo invadida, e a atividade comercial usual havia parado. O profeta Jeremias sabia o motivo. Por mais de 20 anos, ele havia insistido com os cidadãos de Judá para retornarem ao seu Deus. Ele os advertira de que, se recusassem, seriam capturados pelos babilônicos e levados cativos por 70 anos (Jr 25.1-11). Como Judá não ouviu, Daniel escreve agora como testemunha da invasão que ocorreu e descreve o que aconteceu no despertamento desse povo.
O plano do rei (Dn 1.1-7)
O rei Nabucodonosor, da Babilônia, decidiu levar os melhores e mais inteligentes da nação cativa de Judá e usá-los para promover sua nação. Diferentemente de Assuero, no livro de Ester, que capturou as mulheres para o prazer pessoal, Nabucodonosor escolheu os melhores rapazes para aperfeiçoar a sua nação.
ENFOQUE
“Que tipo de caráter esse rei tinha? Mais tarde em seu reinado, ele demonstra sua absoluta crueldade ao matar os filhos do rei de Judá diante dos olhos do pai deles — então os olhos do pai foram arrancados para que esse horror fosse a última coisa que ele visse. Nabucodonosor permite que outro homem seja morto lentamente em uma fogueira. Esse rei era especialista em tortura; sua imaginação cruel alimentava suas más ações. E a palavra de Nabucodonosor era lei. Entretanto Daniel e seus três amigos enfrentaram esse teste moral sabendo que tinham de cumprir as exigências do rei ou arriscarem-se a morrer torturados.”
—Ray Stedman (Aventurando-se pela Bíblia, Publicações Pão Diário, 2019, p.425)
ENFOQUE
“As denúncias de Jeremias ao povo de Jerusalém demonstram que não havia muitos lares de pessoas piedosas naquela época; mas, com certeza, havia algumas, de outra forma não seriam encontrados jovens tão bons quanto estes. Eles deveriam achar a condição de cativos difícil, por procederem de boas famílias e por terem o tipo de personalidade que ficou demonstrada na história.”
—Leon Wood
A Commentary on Daniel (Comentário sobre Daniel, tradução livre).
Ele associou as melhores mentes e habilidades para tornar a Babilônia mais forte. Esse processo de seleção exigia que preenchessem altos critérios. A lista é impressionante! Eles precisavam ter boa aparência, e nenhum defeito físico, serem hábeis na sabedoria, capazes de aprender e dotados de discernimento (vv.4-7). Esses jovens seriam transformados em sábios.
Essa estratégia apresentava alguns desafios sutis. Sim, eles estariam em condições melhores que os escravos na Babilônia, mas sua situação gerava desafios que os outros não enfrentariam. Esses desafios se estabeleceram de diversas formas.
Ambiente
Os problemas dessa natureza, ou moldam o nosso caráter ou o revelam. A questão é: tendo sido levado para uma terra estranha e pagã em idade influenciável, Daniel manteria sua pureza?
Estilo de vida
A comida do palácio não era nutricionalmente ruim. Porém, eram alimentos que haviam sido oferecidos e dedicados aos falsos deuses da Babilônia. Comer essas iguarias significava endossar seus ídolos.
Lealdade
O plano do rei era um ataque sutil ao centro de gravidade dos rapazes. Primeiro, ele buscou mudar seus pensamentos exigindo que estudassem com os astrólogos da Babilônia. O segundo alvo era mudar sua maneira de adoração pela troca de seus nomes. Todos eles tinham nomes que mencionavam o Deus de Israel: Daniel, “Deus é meu juiz”; Hananias, “Deus é gracioso”; Misael, “Quem é como Deus?”; Azarias, “Ajudado por Deus”. A mudança dos nomes indicava a transferência de lealdade aos deuses babilônicos.
ENFOQUE
“Durante sua infância, Daniel viveu no tempo do rei Josias de Judá — o vigoroso reformador que tentou desfazer 50 vergonhosos anos de apostasia sob os reinados de seu pai e de seu avô. O Templo foi reformado e o Livro da Lei encontrado e lido para o rei e para o povo. Como consequência, houve um reavivamento nacional. Porém, infelizmente esse reavivamento não teve efeito sobre os seus descendentes e, quando eles o sucederam ao trono, tudo o que fizeram foi anular as justas obras de seu pai. No entanto, há razões para se crer que esse avivamento teve um efeito profundo e duradouro sobre a vida de um menino chamado Daniel, que se determinou-se a ser fiel a Deus por toda sua vida.”
—Donal K. Campbell
Daniel: God’s Man in a Secular Society (Daniel, um homem de Deus em uma sociedade secular, tradução livre).
Qual era o propósito de Nabucodonosor? Mudando o modo de pensar, de comer e de adorar desses jovens, o rei esperava mudar o modo de eles viverem. Como esses jovens reagiriam a esse teste de caráter?
A reação de Daniel (Dn 1.8-14)
Daniel reconheceu que alimentar-se das iguarias do rei suscitava uma questão de princípio. Ele viu algo a respeito da comida que inspirava uma resposta semelhante ao que encontramos o rei Davi dizendo: “Guardei tua palavra em meu coração, para não pecar contra ti” (Sl 119.11).
O que Daniel viu? Primeiro, a comida do rei não era kosher — não era preparada de acordo com os princípios alimentares de Israel. A vida no exílio impossibilitou aos rapazes judeus guardarem muitas das leis de Israel baseadas na Torá e no Templo. Mas, o que provavelmente seria uma questão ainda mais importante para Daniel, era o padrão que emergiu em outros aspectos de sua vida. Ele não queria fazer nada que honrasse os deuses babilônicos. Talvez, Daniel viu o ato de se alimentar e beber daquilo que era oferecido aos ídolos como violação da Palavra e da honra do seu Deus.
Seguir o curso da maioria seria o caminho mais fácil, “Quando na Babilônia, aja como os babilônicos”. Mas o objetivo de Daniel era a obediência apesar do ambiente em que estava.
Ele e seus amigos tomaram uma posição que aparentemente era diferente da dos outros cativos. Repare que Daniel “decidiu não se contaminar”. Essa é a atitude-chave. Se a prioridade é a pureza, você deve ter o desejo de obedecer a Deus e o compromisso de agir com base nesse mesmo desejo. Daniel tinha várias opções, mas estava determinado a ser leal ao seu Deus. Uma vida comprometida com o Senhor fundamenta o firme propósito do coração, e Daniel desde o início do período de três anos de treinamento foi testado nesse assunto.
Confrontado com esse dilema, Daniel usou de diplomacia e demonstrou ter a consciência sincera. Até mesmo aqui vemos a obra de Deus em preparação para esse momento. Daniel posicionou-se — e Deus lhe concedeu favor aos olhos do chefe dos eunucos.
Daniel foi ao encarregado e pediu que fizessem uma experiência de 10 dias com uma dieta de legumes. Dez dias de legumes? Além disso, tal teste requeria uma espécie de suspensão das regras nutricionais. Como poderia haver diferença notável em apenas 10 dias? Era uma pequena prova de fé que prepararia Daniel para os testes maiores que estavam por vir.
O livramento de Deus (Dn 1.15-20)
O teste funcionou e mostrou que Daniel e seus amigos sabiam o que Israel já tinha esquecido — Deus recompensa a obediência.
Daniel e seus amigos saíram-se melhor do que os outros porque Deus trabalhou em seu favor. Como resultado, foi-lhes permitido que continuassem com a dieta. Daniel permaneceu firme porque estava comprometido com a pureza que flui da obediência à Palavra, a qual lhe proporcionou um alicerce para viver em uma cultura difícil.
A bênção de Deus foi confirmada no momento em que Daniel e seus amigos foram declarados “dez vezes mais capazes” que todos os outros sábios da Babilônia (v.20).
Ao final de seu treinamento, Daniel não tinha mais do que 20 anos, o que significa que tinha apenas 16 ou 17 quando ele e os outros rapazes foram postos à prova. Com tão pouca idade, esse jovem foi separado para servir, entretanto, ele viveu com grande destaque no poderoso governo pagão da antiguidade.