DOMÍNIO PRÓPRIO OU FORÇA DE VONTADE?
Quando escolhi esse tema, mal sabia eu que meu coração seria lapidado por Deus exatamente nesse assunto. Acredito que muitos cristãos já ouviram falar sobre o fruto do Espírito (GÁLATAS 5:22-23), e na maioria das vezes, podemos até citar as nove virtudes que o compõem de cor, mas será que realmente sabemos aplicar tais virtudes em nossa vida? O domínio próprio é muitas vezes interpretado como força de vontade para fazer algo, autocontrole para saber reagir às situações. E se eu disser que domínio próprio e força de vontade são duas coisas totalmente diferentes?
É sobre as diferenças entre domínio próprio e força de vontade que conversaremos a seguir.
ONDE ENCONTRAR NA BÍBLIA?
2 PEDRO 1:3-9
Deus, com seu poder divino, nos concede tudo de que necessitamos para uma vida de devoção, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para si por meio de sua glória e excelência. E, por causa de sua glória e excelência, ele nos deu grandes e preciosas promessas. São elas que permitem a vocês participar da natureza divina e escapar da corrupção do mundo causada pelos desejos humanos. Diante de tudo isso, esforcem-se ao máximo para corresponder a essas promessas. Acrescentem à fé a excelência moral; à excelência moral o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a devoção a Deus; à devoção a Deus a fraternidade; e à fraternidade o amor. Quanto mais crescerem nessas coisas, mais produtivos e úteis serão no conhecimento completo de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas aqueles que não se desenvolvem desse modo são praticamente cegos, vendo apenas o que está perto, e se esquecem de que foram purificados de seus antigos pecados.
PROVÉRBIOS 25:28
Quem não tem domínio próprio é como uma cidade sem muros.
FALANDO SOBRE O ASSUNTO
Pensemos na diferença entre domínio próprio e força de vontade. Como a própria expressão sugere, a força de vontade baseia-se totalmente na própria força de vontade, no próprio eu, o quanto de força eu tenho, o quanto eu consigo lutar, o quanto eu consigo me defender e defender as minhas próprias causas e interesses.
Por outro lado, o domínio próprio é baseado na temperança. A palavra traduzida como domínio próprio, ἐγκράτεια (egkrateia), no original grego significa autocontrole, continência, conhecimento profundo, maestria, virtude daquele que consegue controlar seus desejos. Este controle só pode ser exercido por meio do Espírito Santo.
Um dos maiores exemplos de domínio próprio encontrado na Bíblia é o de Jó. Sem dúvida alguma, houve momentos em que Jó apresentou sua defesa aos amigos que o acusavam, sua indignação por não encontrar motivos para seu sofrimento e, provavelmente, sentiu raiva por tudo de ruim que acontecera com ele e com aqueles a quem ele tanto amava. Como não se revoltar contra Deus diante de tudo pelo qual passava? Como não se vingar? Como não lutar com a própria força enquanto pudesse? Tenho plena convicção de que a temperança por ele demonstrada foi possível somente por meio de sua rendição à vontade Deus, em outras palavras, com a ajuda do Espírito Santo. Jó declarou: “Se vou para o leste, lá ele não está; sigo para o oeste, mas não consigo encontrá-lo. Não o vejo no norte, pois está escondido; quando olho para o sul, ele está oculto. E, no entanto, ele sabe aonde vou; quando ele me provar, sairei puro como o ouro. Pois permaneci nos caminhos de Deus; segui seus passos e nunca me desviei” (JÓ 23:8-11).
Acredito que passar por provações seja um dos nossos maiores desafios como cristãos. Muitas vezes, queremos vencer nossas próprias lutas por nós mesmos, pela força do nosso braço. A intenção do nosso coração até parece boa, mas o que realmente estamos dizendo é: “Deus, pode deixar que eu sou autossuficiente e vou resolver isso sozinho”, ou então dizemos: “Deus acredito no Seu poder e no Seu agir, mas quanto a essa situação penso que eu sou forte o bastante e consigo lidar com ela do meu jeito sem precisar da Sua ajuda”. Certamente precisamos lutar nossas batalhas, mas não separados do Espírito Santo, pelo contrário, necessitamos que Ele esteja junto conosco, orientando cada passo nosso.
Ao rendermos a nossa força de vontade, o nosso eu ao Senhor, experimentaremos, com certeza, o Seu agir em nós. Somente em submissão ao Espírito de Deus, Ele produzirá o Seu fruto em nós e nos tornará capazes de exercer o domínio próprio diante das situações que, dia a dia, nos desafiam a agir por nós mesmos e a nos revoltarmos contra o Senhor. Lembremo-nos de que o Espírito Santo nos ajuda em nossas fraquezas e de que Deus é por nós, não contra nós (ROMANOS 8:26-32). Que possamos dizer de nossa vida, assim como disse Jó: “…[Tu sabes] aonde vou; quando [Tu] me provar, sairei puro como o ouro. Pois permaneci nos [Teus] caminhos […]; segui [Teus] passos e nunca me desviei’’ (JÓ 23:10-11).
QUESTÕES PARA DEBATE
1-Há áreas em que você tem tentado vencer em sua própria força? Como você lidará com elas daqui para frente?
2- A sociedade diz: “Não se desculpe pelas suas ações e emoções, viva-as intensamente, seja fiel às suas próprias vontades e defenda suas causas”; como viver o evangelho e demonstrar domínio próprio, mesmo em meio a tentações e desafios?
3- Como exercer o domínio próprio no falar, no pensar e no agir com as pessoas ao seu redor, em situações em que nos sentimos injustiçados?
ORAÇÃO
Deus, arrependo-me por muitas vezes tentar vencer minhas batalhas na minha própria força. Reconheço que não consigo exercer o domínio próprio sem o Teu Espírito. Preciso do Teu poder agindo em mim para me conduzir a uma vida de excelência e de submissão à Tua vontade. Capacita-me a ser uma nova criatura e ter minhas emoções controladas pelo Teu Espírito, para que eu não fira a mim ou os outros nem entristeça o Teu coração. Faz tudo novo em mim! Em nome de Jesus. Amém!
Ana Julia Vieira
Teologia — Portland Bible College Questões para debate