A vida espiritual em uma cultura secular: uma vida de confiança
Daniel 2
Considere as seguintes situações. O que elas têm em comum?
• Um goleiro em uma cobrança de pênalti, jogando na Copa do Mundo.
• Um cirurgião durante uma cirurgia cardíaca muito difícil.
• Um piloto tentando aterrissar um jato com dois motores danificados.
Todas essas situações desafiadoras exigem que o indivíduo desempenhe sua função com extrema habilidade, em momentos de grande pressão e provas. E nessa posição encontramos Daniel e seus amigos na continuação dessa história. Eles vencerão a pressão com profunda confiança em Deus.
O cenário está montado (Dn 2.1-13)
O versículo 1 resume a linha do verso de Shakespeare em Henry IV: “Repousa sem sossego a cabeça coroada”. O sono de Nabucodonosor foi perturbado por sonhos, mas um em particular o preocupou. Certo escritor disse que os cuidados do dia se tornaram os cuidados da noite, e o rei acordou perturbado e mandou chamar os seus conselheiros. (Daniel e seus amigos não foram convocados, o que dá a entender que naquele tempo ainda estavam em treinamento.) Quem o rei chamou (v.2)?
“Os magos” eram os eruditos ou escritores sagrados. “Os encantadores” eram sacerdotes sagrados. “Os feiticeiros” estavam envolvidos com o oculto e vendiam ervas e poções. E “os caldeus” eram os sábios do rei.
Quando todos se achavam reunidos diante do rei, um diálogo mostrou o problema com exatidão a esses supostos sábios (vv.3-9). Sua súplica por misericórdia (vv.10-13) revelou a seriedade do perigo em que se encontravam.
Quando os caldeus disseram ao rei que o pedido para interpretar o seu sonho era injusto porque somente os deuses poderiam fazer tal coisa, eles montaram o cenário para o Deus de Daniel fazer exatamente isso!
Uma vez admitida a sua incapacidade, Nabucodonosor explodiu. Ele estava tão furioso a ponto de ordenar que todos os sábios — inclusive Daniel e os rapazes em treinamento — fossem executados. Em decorrência disso, Daniel e seus amigos foram presos.
Os corações submissos (Dn 2.14-23)
Arioque, capitão da guarda do rei, foi enviado para matar todos os sábios da Babilônia, mas, quando chegou a Daniel, o profeta foi capaz de lhe falar “com sabedoria e prudência” (v.14). Daniel pediu uma explicação e Arioque lhe contou toda a história. Aproveitando bem a oportunidade (v.16), Daniel, em essência, disse: “Dê-me tempo, e eu garanto ao rei uma resposta”. Essa era uma enorme promessa em face ao fracasso dos outros.
Daniel compartilhou o peso de seu coração com os amigos, e juntos começaram a orar pedindo por misericórdia ao Senhor do Céu. Tudo isso era uma poderosa expressão de sua confiança espiritual. Eles desejavam que Deus, em Sua misericórdia, interviesse e os livrasse da execução que havia sido determinada.
Ao orarem, Deus desvendou o mistério do sonho do rei a Daniel. Observe no versículo 19 a declaração simples dessa resposta de oração. Não era uma grande surpresa! Com o conhecido instrumento de execução praticamente ao redor do seu pescoço, a primeira reação de Daniel não foi a de obter alívio ou de usar seu conhecimento em seu benefício. Ao invés disso, sua primeira reação foi a de adorar. E o foco dessa adoração era o Deus de poder e provisão. Que grandioso louvor ele rendeu:
• “Louvado seja o nome de Deus para todo o sempre”, que é um emblema do caráter desse profeta;
• “a ele pertencem a sabedoria e o poder”, e não a Daniel;
• “Ele muda o curso dos acontecimentos”, significando que Deus tem total controle sobre a vida;
• “remove reis de seus tronos e põe outros no lugar”, pois o Senhor é soberano sobre todas as nações;
• “Dá sabedoria […] e conhecimento”, como Tiago 1.5 promete;
• “Revela coisas profundas e misteriosas”, inclusive esse sonho;
• “sabe o que está escondido nas trevas, embora ele seja cercado de luz”.
Daniel atribuiu a Deus toda a glória pela resposta à sua oração (v.23). Que maravilhosa demonstração de adoração! Teria sido inapropriado para Daniel agradecer a Deus por salvar sua vida? É claro que não, mas parece que, em sua mente, até esse livramento milagroso era secundário à maravilha do Deus que o realizou.
A reação desse jovem deveria nos levar a examinar nosso coração para ver qual teria sido o nosso foco:
• Naquele que abençoa ou nas bênçãos?
• No Senhor da obra ou na obra?
• No Deus que responde à oração ou na resposta?
Tudo se trata da ênfase que damos. E quando deixamos de colocar nossa confiança em Deus, é fácil perder o nosso foco. Nossas perspectivas se tornam embaçadas e vemos as árvores, e não as florestas. No entanto, a atenção de Daniel permaneceu clara durante aquela opressão de vida ou morte. O coração dele estava firme em seu Deus, e este lhe deu capacidade para realizar, ao invés de sucumbir sob a pressão.
O segredo revelado (Dn 2.24-30)
Daniel seguiu confiante de que Deus prepararia o caminho.
Foi a Arioque, que anunciou ao rei que a resposta havia sido encontrada. Quando Daniel compareceu perante o rei (aparentemente pela primeira vez, e ainda apenas um jovem), Nabucodonosor lhe fez uma pergunta constrangedora: “Você pode mesmo me dizer qual foi meu sonho e o que ele significa?” (v.26).
Em outras palavras, seria Daniel capaz de ser bem-sucedido quando os outros sábios haviam falhado? Como os versículos seguintes mostram, a resposta foi positiva.
Não era uma questão de falsa humildade. Era uma sincera percepção de seu papel dentro do contexto. Para esse jovem, a questão estava clara — tratava-se de Deus, não de Daniel. E suas ações revelaram a confiança que sentia.
Aplicação
Daniel relataria detalhadamente o sonho e sua interpretação (vv.31-45), o que trouxe um resultado maravilhoso (vv.46,47) — uma declaração sobre a glória do Deus de Daniel.
Na vida, como nas condições atmosféricas, há períodos de alta e baixa pressão — porém, nunca há períodos de ausência de pressão. Nossas escolhas durante esses tempos incertos dizem muito a nosso respeito.
Onde colocamos nossa atenção quando somos pressionados? Estamos nos debatendo para nos protegermos a todo custo? Estamos fazendo coisas desesperadas que prejudicam outras pessoas no processo? Ou nos preocupamos mais sobre como as nossas ações respingarão em nosso Deus?
Em seus momentos de reflexão, peça a Deus para demonstrar a presença dele claramente em sua vida. Use esses momentos para se ajustar aos eternos propósitos e à glória de Deus.