A recuperação da depressão é como uma ressurreição gradual dos mortos.

Jeff Olson

Nota ao leitor: Se você está tendo pensamentos de automutilação, procure ajuda imediatamente! Não se isole. Não tente lidar com isso sozinho. Procure alguém de confiança e conte a ele que o ajudará a evitar que esses pensamentos se manifestem e a abrir seus olhos para o que você tem dificuldade em enxergar em si mesmo: um caminho a seguir.

A depressão é tão complexa quanto comum. Sua origem pode ser uma doença física, traumas passados, escolhas pessoais malsucedidas ou esgotamento químico. Talvez nossa depressão esteja enraizada em nossas crenças arraigadas sobre quem somos, ou em nossa incapacidade de encontrar sentido na vida, ou até mesmo em opressão demoníaca.

Múltiplas causas sugerem a necessidade de múltiplos tratamentos. Embora medicamentos ou aconselhamento possam ser apropriados, a combinação de ambos pode frequentemente produzir melhores resultados do que o uso exclusivo de um ou outro. Nesses casos, fica evidente que há algo mais acontecendo do que apenas um problema médico.

Definição de depressão

Definir a depressão é difícil porque ela pode imitar outras experiências difíceis, mas saudáveis. Luto e depressão compartilham semelhanças, mas não são a mesma coisa. A depressão é um desvio do processo normal de luto. Quando sofremos, sentimos a tristeza da perda. Mas com a depressão, a tristeza da perda é anestesiada . Como Jesus nos ensinou, a bênção do conforto e da esperança aguarda a alma atribulada que chora (ver Mateus 5:4). A depressão é diferente, pois reforça um nível de desesperança que aprisiona nossas almas em um calabouço de tristeza.

Múltiplas causas sugerem a necessidade de múltiplos tratamentos. Embora medicamentos ou aconselhamento possam ser apropriados, a combinação de ambos pode frequentemente produzir melhores resultados do que o uso exclusivo de um ou outro.

Depressão também é difícil de definir porque o termo é usado de forma bastante ampla. Um amigo me disse que estava se sentindo “deprimido” porque teve que cancelar umas férias em família. Não há dúvida de que ele sentiu uma sensação de tristeza. Sua experiência, no entanto, não é a mesma que a de depressão.

Então, o que é depressão? Podemos entender a depressão como um estado de humor perturbado que consiste em distúrbios nos níveis de energia, sono, apetite e capacidade de concentração. Quanto mais esses distúrbios interferem na capacidade de uma pessoa de descansar, comer, trabalhar, pensar e realizar atividades normais, maior a gravidade da depressão.

A depressão pode se manifestar como uma perda sutil de energia e entusiasmo, como uma febre baixa e persistente. Ainda conseguimos funcionar, mas estamos distantes e apenas cumprindo a rotina. Ou pode ter uma apresentação mais óbvia, como uma febre alta que impossibilita a realização de rotinas ou responsabilidades normais.

Em casos graves, perdemos a capacidade de raciocinar e refletir à medida que distúrbios físicos e emocionais se instalam. Torna-se quase impossível pensar nas causas básicas. Nesse ponto, a estabilidade emocional e física só pode ser restabelecida por meio do envolvimento sábio e atencioso de outras pessoas, de uma dieta saudável e/ou de medicamentos.

Os Sinais

Pessoas que lutam contra a depressão geralmente apresentam diversos sintomas perturbadores e, às vezes, incapacitantes. Podemos ser alertados para um problema de depressão considerando as seguintes afirmações:

• Sinto-me triste ou entorpecido quase todos os dias.
• Sinto pouca ou nenhuma motivação.
• Perdi o interesse em atividades que costumava achar prazerosas.
• Estou com dificuldade para dormir.
• Estou dormindo demais.
• Perdi o apetite.
• Estou comendo demais quase todos os dias.
• Eu me isolo e me afasto das pessoas por vários dias.
• Não consigo parar de chorar.
• Sinto-me cansado a maior parte do tempo.
• Acho difícil me concentrar ou manter o foco.
• Meu interesse pela intimidade conjugal diminuiu.
• Muitas vezes me sinto sobrecarregado pelos fardos da vida.
• Estou envolvido em um comportamento prejudicial à saúde que não consigo parar.
• Penso na morte ou em me matar.

Se você se identifica com cinco ou mais dessas afirmações e pelo menos uma das três primeiras, procure ajuda profissional. Você pode estar sofrendo de depressão grave.

Aqueles que se identificam com duas a quatro dessas afirmações devem, no mínimo, considerar consultar um médico para um check-up completo. Às vezes, esses sintomas podem indicar uma condição médica como hipotireoidismo, hipoglicemia ou doença de Cushing.

Vendo a luz na escuridão

A recuperação da depressão é como uma ressurreição gradual dos mortos. A boa notícia é que o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus da sepultura está ativamente empenhado em trazer os mortos de volta à vida.

Mas o Criador do céu e da terra não opera em nossas vidas à distância. Ele não está espiando além dos limites do céu, trabalhando para reavivar e renovar aqueles que perderam o ânimo em uma galáxia muito, muito distante. A Bíblia conta a história de um Deus amoroso que anseia habitar com aqueles que se voltam para Ele por meio do Espírito de Seu Filho — Jesus Cristo (Gálatas 4:6). Ela revela um “Deus de esperança” que anseia por “enchê-los de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo” (Romanos 15:13).

[O] mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus do túmulo está ativamente empenhado em trazer os mortos de volta à vida.

Aquele que está conosco e anseia por operar em nós é o Espírito da verdade (João 14:16-17). Portanto, é no reino da verdade que Ele traz renovação e esperança aos nossos corações. Esse processo de recuperação se baseia nos alicerces do relacionamento e da aceitação da verdade, por mais dolorosa que seja. A dor não é inimiga; é um sinal de que a vida e os sentimentos estão retornando aos nossos corações entorpecidos. Somente quando começarmos a nos envolver com a verdade no relacionamento com Deus e com os outros, seremos capazes de recuperar a esperança em meio ao desespero, a fé em meio à dúvida e a alegria ao nos lembrarmos de participar da história de Deus.

Recupere a esperança enfrentando o desespero

A princípio, pode parecer cruel convidar pessoas em dificuldades a se entregarem ao desespero. Mas o que frequentemente ignoramos são os paradoxos presentes nas questões da alma. Como no parto, o que pode parecer a agonia da morte, na verdade, produz vida. Enfrentar o desespero afrouxará as garras da depressão.

Quando enfrentamos o nosso desespero, não estamos nos entregando à autopiedade. Não estamos jogando sal em uma ferida aberta. Em vez disso, estamos nos permitindo um grito honesto e sincero da alma, que reconhece a nossa agonia e o peso da nossa situação.

Considere a agonia que Jesus sentiu na noite anterior à Sua crucificação: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Ficai aqui e vigiai comigo” (Mateus 26:38). Então, Ele prostrou-se com o rosto em terra e clamou em oração: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice” (Mateus 26:39). Jesus não minimizou a Sua situação, nem enfrentou o Seu desespero sozinho. Ele compartilhou a angústia do Seu coração com alguns amigos próximos e com o Seu Pai Celestial. Embora carreguemos parte do fardo do desespero sozinhos, é sempre melhor compartilhar o máximo que pudermos com aqueles que se importam.

Reconhecer a perda

A perda costuma estar no cerne da depressão, especialmente quando é irreparável. Enfrentar a perda inicia o processo de luto para que Deus e os outros possam se aproximar e nos confortar com sua preocupação e presença. Quando nos permitimos sentir a dor da perda em vez de amortecê-la, promovemos a cura e interrompemos a tentação de anestesiar a dor culpando a nós mesmos ou aos outros.

Mesmo quando nos abrimos para Deus e para os outros, aceitar o sofrimento do desespero pode virar o nosso mundo de cabeça para baixo. Por um tempo, a cura parece pior do que a doença. Não é. Se persistirmos e fizermos o árduo trabalho de nomear e lamentar a perda, daremos os primeiros passos importantes no caminho para sair da depressão. Por meio da perseverança, não apenas descobrimos que podemos aceitar a nossa perda sem que ela nos sobrecarregue completamente, mas também descobrimos lentamente a verdade das palavras de Paulo aos seguidores romanos de Jesus: “Sabemos que o sofrimento produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Romanos 5:3-5).

Quando nos permitimos sentir a dor da perda em vez de amortecê-la, promovemos a cura e interrompemos a tentação de anestesiar a dor culpando a nós mesmos ou aos outros.

Admita o fracasso das esperanças equivocadas

No contexto do desespero, é possível perceber que temos depositado nossas esperanças naquilo que não pode nos satisfazer. A esperança naquilo que nos satisfaz pode se aprofundar à medida que nos permitimos admitir que não podemos mais viver pelo que vivemos.

Por exemplo, a mulher que normalmente fica deprimida após ser abandonada por outro homem pode começar a refletir sobre o que realmente está vivendo. Ela pode reconhecer que suas tentativas de conquistar o amor de um homem resolvendo seus problemas não estão funcionando. Quando o homem não muda, ela fica com raiva, confusa e com o que mais temia: sozinha. À medida que começa a sentir o desespero de ser decepcionada por suas falsas esperanças (“Preciso de um homem para ficar bem”), o cenário está pronto para que ela comece a explorar seu futuro de uma nova maneira — uma que pode ou não incluir um possível marido. Em vez de desistir e cair em mais uma fase de depressão, ela pode começar a vislumbrar uma nova vida e fazer escolhas de relacionamento baseadas na liberdade e na esperança.

Algumas etapas práticas

• Como mencionado anteriormente, praticar exercícios regularmente é algo que a maioria das pessoas que lutam contra a depressão consegue fazer. É importante começar devagar, manter a diversão e, gradualmente, evoluir para a modalidade que você escolher. Décadas de pesquisa indicam que a prática regular de exercícios reduz os sintomas da depressão. A prática regular de exercícios aumenta e mantém os níveis de energia e aumenta nossa capacidade de concentração.
• Manter uma dieta equilibrada e nutritiva é tão importante quanto praticar exercícios. Os padrões de sono e os níveis de energia se estabilizam quando comemos de forma sensata. Pesquisadores estão apenas começando a entender o quanto a dieta afeta a forma como pensamos e sentimos. Quem sofre de depressão deve consultar um especialista em nutrição e se informar sobre o assunto para descobrir qual tipo de dieta é mais adequado para si.
• Escrever um diário é uma maneira poderosa de potencializar o processo de recuperação. Ajuda-nos a lembrar até dos menores momentos de esperança. Isso pode evitar que caiamos na armadilha do encerramento prematuro em questões nas quais insights significativos poderiam ser facilmente esquecidos.

O processo de recuperar a esperança através do desespero deve ser tomado como um referencial e não como um projeto seguido rigidamente. As questões profundas da vida não são tão simples ou fáceis. O processo é, na verdade, um modo de vida em desenvolvimento que aprendemos gradualmente com a ajuda do Espírito de Deus. Ele não elimina a dor ou o medo, nem garante que nossas circunstâncias melhorarão. Somente o novo céu e a nova terra, o tempo em que o Reino de Deus chega plenamente, nos oferecem essas opções (Apocalipse 21:1-5). No entanto, ele nos proporciona a oportunidade de dedicar nossas vidas a promover experiências significativas da presença e do governo curador de Deus no mundo ao nosso redor. Muitas vezes, é um processo peculiar que piora antes de melhorar. Mas a promessa é que aqueles que aprendem a depositar sua esperança em Deus “renovarão as suas forças e voarão como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão” (Isaías 40:31).

Este artigo foi extraído de ”  Quando a Esperança se Perde: Lidando com a Depressão” , um recurso da série Discovery do Ministério Pão Diário. Clique no link ou no banner abaixo para baixar o recurso completo ou solicitar várias cópias gratuitas do livreto.