Mais que um devocional.

Como ler a Bíblia? — Sermões de Spurgeon

“Até à minha chegada, aplica-te à leitura.”

1 Timóteo 4.13

 

É claro que esse conselho e exortação tem como objetivo primário uma orientação a ministros cristãos e, especialmente, ministros cristãos jovens. Eles devem ler muito para serem proveitosos a outros como pregadores. Em alguns setores da igreja, costumava haver uma presunção muito estúpida de que, se um ministro lesse extensivamente, só expressaria verdades obsoletas, ou o que alguns simplórios denominavam “mente de homens mortos”. Agora, porém, os homens aprenderam que será o mais atualizado e original em seus próprios pensamentos aquele que mais diligentemente cultivar a sua mente estudando e ponderando os pensamentos de outras mentes. Aquele que nunca cita, nunca será citado, e quem não lê não tem muita probabilidade de ser lido. É claro que a primeira coisa de que o ministro necessita é ser ensinado pelo Espírito, mas, então, a questão é — Como o Espírito ensina? Ele ensina, sem dúvida, principalmente por intermédio da palavra e do nosso conhecimento experiencial com essa palavra. 

 

Porém, se Ele se agradar em revelar a verdade de Deus a outro homem, e eu não me dispuser a ler essa verdade tal qual foi registrada por esse outro homem, negligenciei o ensinamento do Espírito de Deus. No tocante aos milagres do Salvador, vocês sabem que nenhum deles foi desnecessário. Ele nunca fez por milagre algo que poderia ter sido realizado pelas leis comuns da natureza. Assim ocorre com o ensinamento do Espírito — eu não tenho direito de esperar que o Espírito me revele a verdade sem o uso de um livro quando eu mesmo puder descobri-la com o livro. “O Espírito nos ajuda em nossa fraqueza”, mas não em nossa ociosidade! Ele nos é dado com o propósito de poder nos ajudar quando estamos fracos, mas não para que possamos ser perdoados naquilo em que somos preguiçosos. Às vezes, tive o indescritível sofrimento de ouvir um sermão declarado como inspirado pelo Espírito de Deus, mas no qual ficou claro que o pregador nunca havia pensado sobre o tema antes de falar — e só posso dizer que não consegui perceber qualquer beleza peculiar no sermão, nem vi coisa alguma que o tornasse uma fonte de edificação superior a um sermão preparado por outra pessoa. Pensei ter detectado muitos traços de ignorância humana — e pouquíssimos vestígios da ação do Espírito Santo.

 

Temos aqui, nesta noite, muitos jovens que estão se preparando para o ministério. Porém, não me estenderei nesse assunto, apenas implorarei que se dediquem à mais fervorosa consideração e à mais devotada meditação. Esta exortação inspirada, que não é minha, nem mesmo somente a de um apóstolo, e sim a exortação do Espírito Santo de Deus por intermédio do apóstolo — “dedique-se à leitura”. Se, irmãos, vocês quiserem abençoar a Igreja do Senhor e preparar uma equipe de cristãos realmente inteligentes, não apelem sempre apenas às emoções, mas também professem uma boa, sadia e forte doutrina evangélica — e ilustrem essa doutrina, de modo a expor e comentar aos outros. Façam isso especialmente lendo as palavras dos maiores mestres em teologia das Escrituras — e estes provarão ser seus companheiros queridos e encantadores e seus esplêndidos ajudadores, em tornar o seu ministério ricamente proveitoso aos seus ouvintes.

 

Este, porém, não é o nosso tema especial para esta noite. Esta mesma exortação tão peculiarmente adequada ao ministro também atenderá a todos os seus ouvintes, porque o ministério não é uma casta religiosa peculiar a alguns poucos, mas todos nós deveremos ensinar aos outros conforme Deus nos ensinar! E, para que possamos ser úteis em nossa esfera, como o ministro é na dele, precisamos adotar o mesmo meio para nos adequarmos ao nosso alto privilégio e para nos prepararmos para sermos usados por Deus. Assim como o ministro sem leitura terá pouco poder, o mesmo acontecerá com os cristãos em geral. “Dedique-se à leitura” é uma exortação que eu faria à maioria de vocês, especialmente aqueles que têm lazer e não são chamados a trabalhos exaustivos que ocupam todo o seu tempo.

 

Entretanto, não me aterei tanto ao meu texto a ponto de meramente exortá-los a ler. Quero pedir-lhes que leiam a Palavra de Deus! Esse me parece ser o livro do cristão. Vocês poderão ler outros livros e sua mente poderá estar bem mobiliada com coisas espirituais, mas, se vocês se ativerem à Palavra de Deus, embora possam ser deficientes em muitos pontos de uma educação liberal, não serão deficientes na educação que os adequará ao serviço abençoado aqui, para o serviço dos Céus, para a comunhão com Deus na Terra e a comunhão com Cristo na glória!

 

Meu objetivo esta noite é dizer algumas coisas sobre como ler a Bíblia. Na noite da quinta-feira passada, falamos longamente sobre as excelências da Palavra de Deus. Esta noite, penso ser apropriado falarmos um pouco sobre como ler essa Palavra com o maior proveito para a nossa alma. Ao fazê-lo, esperaremos considerar sete preceitos que levam poderosamente a esse importante assunto. Nosso primeiro preceito será —

 

1. LER E DEPENDER do Espírito de Deus. 

Com que frequência abrimos o Livro Sagrado e lemos um capítulo inteiro, talvez na oração familiar, ou talvez em nossas próprias devoções particulares e, tendo lido do primeiro versículo até o último, fechamos o livro pensando ter feito algo muito certo e muito apropriado — e, de uma maneira vaga, de alguma maneira proveitoso para nós? Muito correto e muito apropriado, de fato, mas, por mais correto e apropriado que seja, podemos realmente nada ter ganhado com isso! Poderemos, de fato, ter apenas nos esforçado na parte meramente externa da religião e não ter usufruído de coisa alguma espiritual, ou de algo que possa ser benéfico à nossa alma, se tivermos esquecido o espírito divino por intermédio do qual a Palavra veio até nós!

Não devemos sequer nos lembrar de que, para entender corretamente a Santa Palavra, precisamos que o Espírito Santo seja o Seu próprio expositor? Acerca da providência, o hino diz —

 

Deus é Seu próprio intérprete

E ele deixará claro

 

e, certamente, é assim no tocante às Escrituras! Comentadores e expositores são muito úteis, de fato, mas o melhor expositor é sempre o próprio autor de um livro. Se eu tivesse um livro que não compreendesse bem, seria uma grande conveniência eu ser vizinho do autor, porque então poderia correr até sua casa e perguntar-lhe o que ele quis dizer. Essa é exatamente a sua posição, cristão! Às vezes, o livro lhes deixará intrigado, mas o Autor divino, que deve conhecer o Seu próprio significado, está sempre pronto a levá-los ao sentido do livro! Ele habita em vocês e estará com vocês, e Cristo Jesus afirmou: “Quando vier o Espírito da verdade, ele os conduzirá a toda a verdade”.

 

Porém, entender a Palavra não é suficiente. Nós também precisamos que Ele nos faça sentir o poder dela. Como podemos fazer isso, se não por intermédio do Espírito Santo? “Tua promessa renova minhas forças”, ó Deus, mas só porque tu renovaste as minhas forças por meio da Tua palavra. A Palavra de Deus deve ser lida literalmente, mas a “lei escrita termina em morte”. Somente “o Espírito dá vida” e, por mais excelentes que sejam as suas afirmações, nem mesmo elas têm poder espiritual em si mesmas! A menos que o Espírito Santo as preencha, até mesmo elas se tornarão como poços sem água e como nuvens sem chuva. Vocês mesmos não perceberam que frequentemente é assim? Apelo agora à sua própria experiência. Às vezes, vocês leram uma parte das Escrituras e a página pareceu reluzir, seu coração ardeu em seu interior e vocês disseram que a Palavra lhes veio com poder.

 

Simples assim, mas era o Espírito Santo quem a estava levando ao seu espírito, em seu verdadeiro poder, e tornando-a para você, um sabor agradável de vida para vida! Em outras ocasiões, você pode ter lido a mesma página e, dolorosamente, não sentido a doçura que já havia provado — e perdido a adorável luz que antes brilhou dela aos olhos da sua mente!

 

Tudo precisa depender do Espírito falando através daquilo, porque até mesmo a luz da Palavra de Deus é, em grande parte, apenas a luz da lua. Ou seja, ela é um reflexo da luz que emana do próprio Deus, que é a única verdadeira fonte de luz. Se Deus não resplandecer sobre a palavra quando a lemos, esta não refletirá o resplendor sobre nós, tornando-se uma palavra obscura, ou como se diz, “uma obscuridade em vez de uma revelação, escondendo Deus de nós em vez de revelá-lo a nós”. Olhe para cima, leitor! Na próxima vez em que o Livro estiver em suas mãos, olhe para cima antes de abri-lo — e, enquanto seus olhos estiverem percorrendo a página, olhe para cima e ore para que Deus resplandeça sobre ela! E, quando terminar o capítulo e você puser o Livro de lado, dedique um minuto, novamente, a olhar para cima e pedir a Sua bênção. Quem dera, ao ler as Escrituras, sempre nos lembrássemos do Espírito Santo. Se da própria Escritura não obtivéssemos qualquer outro bem além de fazer nossa alma pensar sobre Aquele que é divino e bendito, só isso já seria uma bênção inestimável! Então, leiam lembrando-se do grande Autor.

 

Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon

A Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon é inédita no mundo! Quando a idealizamos não imaginávamos o desafio que teríamos pela frente. Não foi tarefa fácil selecionar textos entre os mais de 3.000 excelentes sermões de Charles Haddon Spurgeon (1834–92). Traduzi-los de forma a respeitar o estilo do autor e a comunicar claramente com o leitor brasileiro exigiu sensibilidade. Desta forma, essa Bíblia mencionará eventos contemporâneos a Spurgeon e as tecnologias disponíveis em sua época. Apesar de terem sido escritos há mais de um século, as exortações e as consolações conservam uma atualidade impressionante.

Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon​

A Bíblia de estudos e sermões de Charles Haddon Spurgeon é inédita no mundo! Quando a idealizamos não imaginávamos o desafio que teríamos pela frente. Não foi tarefa fácil selecionar textos entre os mais de 3.000 excelentes sermões de Charles Haddon Spurgeon (1834–92). Traduzi-los de forma a respeitar o estilo do autor e a comunicar claramente com o leitor brasileiro exigiu sensibilidade. Desta forma, essa Bíblia mencionará eventos contemporâneos a Spurgeon e as tecnologias disponíveis em sua época. Apesar de terem sido escritos há mais de um século, as exortações e as consolações conservam uma atualidade impressionante.

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