O Espírito de Deus nos orienta em uma aliança abençoada — Um ano com as mulheres da Bíblia
Quando nos voltamos para a breve carta de Paulo a Filemom, encontramos o casal Filemom e Áfia, que juntos abrigavam a igreja que se reunia em sua casa. A maioria dos estudiosos acredita que Filemom e Áfia eram marido e mulher e trabalhavam juntos como líderes da igreja em sua casa. No entanto, o texto não detalha esse fato.
Os cristãos têm lutado ao longo dos séculos com a importante questão sobre como os homens e as mulheres devem relacionar-se entre si na igreja e em casa. Deus criou a humanidade em dois modelos: macho e fêmea, homem e mulher. Ambos foram criados à imagem divina e ambos receberam a mesma ordem: encher a Terra e governá-la. Deus não disse à mulher para encher a Terra e depois disse ao homem para governá-la. Ele deu ambas as ordens para homem e mulher (Gn 1.26-28).
No entanto, muitas de nós fomos ensinadas que “governar” era apenas tarefa a ser efetuada pelo homem. Essa perspectiva vem de Gênesis 2, onde encontramos Deus criando a mulher e lhe dando um mandamento particular: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Farei alguém que o ajude e o complete”. Baseados nesse versículo, muitos cristãos têm ensinado que ao homem cabe a maior parte do governar, mas, em qualquer dificuldade em que ele necessitar ajuda, a mulher estará presente para estender-lhe a mão.
Perceba a tradução bíblica do texto: “Farei alguém que o ajude e o complete”. Algumas vezes a escolha de uma palavra numa tradução pode nos induzir ao erro. E nesse caso a palavra “que o ajude” é exatamente o caso. Em nosso pensamento do século 21, um auxiliador é um subordinado. Porém, quando olhamos para a palavra hebraica traduzida como “que o ajude”, precisamos reconsiderar esse conceito. Essa expressão é a tradução do termo hebraico ezer, uma palavra bastante comum no Antigo Testamento e que aparece 21 vezes. Em duas, refere-se a Eva (Gn 2.18,20). Três vezes se refere a fortes nações ou exércitos, a quem Israel apelou por ajuda quando ameaçado de extinção pela Assíria ou Babilônia (Is 30.3,5; Dn 11.34; Ez 12.14).
Em todas as demais 16 vezes, ezer refere-se a Deus, que é nosso “auxílio”. E nenhuma delas sugere que, por Deus ser nosso auxílio, Ele seja nosso subordinado. Deus não se sujeita as Suas criaturas. Quando Ele criou a mulher como a ezer do homem, Ele criou alguém que poderia trazer ajuda ao homem, que em si mesmo era incompleto. Alguns eruditos nos dizem que “que o ajude” expressa que a mulher é o auxílio/força que resgata ou salva o homem.
Esse era o plano de Deus no começo: juntos, homem e mulher, encheriam a Terra e a governariam. Ambos foram criados à imagem de Deus e encarregados de representar os propósitos divinos para Sua criação. Eles foram criados semelhantes o bastante para poderem trabalhar juntos e diferentes o suficiente para que precisassem das forças individuais um do outro.
Além desse fator bíblico, fisiologicamente o cérebro de homens e mulheres diferem de formas surpreendentes. Embora complexas, as diferenças (fisiológicas e funcionais) basicamente se resumem entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro e a consequente diferença nas formas que os cérebros masculino e feminino usam esses hemisférios.
O hemisfério esquerdo é o lado do cérebro ligado aos detalhes. É caracterizado por uma atenção estreitamente focada e prioriza a comunicação. Em contraste, o hemisfério direito traz o contexto mais amplo, a imagem geral, ou qualquer coisa que seja necessária para a flexibilidade do pensamento. Voltamo-nos ao hemisfério esquerdo quando precisamos de fórmulas para realizar coisas. Ao mesmo tempo, o cérebro esquerdo acha distrativa a imagem geral do hemisfério direito. Enquanto o hemisfério esquerdo toma a solução única que parece se encaixar melhor com o que já conhece, o hemisfério direito está sempre alerta para discrepâncias e em busca de soluções alternativas. De certa forma, os dois hemisférios estão em contradição um com o outro.
O hemisfério direito integra grupos maiores de dados e está constantemente buscando padrões nas coisas dentro de seu contexto. Em contrapartida, o hemisfério esquerdo separa as coisas de seu contexto. Em geral, a tendência do hemisfério esquerdo é classificar as coisas em grupos, ao passo que a do hemisfério direito é identificar as coisas individualmente. O hemisfério esquerdo tem afinidade com o que é mecânico e sua preocupação central é a utilidade. Por outro lado, o hemisfério direito tem afinidade com o que é orgânico (no sentido da matéria viva) e seu foco principal é social. Por estar aberto à interligação das coisas, ele tem importante papel em nossa habilidade de nos colocar no contexto de outra pessoa e sentir empatia por ela.
Quando os pesquisadores da Escola de Medicina Perelman (Universidade da Pensilvânia) examinaram os cérebros de mais de 400 homens e mais de 500 mulheres, descobriram diferenças consideráveis. Revelou-se que nos cérebros masculinos a conectividade neural se move da frente para trás em cada hemisfério; nos cérebros femininos há mais conectividade neural entre os dois hemisférios, o que significa que a ampla massa de fibras nervosas chamadas corpus callosum, que liga os dois hemisférios, é mais larga nos cérebros femininos.
Também se descobriu que a parte de trás do cérebro é onde percebemos as coisas, e a frontal é de onde extraímos o sentido do que percebemos, o que nos auxilia a determinar como agir. Desta forma, para qualquer tarefa (quer seja aprender a nadar ou como consertar um eletrodoméstico), se tivermos uma conectividade forte entre a parte frontal e a traseira, estaremos mais capacitadas a atingir o nosso objetivo. Ao mesmo tempo, se tivermos mais conexões entre os dois hemisférios, traremos uma imagem mais abrangente a uma tarefa detalhada de tal maneira que isso pode nos fornecer mais opções para solução. Os pesquisadores afirmam que, por as mulheres terem mais ligações entre os hemisférios, tendem a ser mais aptas à comunicação, análises e trazem mais intuição às suas tarefas. Resumindo, os cérebros femininos são fisiologicamente predispostos a resolver problemas em grupo. Consequentemente, as mulheres podem realizar várias tarefas simultaneamente, o que para os homens seria mais desafiador. Os homens tendem a ser melhores em apreender e em completar apenas uma tarefa por vez.
A maneira como homens e mulheres usam a linguagem também é influenciada por sua fisiologia cerebral. Enquanto os homens usam primariamente o hemisfério esquerdo do cérebro para o uso da linguagem, as mulheres usam ambos os hemisférios para o mesmo propósito. No geral, percebe-se que as mulheres pensam mais inclusivamente ou bilateralmente do que os homens. O cérebro masculino é fisiologicamente construído para pensar mais linearmente, e o feminino para pensar mais bilateralmente ou contextualmente.
Assim sendo, os homens precisam das perspectivas das mulheres e estas, por sua vez, precisam das deles. Deus os planejou para trabalharem juntos e para se complementarem um ao outro. Uma aliança abençoada torna homens e mulheres aliados, não adversários. E enquanto trabalhamos, lideramos e ministramos juntos, damos ao mundo uma visão mais clara e completa do Deus cuja imagem portamos.
Fomos criadas para trabalhar juntos. As mulheres, citadas em “que o ajude” não são meras espectadoras, chamadas ocasionalmente para prover uma assistência secundária para um homem. As mulheres são o ezer dos homens, seu auxílio, trazendo ao seu governo compartilhado o que o homem necessita, mas não pode fazer por si mesmo. Agindo juntos como a imagem de Deus, homens e mulheres trazem tanto a análise detalhada quanto a consciência do contexto mais amplo às suas tarefas. Deus nos criou de maneira a agruparmos essa particularidade de nossos dons a fim de abençoar outros por meio do ministério que foi dado a cada um.
Quando reconhecemos o que cada um traz para a mesa e o que cada um tem em falta que pode ser trazido pelo outro, começamos uma “aliança abençoada”. Essa foi a ideia de Deus no começo, e ainda é o Seu objetivo.