Por um lado, Amós tinha convicção de que Deus o chamara para cumprir uma tarefa e qual era o recado que ele deveria entregar. Por outro lado, ele começa a perceber que aquele povo não queria ouvir a mensagem de Deus. Estava muito claro o que ele tinha que falar, todavia, quando ele enfrenta a realidade de entregar a mensagem, aparece alguém importante, que diz que ele deveria calar a sua boca e ir embora de volta para o seu vilarejo. O povo, certamente, não estava disposto a ouvir o que o profeta tinha para lhes dizer.
Será que isso difere muito dos nossos dias? Eventualmente, sou convidado para pregar em lugares diferentes e acabo entrando em algumas “boas frias”. Já aconteceu, por exemplo, de eu chegar em um lugar onde o programa musical costuma demorar uma hora e meia, e só depois passam a palavra ao pregador. No momento de pregar, foi fácil perceber que as pessoas estavam muito mais interessados na música, no show e em expressar seus sentimentos, do que em ouvir a Palavra de Deus. Guardadas as devidas proporções, o povo de Israel estava na mesma condição e não queria ouvir o que Deus tinha para lhes falar através do profeta. Por causa disso, a convicção de Amós começou a crescer a respeito do desinteresse, ou da adversidade, do povo quanto a ouvir a Palavra de Deus.
Veja o que ele diz no seguinte versículo: “Mas o Senhor lhe diz: Sua mulher se tornará uma prostituta na cidade, e os seus filhos e as suas filhas morrerão à espada. Suas terras serão loteadas, e você mesmo morrerá numa terra pagã. E Israel certamente irá para o exílio, para longe da sua terra natal” (7:17). Entenda aqui que esse homem era um profeta e, portanto, tinha uma visão e uma percepção muito claras do que estava para acontecer. Então, o que ele falava não era apenas uma mensagem; era a mensagem. Não é como muitos, hoje, que ousam dizer: “Assim diz o Senhor”, e dão o que eu chamaria de “profetadas”. Isto é, não transmitem o recado de Deus e sim o que eles próprios gostariam que fosse o recado divino.
Amós não repassou essa pesada mensagem para Amazias porque ele estava amargurado, ou como uma espécie de retaliação barata por causa da rejeição que sofreu. Ele o fez pois tinha a clara percepção, a revelação do que Deus faria. Assim, quando percebeu que o seu povo não estava disposto a ouvir, ele também começou a lhes ensinar que não adiantava serem indiferentes ao que Deus falava. A atitude deles para com a palavra do Senhor encontraria outra atitude da parte de Deus para com eles. Eles poderiam não querer ouvir, mas é sempre Deus quem dá a última palavra: “Estão chegando os dias, declara o Senhor, o Soberano, em que enviarei fome a toda esta terra; não fome de comida nem sede de água, mas fome e sede de ouvir as palavras do Senhor. Os homens vaguearão de um mar a outro, do Norte ao Oriente, buscando a palavra do Senhor, mas não a encontrarão. Naquele dia as jovens belas e os rapazes fortes desmaiarão de sede” (8:11-13). Chegaria a hora em que eles desejariam ouvir a voz de Deus, mas Ele não falaria. Eles teriam fome e sede da Palavra, porém, não a encontrariam.
Não é somente no Antigo Testamento que aparece esse conceito. No Novo Testamento, vemos ele muito bem colocado e esclarecido. Por exemplo, quando o Senhor Jesus envia os Seus apóstolos para pregar, Ele diz: “Se alguém não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés” (Mt 10:14 ARA). A ideia aqui é que, após cumprirem a parte de anunciar a Palavra, quem ouviu é que responderá por sua própria atitude. Jesus também fala acerca de alguém que é indiferente à Palavra: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem” (Mt 7:6 ARA). Há uma hora em que se deve parar de entregar a mensagem por causa da atitude do povo!
Esse é um princípio que foi muito bem estabelecido pelo Senhor Jesus. Em Marcos 4:24 lemos: “Então lhes disse: Atentai no que ouvis. Com a medida com que tiverdes medido vos medirão também, e ainda se vos acrescentará” (ARA). Vale lembrar que este versículo aparece no contexto da parábola do semeador, que está semeando a Palavra. Há vários tipos de solo que receberão a semente, isto é, a Palavra que é pregada. Então, é explicando a parábola que o Senhor estabelece esse conceito, dizendo: “Atentai no que ouvis. Com a medida com que tiverdes medido, vos medirão”. Um curioso detalhe é que, foram poucas as vezes em que o Senhor Jesus mandou Seus ouvintes prestarem atenção como diz aqui: “Atentai”. Em todo o Seu ministério que temos registrado, Ele falou apenas seis vezes “prestem atenção”, e, pasmem, quatro delas estão neste texto de Marcos. Jesus está falando de algo de alto peso e importância, que deve ser considerado, e ainda acrescenta: “com a medida que medirdes”, ou seja, com o valor que você dá ao que é ensinado. Quando você está num ambiente em que se ensinam as Escrituras, como em um culto ou uma escola bíblica, você, naturalmente, mede o que está ouvindo, dando maior ou menor valor àquela mensagem. Você pode entender que se trata do recado de Deus para você e, por isso, você ama essa Palavra, ou pode achar que aquilo não diz respeito a você, mas a outro tempo.
Amazias viveu no século 8 a.C. e teve a revelação dois anos antes do terremoto, que ocorreu em 760 a.C. Você pode pensar: o que é que essas palavras do profeta têm a ver comigo, depois de mais de 2.780 anos? Entenda que, mesmo depois de tanto tempo, esse princípio da administração divina ainda é válido. O maior ou menor valor que você dá à Palavra, com atenção ou indiferença, determina o próximo movimento de Deus. Não apenas isso, mas a sua atitude e resposta para com aquilo que Deus fala, também serão medidas por Ele. Você mede o valor que a Palavra tem para você, e Ele mede a sua atitude para com a Palavra dele.
Como consequência, no versículo seguinte, Jesus diz: “Quem tem se lhe dará; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”. Se, ao receber a Palavra de Deus, você der profundo valor à mesma, Ele vai lhe ensinar, revelar e instruir mais. No entanto, se você for indiferente a essa Palavra, o Senhor diz que até o que você tem hoje lhe será tirado. Lembre-se: você pode ter a sua reação, mas a última palavra é sempre de Deus. Portanto, a rejeição, a indiferença, ou até o pouco caso, estão sendo pesados quando o Senhor fala, e Ele reagirá a tudo isso. Você pode querer brincar com Deus, demonstrando indiferença, mas saiba que Ele é Deus, e isso trará suas consequências.