Não há qualquer declaração explícita no livro de Atos que diga que “multidões de perdidos vieram a Cristo porque ficaram impressionados pelo amor que os cristãos tinham uns pelos outros”. Mas o amor era tão óbvio entre esses cristãos do primeiro século que podemos estar certos de que os não cristãos o perceberam. Jesus disse aos Seus seguidores que o amor deles uns pelos outros provaria ao mundo que eram Seus discípulos. (João 13:35). Os cristãos primitivos agiam como um grupo de apoio uns para os outros. Eles compartilhavam seus bens (Atos 2:44-47) e ajudavam as viúvas (Atos 6:1-7). Os cristãos de Jerusalém realizaram uma vigília de oração durante toda a noite quando souberam que Pedro estava preso e com dia marcado para ser executado (Atos 12). Os cristãos da Macedônia, mesmo sendo pobres e oprimidos, deixaram Paulo boquiaberto pela quantia de dinheiro que levantaram para ajudar os cristãos perseguidos de Jerusalém (2 Coríntios 8-9). Na sua carta aos cristãos de Colossos, escrita durante o período relatado no livro de Atos, Paulo agradeceu a Deus pelo amor que eles demonstravam por todos os santos (Colossenses 1:4). Não é de admirar que multidões viessem a Cristo naqueles dias. Esse tipo de amor entre os cristãos fala eloquentemente ao não cristão que está observando.
Durante um tempo, os relacionamentos de apoio prevaleceram. Um dos pais da igreja, Tertuliano, por volta ano 200 d.C., menciona o que os ateus falavam sobre os cristãos: “Vejam como eles amam uns aos outros… vejam como eles estão dispostos até mesmo a morrer uns pelos outros.” Ele via isso como um fator importante para fazer as pessoas acreditarem em Jesus Cristo.
Quando esse amor não é demonstrado, o apelo do evangelho se perde. João Crisóstomo, que viveu cerca de 150 anos depois de Tertuliano, reclamou: “Nada mais faz o ateu tropeçar, do que a falta de amor”. É possível que a mesma crítica seja feita a nós? Falamos de comunhão, gostamos de estar junto com outros cristãos. Podemos até gostar de momentos de estudos bíblicos e orações, mas o fazemos com pessoas que conhecemos e com pouco amor sacrificial. Tais reuniões são boas, mas elas realmente não se encaixam com o significado da palavra grega koinonia, que é traduzida por “comunhão” em Atos 2:42. A comunhão verdadeira envolve um compartilhar dispendioso — ajudar um ao outro financeiramente, carregar o fardo um do outro e alegrar-se com as bênçãos uns dos outros.
As pessoas que não são salvas se impressionariam se vissem a comunhão entre os cristãos do Novo Testamento. Se os cristãos ricos, que vivem em condomínios fechados, que gastam rios de dinheiro com construções bem mobiliadas, se interessassem por um pequeno trabalho na periferia, os descrentes se disporiam melhor a crer no evangelho.
Um dos fatores que fizeram a igreja primitiva crescer tão rapidamente foi a unidade dos santos. O escravo e o senhor adoravam no mesmo local — normalmente uma casa. É claro que existiam problemas que precisavam ser resolvidos, como 1 Coríntios 11:17-34 nos indica, mas a verdadeira comunhão prevalecia e a igreja crescia rapidamente.
A história já demonstrou que, quando cristãos afluentes se interessam genuinamente por seus irmãos em Cristo, menos afortunados, muitas pessoas vêm ao Senhor. Devemos relembrar essa responsabilidade para com os pobres (Gálatas 2:10), o que não significa que devemos abandonar nossos esforços para evangelizar na faculdade ou entre os mais abastados de nossa sociedade. Somos gratos a Deus por tais ministérios, mas muitos historiadores da igreja afirmam que os maiores “movimentos religiosos nasceram entre os pobres” (Howard A. Snyder, The Problem of Wineskins, (O Problema dos Odres)).
Os pobres farão seu próprio evangelismo, mas não poderão fazê-lo de forma eficaz se outros não compartilharem com eles seu tempo, talentos e dinheiro. À medida que esses cristãos começam a melhorar financeiramente, eles não devem esquecer suas raízes, nem abandonar os que precisam deles. Jesus enfatizou repetidamente a necessidade de pregar o evangelho aos pobres (Mateus 11:1-6; Lucas 4:18-21). Snyder comenta:
Toda denominação precisa da infusão de centenas de cristãos dentre os pobres — homens e mulheres salvos em sua pobreza crítica. Dessa forma, nos mantemos alertas e espiritualmente vivos. Ajudará nossas igrejas a não serem capturadas por uma classe social ou filosofia política e desta forma tornar-se desacreditadas. Nossas diferenças radicais no mundo nos uniriam em Cristo (The Problem of Wineskins).
Os cristãos primitivos praticavam a verdadeira comunhão; eles seguiram o exemplo de Cristo que alcançava e aceitava em amor todos os tipos de pessoas. Deveríamos fazer o mesmo! Precisamos começar pequenos ministérios entre os pobres. Não será fácil! Vai exigir mais do que gastar algum dinheiro, exigirá nosso tempo e faremos mais do que contratar uns poucos funcionários. Devemos nos envolver pessoalmente, ficando ombro a ombro com as pessoas que queremos alcançar. Se a estratégia funcionou nos dias do Novo Testamento, vai funcionar hoje!
Thomas e Earl Koon, respectivamente, um pastor de sucesso e um missionário na Austrália, são produtos desse tipo de esforço. Eles conheceram o Senhor porque dois cristãos abriram uma frente missionária numa área carente, recrutaram outros cristãos para ajudá-los e trouxeram pessoas para reuniões aos domingos à tarde. Esse trabalho era, verdadeiramente, o resultado da prática do amor de Cristo.
Texto extraído e adaptado do livreto “Quebrando o silêncio”, de Herb Vander Lugt.