Mais que um devocional.

Dentre os Profetas Menores, Naum é aquele no qual mais se faz necessário um conhecimento histórico do livro. Vamos, portanto, analisar o seu contexto e relacioná-lo a fatos, lugares e outros profetas. A Assíria, com sua capital Nínive, participou da história de Israel e Judá de forma muito presente nos séculos 9 a.C. e 8 a.C. Ao longo do tempo, a expansão do Império Assírio chegou até Israel e Judá e estes, por sua vez, sofreram em sua mão. Uma das primeiras coisas que eu escolho fazer quando viajo é visitar museus. Se isso também faz parte dos seus planos, quando for a Londres não deixe de contemplar o Obelisco Negro, no British Museum. O Obelisco Negro é uma obra que foi publicada na Assíria, em que cada lado conta algum aspecto da história, e cada quadrinho é uma parte da história deles. Em uma das faces do Obelisco Negro há um quadrinho que retrata o rei Jeú pagando tributo a Salmanezer III. A relação que existia entre Israel, e também Judá, está, de alguma maneira, relacionada constantemente. Quando Jonas profetizou a libertação de Israel do poder da Assíria, ele o fez em 760 a.C. Foi ele também que teve que ir a Nínive pregar contra aquela cidade e levar aquelas pessoas ao arrependimento. No entanto, o povo de Israel não fez por merecer a bênção de Deus, e sim a Sua disciplina. Por isso, no ano 722 a.C., o rei da Assíria conquistou o Reino do Norte, Israel, cuja capital era Samaria, e promoveu assentamentos do povo de Israel em outras regiões. Além disso, outros povos, de outras regiões, foram trazidos e assentados na terra de Israel. 

Em 729 a.C., a nação do Sul, Judá, teve um rei chamado Ezequias que estava promovendo um avivamento espiritual na nação. Nesta ocasião, o rei da Assíria, Senaqueribe, surgiu como uma ameaça para Judá e, em 701 a.C. acabou por invadi-la, e ocupar 46 cidades. Há um relato muito interessante nas Escrituras acerca de Rabsaqué, um enviado da parte do rei Senaqueribe para convencer o rei de Judá a se entregar. Rabsaqué para do lado de fora do muro de Jerusalém, que é até onde ele podia chegar, visto  que a cidade de Jerusalém não fora conquistada, e se dirige ao povo que estava em cima no muro falando em hebraico. A liderança judaica pede que ele fale em aramaico, porém, ele se nega dizendo que em hebraico todos poderiam entender o que estava acontecendo. Ele pretendia humilhar aquele povo e desprezar o Deus de Israel.

Há também um relato assírio do que aconteceu na relação da Assíria com Judá. Observe: “Quanto a Ezequias, o judaico, ele não se submeteu a meu jugo. Eu montei cerco em 46 de suas cidades fortificadas e em incontáveis pequenas aldeias; a tudo conquistei usando rampas de acesso que colocaram perto das muralhas […]. Eu expulsei 200.150 pessoas, jovens e velhos, homens e mulheres, cavalos, mulas, jumentos, camelos, gado grande e do pequeno, além da conta, e a tudo considerei como pilhagem de guerra. Ele mesmo eu o fiz prisioneiro em Jerusalém, na sua residência real, como um pássaro numa gaiola […] Suas cidades que eu saqueei, eu as tomei de seu país e as dei todas a Motinti, rei de Asdode, a  Padi, rei de Eglon, e a Sillibel, rei de Gaza. Dessa maneira, eu reduzi seu país, mas ainda aumentei meu tributo.” 

A ação da Assíria, expandindo suas fronteiras, chegou a Judá e cidades caíram, mas Jerusalém permaneceu em pé. Naturalmente, o rei Ezequias estava assustado e, como um homem temente a Deus que era, consultou o Senhor por intermédio do profeta Isaías. No livro de Reis, encontramos a palavra de Isaías para o rei Ezequias: “Isaías lhes disse: Dizei isto a vosso senhor: Assim diz o Senhor: Não temas por causa das palavras que ouviste, com as quais os servos do rei da Assíria blasfemaram de mim. Eis que meterei nele um espírito, e ele, ao ouvir certo rumor, voltará para a sua terra; e nela eu o farei cair morto à espada” (2Re 19:6-7 ARA). O profeta Isaías estava dizendo que ele não deveria se impressionar com as ameaças e declarações de Rabsaqué, sobre quão fácil seria entrar em Jerusalém. Ele podia ser um representante da Assíria, porém Deus estava contra ele e o faria “cair morto à espada”. Em 701 a.C., então, praticamente por um milagre de Deus, 185 mil soldados de Senaqueribe caíram mortos, e ele resolveu voltar para sua terra. Em 681 a.C, dois de seus filhos o mataram, cumprindo-se a profecia. É em 660 a.C., quando Jerusalém ainda não havia sido conquistada, que Naum entrega sua mensagem. Mensagem esta que, por um lado, é favorável a Judá e, por outro, desfavorável à Assíria. 

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