Um homem como nós — Paulo, uma visão de liderança dinâmica
…Somos homens como vocês! —Atos 14:15
É notável a ausência de uma liderança forte, segura e carismática, tão desesperadamente necessária nesta época conturbada. Um cidadão preocupado e incomodado pelas condições predominantes e pela incapacidade dos líderes de sua nação em encontrar uma panaceia para curar suas enfermidades comentou:
O momento crítico não encontrou ninguém exceto os atores secundários no cenário político, e o momento decisivo foi negligenciado porque os corajosos não tinham poder suficiente e os poderosos não tinham suficiente sagacidade, coragem e determinação.
Apesar de esse comentário ter sido escrito há mais de um século por Friedrich Stiller, ainda soa estranhamente contemporâneo. Será que as coisas mudaram em sua essência nos anos que se seguiram? As palavras vivas de nosso Senhor provam-se verdadeiras e diagnosticam minuciosamente as condições de hoje: “…na terra, as nações ficarão angustiadas, perplexas com o rugir dos mares e a agitação das ondas” (Lucas 21:25).
As condições mundiais pioraram imensamente desde que essa declaração foi feita, mas tais palavras continuam adequadas aos dias atuais. Cada geração deve conscientizar-se de seus próprios problemas de liderança e solucioná-los. Hoje enfrentamos uma crise aguda de liderança em muitas áreas. Crises se sucedem, porém nossos líderes trazem poucas soluções, e o prognóstico não é nem um pouco tranquilizador.
A Igreja não escapou dessa carência de liderança competente. Sua voz, que uma vez soou como o clarim da esperança para a humanidade aprisionada, agora está estranhamente emudecida, e sua influência mundial tornou-se mínima. O sal perdeu grandemente o seu sabor, e a luz o seu brilho.
É contraproducente lamentar essa situação. Seria mais útil descobrir, novamente, os princípios e fatores que inspiraram a liderança espiritual dinâmica de Paulo e dos outros apóstolos nos dias dourados da Igreja. Não apenas precisamos descobri-los, mas empenharmo-nos em aplicá-los à nossa própria situação. Os princípios espirituais são atemporais e não mudam de uma geração para outra.
Incluindo os defeitos
Certa vez, um amigo comentou: “Não nos sentimos humilhados quando observamos os defeitos de alguém expostos para todo mundo ver?”. Ao vermos os defeitos dos outros, os nossos próprios se tornam dolorosamente óbvios. Semelhantemente, nós também compreendemos melhor os princípios espirituais quando os vemos refletidos em pessoas do que quando eles são apresentados com exatidão apenas em proposições acadêmicas.
Por essa razão, investigar o agir da providência divina e a personalidade humana na vida de homens e mulheres iguais a nós para descobrir como as condições e experiências do passado eram controladas e moldadas por mão habilidosa e generosa é um dos estudos bíblicos mais recompensadores.
Devemos ser gratos pela a inspiração divina ter assegurado a seleção e a preservação dos fatos importantes que fizeram parte da vida do apóstolo. Tais fatos, simples e sem enfeites, são registrados de uma forma direta e sem a intenção de retocar a imagem. A Bíblia é cuidadosa ao retratar seus personagens como eles realmente eram — “incluindo os defeitos”.
Vemos a liderança ideal no Senhor e não em Paulo, pois Cristo é o Líder por excelência. Entretanto, há alguns que acham a perfeição de Jesus intimidante e desanimadora. Por Ele não ter herdado natureza pecaminosa como nós, pensam que esse fato lhe confere uma grande vantagem e o removem da arena de suas lutas e fracassos terrenos. Jesus parece estar tão acima deles que pouca ajuda prática pode ser obtida de Seu brilhante exemplo. Enquanto essa visão flui de uma concepção errônea da natureza da ajuda que Cristo pode oferecer, seus resultados são muito verdadeiros.
Por meio do apóstolo Paulo, Deus nos dá um exemplo de um “homem como nós” tal como Elias é descrito em Tiago 5:17. É verdade, ele era um homem de alta estatura espiritual, mas também era um homem que conheceu tanto o fracasso quanto o sucesso. Mesmo quando exclamava em desespero “Como sou miserável! Quem me libertará deste corpo mortal dominado pelo pecado?”, ele regozijava-se — “Graças a Deus, a resposta está em Jesus Cristo, nosso Senhor” (Romanos 7:24-25).
Essas e outras afirmações semelhantes de seu coração o tornaram parecido conosco, e podemos nos identificar melhor com suas experiências. Paulo não era “um santo inatingível e grandioso”, mas um homem frágil e falível como nós, alguém que pode identificar-se com nossas necessidades.
Desta forma, encontramos em Cristo a inspiração de um verdadeiro homem que nunca falhou e recebemos de Paulo o encorajamento de alguém que caiu, mas levantou-se. “Um homem perfeito revela qual é o ideal; um homem derrotado e finalmente vitorioso pela graça de Deus revela o que podemos nos tornar […]. Se quisermos andar em triunfo, pelo difícil e perigoso caminho, precisamos de Jesus ao nosso lado e de Paulo como nosso exemplo”.
Se o nosso estudo sobre os princípios da liderança de Paulo deve gerar consequências duradouras, então é necessário um estudo mais do que acadêmico. Cada pessoa precisará dominá-los e traduzi-los em ação em sua própria vida e área de atuação. Os princípios devem tornar-se geradores de experiência.
Deveríamos ser gratos a Paulo, pois em suas cartas ele inconscientemente se revela. Aprendemos muito mais dele em suas cartas, que contêm referências indiretas e espontâneas, do que do material histórico relatado por Lucas no livro de Atos. Este livro usará o mesmo método que D. J. Fant utilizou ao biografar o saudoso A. W. Tozer: a interpretação do homem através daquilo que deixou por herança.
Paulo exemplifica o que um homem, totalmente entregue a Deus, pode realizar no decurso de sua geração. Assim sendo, nosso propósito será analisá-lo especialmente em sua atuação como líder na Igreja Primitiva. Consideraremos seu ponto de vista em assuntos relevantes, examinaremos as qualidades que o tornaram um grande líder e descobriremos como essas peculiaridades contribuíram para sua excelente liderança.