Mais que um devocional.

Guilherme é engenheiro químico formado pela UFPR, trabalhou por três anos com pesquisa em uma multinacional e hoje é estudante de mestrado na UNICAMP. Percebendo na ciência da criação os atributos invisíveis do Criador, seu eterno poder e divindade, dedica-se a desvendar e a difundir o conhecimento no pouco que aprendeu. Extremamente curioso em diversos assuntos, é um apreciador de livros bem escritos, filmes antigos, músicas diversas, comidas exóticas e longas conversas com amigos.

  1. O que um engenheiro químico faz e/ou pode fazer?

A engenharia química é extremamente abrangente, acho que é uma das áreas da engenharia mais abrangentes que tem. O engenheiro químico responsável por criar, controlar, utilizar processos industriais químicos ou bioquímicos. O engenheiro químico pode trabalhar dentro da indústria privada, seja de petróleo, alimentos, papel e etanol. Ele também pode trabalhar com projetos, criando plantas industriais. Outra área interessante é a área ambiental em que vários engenheiros vão para essa área,  tratamento de efluentes, vários processos nessa área. Tem a área de pesquisa que é onde estou inserido. Pesquisa pode ser feita tanto dentro de indústria, como na área acadêmica.

  1. Como você decidiu que deveria cursar Engenharia Química? Houve alguma interferência divina?

Para mim começou pelo interesse pela química. Sempre gostei e achei muito interessante, fiquei maravilhado com aquilo. Eu ganhei um jogo chamado Alquimia e tinha alguns experimentos que eu poderia fazer, e desde criança eu estava mexendo com tubo de ensaio. Logo que entrei no ensino médio, já tinha uma convicção muito plena que essa era a carreira que eu  queria seguir. Então acho que a intervenção divina foi colocar essa convicção. Eu não tive crises com dúvidas sobre o que fazer na faculdade, nunca precisei fazer teste vocacional, nunca precisei passar por isso, porque Deus sempre deixou  isso muito claro em meu coração.  A engenharia também envolve resolver problemas muito grandes e complexos, e eu tenho uma fascinação e sou muito motivado quando me dão problemas que precisam ser resolvidos e a engenharia química junta as essas duas coisas. Eu poderia ter ido para a química simplesmente, mas esse “Q” de problemas, de ter desafios grandes, problemas lógicos para resolver junto com a química que eu gostava muito, foi o que me despertou para essa área. 

  1. Uma das maneiras que acredito que um engenheiro químico comprometido com o evangelho pode fazer é saber escolher sua área de atuação. 

Fritz Haber recebeu o prêmio Nobel por desenvolver o processo Haber (produção de amônia) para a produção de fertilizantes, sem os quais a atual população mundial seria insustentável. Ele também é conhecido como o pai da guerra química por seu trabalho desenvolvendo e distribuindo cloro e outros gases venenosos durante a Primeira Guerra Mundial. Ou seja, podemos escolher fazer algo para o bem ou para o mal.

Como foi a escolha da tua área de atuação?

Fritz Haber inviabilizou a realização daquela teoria malthusiana que todo mundo aprendeu no ensino médio, a indústria de fertilizantes realmente foi revolucionária, o processo de criação de amônia, entre outros compostos que compõem o fertilizante, ele foi muito importante, foi muito interessante esse impacto que a criação de um processo  pode ter. A química vai descobrir compostos, mas a engenharia química vai fazer esses compostos serem produzidos, existe a possibilidade de produzir esses compostos  e essa é a grande diferença entre os dois cursos que muitos confundem. Em um medicamento se pode descobrir uma nova molécula, mas como esse medicamento será produzido em larga escala para realmente ter um impacto? A engenharia química viabiliza esse impacto. E será tanto positivo como negativo, assim como o gás mostarda que é uma arma química. Quanto a minha experiência, quando eu estava no estágio, comecei a ver várias vagas em várias empresas e surgiu aquela “Meu Deus, eu preciso de um estágio porque senão vai atrasar o meu curso”, mas ao mesmo tempo surgiram critérios, e eu tinha dois critérios que levava em conta: um era a cultura da empresa, se era um cultura que conversasse com a minha, pois tem empresas com culturas extremamente agressivas, de competição e um em cima do outro e eu estava fugindo dessas empresas, e o outro critério era o que a empresa produzia, o que ela fazia. Eu entrei em uma empresa na área de alimentos que produzia blends em diversas áreas e o principal objetivo dessa empresa era substituir conservantes e produtos emulsificantes artificiais por enzimas de produtos naturais que não teriam impacto em nosso corpo, na nossa vida, na nossa dieta. Era limpar os rótulos dos produtos fornecendo ingredientes para a indústria. Eu achei um impacto incrível, pois vivemos em uma era de alimentos processados em que as pessoas têm vários problemas em relação a dieta e consumir emulsificantes vindos do petróleo dentro do seu pão é uma coisa muito interessante. Como o objetivo da empresa era esse, eu me identifiquei e encontrei uma coisa em que eu poderia contribuir. É diferente de trabalhar em empresas que são maléficas, assim como uma empresa que fabrica cigarros e também precisa de engenheiros químicos. Eu nunca trabalharia em uma empresa dessa fazendo algo que cause malefícios para a população.

  1. Uma das coisas mais emocionantes sobre estudar química como cristão é o potencial de fazer uma diferença real na vida das pessoas. Os desafios futuros enfrentados pela humanidade incluem o desenvolvimento de novos suprimentos de energia ecologicamente corretos, combate às mudanças climáticas, descoberta de novos medicamentos para combater doenças, alimentação da enorme população global, fornecimento de água potável e criação de materiais sustentáveis; cada um desses desafios requer a contribuição daqueles com conhecimento de química. Como cristãos, devemos amar o nosso próximo. Com desafios como esses no futuro, a química é certamente um assunto no qual podemos usar nosso dom científico para servir aos outros.

O que você pensa sobre isso?

Hoje em dia é muito difícil encontrarmos um cara que irá revolucionar sozinho uma coisa. A ciência é extremamente abrangente, a engenharia química é  dividida em diversas subáreas  e você vai escolher um processo específico e trabalhar nele e  a sua contribuição vai ser revolucionária, mas é muito importante que ela esteja alinhada com algo. Esse cuidado é muito interessante. Sempre quando apresentamos um trabalho acadêmico, sempre partimos desse impacto macro e vamos descendo em uma pirâmide invertida que eles falam na apresentação de um artigo. Pegamos um grande e vamos destrinchando. Hoje eu trabalho em uma pesquisa dentro da universidade, estou fazendo mestrado, então preciso defender uma dissertação e estou dentro da área do biodiesel. O biodiesel é uma indústria que se chama oleoquímica que parte de óleos vegetais e animais para poder produzir produtos que são advindos do petróleo, um exemplo é o diesel, que é um combustível. Estou dentro dessa indústria que visa um impacto muito grande, muito importante porque temos lições, a escassez de petróleo,  a crise que vivemos agora em relação à Ucrânia, uma mudança na oferta de gás natural pode impactar os preços do mundo inteiro, e essa indústria visa tirar essa dependência , utilizar um caminho alternativo, algo que acho incrível, pois estamos  cuidando da criação, promovendo passos de avanços nesse sentido. A minha especialidade na indústria é  a área de termodinâmica e dentro dela tem um processo que estou gerando dados experimentais que nunca foram gerados antes e serão fundamentais no desenvolvimento dessa indústria. Não estou no laboratório apenas fazendo experimentos, fazendo amostras e pesando coisas,  aquele dado experimental terá um impacto extremamente grande, pois sem ele não conseguimos avançar nada. Eu gosto de pensar sempre no macro, pois só no micro, na rotina, podemos  perder muito o propósito daquilo que estamos fazendo, ainda mais em uma área tão gigantesca  como essa que eu estou inserido. Pensar nisso é muito interessante, sempre pensar que a nossa contribuição gerará um impacto.  

  1. Em 1 Coríntios 10:31, o Apóstolo Paulo fala sobre fazer tudo para a Glória de Deus, como um profissional da engenharia química pode fazer da sua profissão um ato para a glória de Deus?

Eu enxergo, primeiramente, fazer as coisas com excelência e não fazer porque me mandaram a fazer algo dentro da indústria, mas realmente buscar a fazer tudo da melhor forma possível. Não descansar até fazer algo melhor dentro das minhas capacidades, fazer como se fosse para Deus e não para  o seu orientador, para o seu chefe. Fazer aquilo como se fosse para Deus e  tomar os caminhos que Ele coloca em nossa frente, na escolha, na área de atuação, na empresa que você irá trabalhar, linha de pesquisa, ter muitas vezes, não o caminho mais fácil, não a empresa que paga o estágio com maior salário ou tem mais cômodo, mas sim, o que Deus colocou. Estar a serviço de Deus nos nossos próximos passos. Eu tive uma transição de carreira da indústria para a academia e foi absurdamente difícil, mas eu tenho total convicção de foi guiada por Deus e convergiu duas coisas que eu gosto muito: uma delas era pesquisa, mas dentro de uma universidade eu consigo atrelar pesquisa com ensino, e isso irá conversar com propósito, até mesmo ministerial de ensinar a palavra de Deus e passar  coisas juntamente com o meu propósito profissional. Essa convergência foi dura, mas  foi incrível de estar vivendo, e acredito que isso glorifica a Deus. Seguir os caminhos que Ele propôs, por mais que não sejam os mais confortáveis. Se colocar como servo e trabalhar sempre olhando para o propósito. Nunca trabalhar pelo dia a dia, pelas dificuldades do dia a dia, seja com pessoas, com o trabalho em si que é desafiador, principalmente quando estamos descobrindo coisas novas. Mas se Deus nos colocou onde estamos, devemos persistir nisso e ter uma boa contribuição  que glorifique a Deus e seja boa para o planeta e para a humanidade, e assim, cumprir o propósito.

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