Mais que um devocional.

Eu sou Bruno Araújo, ou Arj. Trabalho com produção audiovisual, mais especificamente para o mundo dos casamentos. Moro aqui na cidade de São Luís do Maranhão. Sou da Missão Cristã Casa do Pai, e sirvo aqui também. Sou marido da Lara e pai da Olivia, a nossa pequena Oli.

 

  1. O que um produtor audiovisual faz e/ou pode fazer?

 Então, a produção audiovisual é uma área muito abrangente, é como se você perguntasse o que um médico pode fazer, porque tem as diversas especializações por trás daquilo. Então, um produtor audiovisual faz desde áreas como filmes, aquela coisa mais hollywood, algo mais publicitário ou, então, que é o meu caso, algo voltado para casamentos. Dentro da produção audiovisual, que é como o próprio nome fala, que é áudio e visual, existem pessoas que trabalham só com áudio, as que trabalham só com vídeo e as que trabalham com os dois também. Nessa profissão dá para agregar muitas coisas, e ela tem crescido nessa área das mídias digitais, temos visto a globalização disso tudo. Hoje existem muito mais videomakers e fotógrafos do que se tinha antigamente, porque, graças a Deus, a tecnologia também está bem mais acessível. Então, como eu já falei, essa é uma área que abrange muitas coisas, desde filme, publicidade, casamento, institucional, até essa questão de social media também.

 

  1. Como você decidiu que deveria ir para essa área? Houve alguma interferência divina?

Houve sim, se hoje eu estou aqui é porque Deus me trouxe até esse ponto. E é muito louco porque eu sou arquiteto por formação, e trabalho com produção audiovisual, as coisas não são muito complementares, são um pouco diferentes, ou seja, eu não exerço a profissão na qual eu me formei, mas também não me vejo exercendo alguma outra coisa, porque tenho certeza que foi nessa que Deus me colocou. Essa história é muito doida porque eu já estava finalizando a faculdade de arquitetura, onde eu conheci a minha esposa. Nós nos conhecemos na escola missionária, mas ela estudava na mesma faculdade que eu, começamos a namorar e queríamos casar logo. Então, eu estava ali naquela questão de final de faculdade, não trabalhava ainda, apenas estagiava dentro da minha área de arquitetura, mas eu sempre curti filmar e fotografar, antes era uma coisa mais amadora com o celular mesmo. E aí, eu decidi comprar uma câmera, falei com um amigo meu, e ele me ajudou nessa questão. Comprei a câmera e decidi fazer as coisas bem despretensiosamente . Eu tenho um amigo que é fotógrafo e ele me ajudou muito nesse início, foi me indicando alguns clientes. Até que eu ganhei uma bolsa para estudar arquitetura seis meses em Portugal, e lá a minha mente abriu muito para produção audiovisual. Eu tive contato com coisas e artes bem fortes, foi uma vivência muito boa com coisas inspiradoras. Então, eu saía com a minha câmera, despretensiosamente, simplesmente para filmar e fotografar as coisas que estavam à minha frente, e isso me dava muito gás, era muito gostoso fazer isso. Voltei de Portugal, aí tinha mais algum tempo da minha faculdade, e eu noivei. Falei “cara, vou começar realmente a trabalhar com isso porque eu entendo que é uma ferramenta que Deus me deu pra isso”, e aí fundei a Arj film. E é engraçado porque eu acredito que para cada estação da nossa vida Deus tem uma dimensão da bondade dele para nós, eu tenho vivido isso agora com a minha filha e também vivi isso na questão do casamento. Eu noivei sem muita perspectiva, “eu não tenho um emprego agora mas eu quero dar esse passo de fé”, nós nos casamos jovens, eu tinha 23 anos, e, então, eu realmente queria dar esse passo de fé e começar da forma certa, foi pensando nisso que eu fundei a empresa e noivei, foi como se uma chave tivesse sido destravada. Para você ter uma noção, no primeiro ano de empresa, eu cheguei a fazer se não me engano, 58 casamentos e quem trabalha com isso sabe que não tenho nem como explicar, é coisa de louco. Os primeiros anos são normalmente os mais difíceis da nossa profissão, mas eu vi uma interferência divina muito grande porque através do meu trabalho, conseguimos pagar todo o casamento, além de também arrumarmos todo o nosso apê. Por isso, eu tenho muito essa ideia de que cada cliente que Deus coloca em nosso caminho é realmente porque ele quis que as nossas histórias se cruzassem. Eu fiz meu plano de ser um arquiteto, nesse meio tempo, eu me encontrei na produção audiovisual e estou aqui até hoje, já faz mais de seis anos.

 

  1. Você diz na bio do Instagram do ARJ: “Registrando saudades futuras”. Por você trabalhar com os sentidos das pessoas (olhar para uma imagem -> gerar uma lembrança -> provocar uma emoção), me explica um pouco mais sobre como se dá seu processo criativo? 

Então, nos encontramos nesse slogan, é quase um paradoxo porque a saudade é algo que remete ao passado, mas eu quis dizer com isso que aquele momento que vocês estão vivendo, estamos registrando da melhor forma para que quando isso se tornar uma saudade futuramente, você tenha para onde recorrer para matar essa saudade, então é um paradoxo que gostamos muito de trabalhar dentro dos nossos vídeos. E eu acho que a maior premissa que temos dentro do nosso trabalho, da nossa identidade, é justamente aquele versículo de lamentações 3 que é “quero trazer à memória aquilo que me dá esperança”, então, isso é algo muito forte para nós, trabalhamos nisso com muita seriedade, porque se você parar para pensar, eu tenho nas minhas mãos as ferramentas para eternizar o dia de uma pessoa, então, eu não posso fazer isso de qualquer forma, de qualquer maneira. E, às vezes, no mundo dos casamentos as pessoas tentam fazer assim: “ah, é só mais um casamento, é só mais um noivo, eu sei o que vai acontecer, a noiva e o noivo vão entrar”, mas dentro do nosso processo criativo nós investimos nisso tudo, não é uma receita de bolo, não é um modo automático que ativamos, pois, sabemos que em cada casamento existe um casal por trás daquilo ali e cada casal carrega uma história. Então, a minha missão principal é enxergar essas histórias e ver que antes de noivos, eles carregam coisas, e em certo momento a história deles se cruzou, e partir dali eles vão viver uma nova história. Por isso, levamos muito a sério essa questão de trazer filmes singulares para as pessoas, existem algumas pessoas que filmam e fotografam e que posam para a câmera: “não, agora eu vou me transformar para aquilo”, eu acho que isso não traz uma memória muito afetiva e saudável, você precisa assistir e falar “eu sou essa pessoa nesse vídeo, lembro do quão incrível foi esse dia e eu sinto saudade disso”, então trazemos essa questão de singularidade e naturalidade para dentro do nosso trabalho também, para fazer um registro mais atemporal. Falando um pouquinho mais sobre esse “quero trazer à memória aquilo que me traz esperança”, que é a base de todo o nosso trabalho, nós já vivemos coisas muito profundas e incríveis como empresa e ouvimos alguns testemunhos, porque o resultado final não é quando eu entrego o casamento para alguma pessoa, e ela assiste e acha legal, não, para mim é daqui dez, vinte, trinta, quarenta anos, é um pedaço de um legado da história daquelas pessoas. Então, a minha ideia é a de que quando eles assistirem daqui cinquenta anos, mostrarem para as gerações futuras, para os filhos, isso ainda seja algo que toca o coração deles, que seja algo atemporal, algo que eles se identifiquem, então gostamos de trabalhar com a memória que traz esperança. Temos testemunhos de alguns noivos que já falaram “cara, em um dia mal, (porque os dias maus vão vir) quando nós estávamos pensando mesmo em desistir, ou ,então,nós estávamos num dia muito ruim. Foi aí que nos sentamos, paramos, assistimos àquele filme e nos lembramos de todo o propósito que tínhamos por trás disso tudo”. Às vezes, na correria do dia a dia, vamos esquecendo até dos votos que fizemos um para o outro naquele dia. Então, nós temos um poder de mostrar uma origem, mostrar um propósito. Também lembro de uma noiva em específico, ela tinha alguns problemas de crise de identidade e tudo mais, e nos votos do noivo ele reafirma muito a identidade dela, então, ela falou que depois do casamento ela teve uma crise assim, e eles sentaram para assistir àquele filme e ela disse que aquilo ali foi como um bálsamo para a alma dela porque ela realmente pode lembrar das promessas, daquilo que ele viveram naquele dia, e do quão intenso foi isso. Então, para nós é muito especial poder proporcionar coisas assim, vai muito mais além de um vídeo que vai para o instagram e que a galera curte e viraliza, é realmente um legado que vemos através disso. Muitos testemunhos vêm mesmo para contar que o casal estava num dia ruim e aquilo veio como um bálsamo, mas esse da crise de identidade foi muito forte, foi muito direcionado, porque a pessoa estava realmente tendo uma crise naquela questão e as palavras que o noivo dela disse naquele dia do casamento serviram muito, então, para nós, esse é um dos testemunhos mais incríveis que nós já ouvimos. Houve um outro também, por exemplo, em que estávamos no meio da pandemia, não estávamos podendo fazer aqueles casamentos maiores, e aí, os noivos se propuseram a fazer um casamento de uma forma bem menor, alugaram um airbnb numa praia, ali no litoral de São Paulo, e foi uma experiência muito incrível porque ficou muito intimista, estavam presentes umas oito ou nove pessoas dentro do lugar. Foi incrível porque viamos que eles não se importavam muito com protocolo, o que eles queriam mesmo era dar mais um passo nesse propósito que é o casamento, foi algo que nos marcou muito.

 

  1. E qual é a experiência de acompanhar os casais em viagens para gravar? 

É algo muito especial, porque temos um formato dentro dos nossos vídeos de casamento chamado de doc, e transformamos o casamento num documentário, e normalmente chegamos um ou dois dias antes do casamento e começamos a gravar de forma bem despretensiosa mesmo, as vivências, os olhares, os diálogos, tudo isso vai somando para dentro do nosso filme. Assim, eu sou suspeita pra falar porque esse é um dos meus formatos preferidos dentro disso, porque estamos ali no meio da família, então, vemos muita coisa acontecendo nas entrelinhas, entre os vãos e protocolos de um casamento, as pessoas realmente se entregam, e podemos ver coisas bem incríveis de perto. Por exemplo, nós fizemos um doc numa fazenda em Minas Gerais, uma fazenda linda lá, fazenda de Jacaré Velha, e a gente acompanhou a família desde um dia antes, e foi muito incrível porque a gente viu que havia um clima de despedida dos noivos com os pais, havia cartas espalhadas pela casa. No dia seguinte, tive um tempo de de devocional com todo mundo no café da manhã, então, esse tipo de imersão é muito especial para a gente, porque estamos realmente contando a história daquela família, e com as viagens, nós conseguimos um tempo com ela, além de mais coisas para complementar dentro dessa história. O meu trabalho proporciona muito isso, não tem muito limite geográfico, já fiz algumas viagens dentro e até mesmo fora do país porque as pessoas sentem o quão sério é eternizar esse dia, e nós somos a prova real disso, eu acredito, quando a identificação vem assim, que a pessoa fala: “eu quero que essa pessoa eternize isso e eu sei que vai ser para sempre o filme que ele vai me entregar”, então, as pessoas gostam muito dessa ideia de se identificar e não ver barreiras no meio disso. 

 

  1. O que acho incrível do teu trabalho é a capacidade de capturar imagens que revelam a glória de Deus através da natureza e através da união mais íntima que humanos podem ter: o casamento. Como você se sente fazendo isso? 

É muito incrível porque a gente sabe que Deus se alegra no meio do casamento. Lembro de um voto de uma das nossas noivas que me marcou, ela falou assim: “já se passaram mais de 2000 anos e Ele ainda continua fazendo milagres nos casamentos”, então a gente vê muito milagre acontecendo de perto, milagres de provisão, de restauração dentro daquilo, e eu poder trabalhar dentro de uma das coisas que Deus mais se alegra, que é a família, o casamento, é um privilégio imenso, eu não sei nem mensurar, e ao mesmo tempo é uma responsabilidade muito grande, eu não posso fazer isso de qualquer forma, e, como já falei, no automático. A gente tem um papel de comunicar, de registrar o legado de uma família, então, trabalhar com casamento traz essa dualidade entre muita responsabilidade e também essa satisfação dentro disso. É um privilégio muito grande, e eu fico pensando nessa questão das memórias que a gente vai captando. E eu viajei aqui, imagine se no tempo da bíblia a gente tivesse uma câmera fotográfica, uma câmera de vídeo, o quão incríveis seriam esses registros. Às vezes, eu penso nessas coisas, a gente realmente traz isso para uma outra dimensão. Poder escutar, você poder realmente ver aquilo que aconteceu e guardar isso como a história de um legado de uma família é muito especial. A gente enxerga a história de cada um ali. O meu trabalho é uma extensão daquilo que eu sou, então, eu enxergo muito trabalho e propósito sobre a mesma ótica, sobre a mesma perspectiva. É engraçado até, porque muitos dos meus clientes são realmente cristãos e já chegam com essa ideia de “senti algo diferente nos seus vídeos”, então, esse já é o nosso campo missionário. Eu acredito muito nessa forma diferente de Deus de alcançar as pessoas também, então, enquanto a gente vive essas coisas, tentamos trazer ao máximo essa multiforma para dentro dos nossos vídeos. Mas falando de captação, nós captamos tudo, desde o protocolo, a parte espontânea e aí na edição a gente vai montado da forma que a gente quer contar a história de cada um. Então, a gente traz tudo separado e na hora da edição, tudo acontece. É tudo questão de olhar, a câmera fotográfica não vai fazer nada sozinha, pode ser a melhor câmera do mundo, mas a câmera é uma extensão de mim, e aquilo que eu sou resulta naquilo que eu faço, então, é preciso  ser sensível em alguns momentos. É como aquele filme que eu fiz no Chile, tem muito da natureza, mito da criação, as montanhas incríveis, e aí eu falo, “cara, isso aqui é um dedo de Deus que criou e eu vejo Ele se revelando através disso, eu o vejo através de brisas suaves, eu o vejo se revelando através das preparações das famílias”. São impressionante também os momentos antes do casamento em si, aqueles em que a noiva está se arrumando, são momentos muito carregados de história, é o momento ali em que o filho, de repente, vai deixar a casa do pai, a filha vai deixa a casa da mãe, até mesmo entre as famílias em si, já vi momentos de reconciliação, momentos de emoção, então, eu vejo o casamento como uma ótima maneira de restauração dentro disso, as pessoas entendem que vai ser um novo tempo e que elas precisam zerar as pendências que elas tinham para trás, então, eu já ouvi muitos testemunhos também em relação a isso.  



  1. Em 1 Coríntios 10:31, o Apóstolo Paulo fala sobre fazer tudo para a Glória de Deus, como um produtor audiovisual pode fazer da sua profissão um ato para a glória de Deus?

Eu acho que a principal ferramenta que  a gente tem para fazer algo para a glória de Deus é a excelência, não por vaidade ou mérito próprio, para ser melhor do que os outros, mas porque você tem que colocar todo o seu coração naquilo. Até a Bíblia fala, onde está o seu tesouro, ali estará o seu coração. Então, você precisa realmente se entregar dentro daquilo, entregar o seu melhor, ser excelente, para servir de testemunho até mesmo para outras pessoas que não são cristãs. Então, por exemplo, é difícil você ver um filme cristão ganhar um Oscar, um prêmio, ou uma academia, por isso, eu acho que a gente precisa melhorar na questão da nossa excelência, de realmente se entregar e fazer o nosso melhor. Porque se a gente está levando uma mensagem de Deus através disso, a gente realmente tem que dar a nossa excelência. Então, eu vejo que é justamente isso. É como eu falei, o trabalho e o propósito eu vejo sob a mesma ótica, não é “ah, terminei meu trabalho aqui, agora eu vou trabalhar em outra área que seja na área cristã”, não, o meu trabalho é extensão daquilo que eu sou, e a excelência é uma das melhores formas que a gente tem de honrar o nome de Deus. Eu não vou fazer de qualquer jeito, não vou fazer só por fazer porque eu sei que existe alguém para glorificar e essa pessoa não sou, é Ele.

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