Jó 31 Por fim, Jó falou e amaldiçoou o dia de seu nascimento.
2 Disse ele:
3 “Apagado seja o dia em que nasci e a noite em que fui concebido.
4 Transforme-se esse dia em escuridão; Deus, lá do alto, o ignore, e luz nenhuma brilhe sobre ele.
5 Domine esse dia a escuridão absoluta; uma nuvem negra o cubra, e densa escuridão o encha de terror.
6 Apodere-se dessa noite a escuridão; nunca mais seja contada entre os dias do ano, nunca mais seja incluída entre os meses.
7 Sim, estéril seja essa noite, desprovida de toda a alegria.
8 Amaldiçoem esse dia os que vivem a amaldiçoar, aqueles que podem despertar o Leviatã.
9 Escureçam-se suas estrelas matutinas; espere o dia pela luz, mas em vão, e jamais veja a luz do amanhecer.
10 Amaldiçoado seja esse dia por não fechar o ventre de minha mãe, por permitir que eu nascesse, para presenciar todo este sofrimento.
11 “Por que eu não nasci morto? Por que não morri ao sair do ventre?
12 Por que me deitaram no colo de minha mãe? Por que ela me amamentou no seio?
13 Se eu tivesse morrido ao nascer, agora estaria em paz; sim, dormiria e repousaria.
14 Descansaria com os reis da terra e seus conselheiros, cujos edifícios agora estão em ruínas.
15 Descansaria com os príncipes, ricos em ouro, cujos palácios eram cheios de prata.
16 Por que não me sepultaram como uma criança que nasceu morta, como um bebê que nunca viu a luz?
17 Pois na morte os perversos já não causam problemas, e os cansados repousam.
18 Até mesmo os cativos encontram sossego nela, onde não há capatazes para ameaçá-los.
19 Os ricos e os pobres estão ali, e o escravo se vê livre de seu senhor.
20 “Por que conceder luz aos miseráveis e vida aos amargurados?
21 Anseiam pela morte, e ela não vem; cavam à procura dela mais que de tesouros ocultos.
22 Enchem-se de alegria quando enfim morrem e exultam quando chegam ao túmulo.
23 Por que conceder luz aos que não têm futuro, aos que Deus cercou de todos os lados?
24 De tanto gemer, não consigo comer; meus gritos de dor se derramam como água.
25 O que sempre temi veio sobre mim, o que tanto receava me aconteceu.
26 Não tenho paz, nem sossego; não tenho descanso, só aflição”.
Jó 41 Então Elifaz, de Temã, respondeu a Jó:
2 “Você terá paciência e me permitirá dizer algo? Afinal, quem poderia permanecer calado?
3 Você já deu ânimo a muita gente e deu força aos fracos.
4 Suas palavras sustentaram os que tropeçavam, e você deu apoio aos vacilantes.
5 Mas agora, quando vem a aflição, você desanima; quando é atingido por ela, entra em pânico.
6 Seu temor a Deus não lhe dá confiança? Sua vida íntegra não lhe traz esperança?
7 “Pense bem! Acaso os inocentes morrem? Quando os justos foram destruídos?
8 Pelo que tenho observado, os que cultivam a maldade e semeiam a opressão, isso também é o que colhem.
9 Um sopro de Deus os destrói; desaparecem com uma rajada de sua ira.
10 O leão ruge e seu filhote rosna, mas os dentes dos leões jovens são quebrados.
11 O leão feroz morre de fome porque não há presa, e os filhotes da leoa se dispersam.
12 “Esta verdade me foi revelada em segredo, como que sussurrada em meu ouvido.
13 Ela veio à noite, numa visão perturbadora, quando todos estão em sono profundo.
14 O medo e o terror se apoderaram de mim e fizeram estremecer meus ossos.
15 Um espírito passou diante de meu rosto, e os pelos de meu corpo se arrepiaram.
16 O espírito parou, mas não pude ver sua forma; um vulto estava diante de meus olhos. No silêncio, ouvi uma voz dizer:
17 ‘Pode algum mortal ser inocente perante Deus? Pode o homem ser puro diante do Criador?’.
18 “Se Deus não confia nos próprios anjos e acusa seus mensageiros de insensatez,
19 quanto menos confiará em pessoas feitas de barro! Vêm do pó e são facilmente destruídas, como traças.
20 Estão vivas pela manhã e mortas ao entardecer; desaparecem para sempre, sem deixar vestígio.
21 As cordas de sua tenda são arrancadas e a tenda desaba, e na ignorância morrem.”