Mais que um devocional.

Paulo, Silas e Timóteo foram orientados pelo Espírito Santo para irem à Macedônia (At 16.9) e velejaram para Trôade cruzando a ponta norte do mar Egeu para Neápolis. Deixando a Turquia dirigiram-se para a Grécia, especificamente para a cidade de Filipos.
Essa cidade ficava próxima a um grande campo de batalha onde, em 42 a.C., Antônio e Otaviano derrotaram os partidários da República. Os vitoriosos, então, liberaram alguns de seus soldados veteranos para irem à cidade, dando a cada um deles um pedaço de terra e declarando aquela cidade como colônia romana. Assim, Filipos se tornou uma “miniatura de Roma” sob a lei romana, governada por dois oficiais militares indicados por esse império. A cidadania romana de Paulo seria de vital importância em Filipos.
Não havia sinagoga em Filipos possivelmente porque, para que uma sinagoga fosse organizada, havia a necessidade de, pelo menos, 10 homens judeus. Pode ser que não houvesse essa quantidade de homens judeus na cidade.
Era o Shabbat. Sem que houvesse uma sinagoga onde adorar, o trio teria que procurar por adoradores de Deus em outro lugar. O Espírito de Deus os levou a alguém que tinha o coração sensível ao Senhor: “uma mulher temente a Deus chamada Lídia, da cidade de Tiatira, comerciante de tecido de púrpura”. Nessa sentença aprendemos três coisas importantes sobre essa mulher. A primeira é que ela provinha da cidade turca de Tiatira, situada ao norte da Ásia Menor, não de uma cidade grega. Desta forma, Lídia não era nascida e criada em Filipos. Mudara-se para lá vinda de outra terra.
A segunda coisa que aprendemos sobre Lídia é que ela era “comerciante de tecido de púrpura”. Tiatira era conhecida por suas associações comerciais. Uma das associações mais poderosas era a do grupo de mercadores que faziam tintura de púrpura e tecelagem de roupas de fios coloridos. Lídia era uma das vendedoras do tecido de púrpura da associação. Esse tecido era muito caro, e ser parte de uma associação em Tiatira significava que Lídia era uma pessoa de posses. É provável que fosse uma comerciante bem-sucedida com empregados para fazer a tintura e a tecelagem das vestimentas que vendia.
A terceira coisa que o texto nos informa sobre essa mulher é que Lídia era “temente a Deus”. Embora isso inicialmente possa não significar muito para nós, no mundo romano do primeiro século, adorar qualquer ser que não fosse o imperador era perigoso. Em uma cidade romana como Filipos, a adoração a esse soberano dominava as observâncias religiosas.
As culturas grega e romana eram repletas de inúmeros deuses com traços humanos que, essencialmente, determinavam suas ações. Por exemplo, Afrodite (deusa romana Vênus) era a deusa do amor, da beleza e do desejo. Era casada com Hefesto, um ferreiro e o deus do fogo. No entanto, ela teve muitos casos extraconjugais. Hermes (para os romanos, Mercúrio) era o mensageiro dos deuses. Zeus (para os romanos, Júpiter) era o rei dos deuses e o filho mais novo de dois Titãs. A maioria dos deuses gregos e romanos eram, portanto, muito “humanos” em suas fraquezas e debilidades.
Contudo, por todo o Império Romano do primeiro século, havia homens e mulheres como Lídia que não acreditavam nos deuses populares de sua comunidade. Estavam abertos à possibilidade de uma alternativa. Mas qual? Embora não soubessem, o Espírito de Deus os conduzia a questionar essas divindades locais e a considerar a ideia judaica de um Deus único e Todo-poderoso.
O pouco que sabiam sobre o Deus hebreu os levou a temê-lo. A figura veterotestamentária do Deus único que sabe de tudo, que está em toda parte e é Todo-poderoso inspirou reverência e temor ao Senhor. Na maioria das vezes, eles nutriam simpatia pelo judaísmo e ouviriam qualquer um que pregasse numa sinagoga judaica local. Como os apóstolos pregavam por todo o Império Romano, essas pessoas tementes a Deus buscavam a verdade e estavam prontas a dar atenção ao que lhes era dito.
Inscrições em tudo, desde vasos a edifícios, nos dizem que 80% dos que temiam a Deus no Império Romano eram mulheres. Por essa razão, elas representam uma parte importante das congregações cristãs que estavam em formação. Embora não fossem contabilizadas na formação de uma sinagoga judaica, elas se tornaram vitais para o surgimento e a vida das novas igrejas cristãs. Como consequência, o Espírito de Deus as usou para influenciar outros a ouvirem o evangelho.
Essas mulheres tementes a Deus muitas vezes eram parte das plateias que os apóstolos encontravam enquanto pregavam por todo o Império Romano.Elas eram inquiridoras determinadas que desejavam saber mais. E, assim, encontramos Lídia, temente ao Senhor e orientada pelo Espírito de Deus, entre as mulheres reunidas para oração à beira do rio naquele Shabbat. Na Grécia, Lídia foi a primeira mulher convertida ao cristianismo por Paulo. Está claro que Lídia era a pessoa encarregada do lar, levando outros membros da família a unirem-se a ela ao abraçar a fé em Jesus Cristo e reconhecê-lo publicamente por meio do batismo. Ela também convidou Paulo e Silas a ficarem em sua casa como seus hóspedes, onde permaneceram por cerca de 3 meses, ensinando aos novos cristãos e estabelecendo a congregação que se reunia na casa dessa bem-sucedida empreendedora.
Após o açoitamento e o encarceramento injustificado, Paulo e Silas, dois cidadãos romanos, recusaram-se a partir da cidade sem que os próprios pretores viessem lhes pedir perdão e liberá-los da cadeia. No entanto, não se apressaram para sair de Filipos. Eles tinham um grupo de novos convertidos em Jesus Cristo que precisava de mais encorajamento. Apesar de os oficiais da cidade os apressarem, os apóstolos ficaram tempo sufi ciente para assegurarem-se de que esses novos seguidores de Jesus possuíam conhecimento suficiente para que sua fé florescesse.
Dali, partiram numa viagem de 171 km rumo a Tessalônica, onde pregavam em sinagogas convertendo muitos homens e “mulheres de alta posição” (17.4). Escapando da perseguição pelos judeus, foram para Bereia, a 72 km, e, novamente, pregaram na sinagoga onde se converteram “vários gregos de alta posição, tanto homens como mulheres” (v.12).
Quem eram essas mulheres proeminentes que se tornaram crentes em Jesus Cristo? À medida que Paulo e seus acompanhantes transitavam pelo Império Romano, eles frequentemente encontravam aceitação para sua mensagem por parte de mulheres distintas, incluindo mulheres de negócio como Lídia.
Elas tinham aceitação e influência em suas comunidades. As pessoas as estimavam e as ouviam por causa da integridade delas e pelo apoio comunitário que dispensavam. Apesar da antiga influência de filósofos como Platão e Aristóteles (que ensinavam que as mulheres eram ingênuas, promíscuas e totalmente inferiores aos homens), estátuas de mulheres de alta posição eram erigidas em inúmeras cidades gregas em honra a muitas delas.
Todas nós influenciamos. A influência é o efeito ou o poder que uma pessoa tem de mudar a maneira de outra pessoa pensar ou agir. Somos encorajadas quando vemos como Lídia usou a influência que Deus lhe concedera. Ela imediatamente compartilhou a fé recém-descoberta em Jesus Cristo com todos de sua família. Depois abriu sua enorme casa para os apóstolos e a todos que se uniam a ela para aprender sobre a vida cristã. Lídia nos fornece o modelo de influência exercida que é para bons propósitos.
Perceba como o Espírito de Deus estava agindo, primeiramente orientando Paulo e seus acompanhantes e, depois, guiando-os à mulher mais influente e sensível à mensagem de Cristo. Ao mesmo tempo, o Espírito de Deus já estivera agindo sobre Lídia, capacitando-a a dar as costas aos deuses de sua comunidade e a entregar-se ao único Deus verdadeiro.
De forma semelhante, o Espírito de Deus continua agindo para nos orientar e guiar nos dias de hoje. O apóstolo Paulo observou isso em sua carta aos romanos quando lhes lembrou: “Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam” (Rm 8.28). Assim age o Espírito de Deus, orientando-nos mesmo quando não reconhecemos a Sua presença em nossa vida.

—Alice Mathews

QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Além de seus pais, quem exerceu a maior influência positiva sobre você? De que maneira essa influência a moldou?
2. O que essas pessoas fizeram ou disseram que a afetou?
3. Quem tem influenciado o seu pensamento sobre assuntos espirituais mais recentemente? Compartilhe as razões para a sua resposta.
4. Quem primeiro lhe vem à mente quando você pensa sobre quem está em seu círculo de influência?

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