Mais que um devocional.

O dia fora muito glorioso. O nosso Senhor havia mostrado de forma notável Seu ensino e poderes de cura. Grandes multidões haviam sido atraídas, e Ele havia lhes dado parábolas muito preciosas e realizado as mais maravilhosas curas. Como o dia havia sido grandioso, não poderia chegar ao fim sem uma tempestade. Da mesma maneira, vocês descobrirão que, na história da Igreja do Senhor, grandes sucessos estarão misturados com grandes aflições. 

O lago era como um espelho fundido, tudo estava quieto. Entretanto, de repente, como é o costume desses lagos profundos, o demônio da tempestade correu vindo de seu lugar de assombro entre as montanhas, varrendo tudo diante dele. A pequena embarcação estava em grande dificuldade, enchendo-se de água e pronta para afundar por causa da força do temporal de vento. Da mesma forma, os nossos melhores momentos de calmaria podem ser seguidos por tempestades avassaladoras! Um cristão raramente se sente tranquilo por muito tempo. Nossa vida, como o clima de primavera, é feita de sol e chuva:

Parece que, quando a tempestade começou, os discípulos inicialmente não despertaram o Mestre. Eles tiveram alguma consideração pelo Seu extremo cansaço, pois Jesus passou o dia inteiro num trabalho árduo e estava exaurido de Sua força humana. Talvez, pensaram que a agitação da tempestade o despertaria. Como o Mestre poderia dormir entre os ventos uivantes e ondas ferozes? Eles pouco sabiam sobre o quão profundamente calmo estava o coração do Senhor, de modo que, em meio à tempestade, Jesus poderia dormir tão bem, pois a tempestade não chegava perto da Sua alma. 

Quando finalmente descobriram que estavam sob grande perigo, pois o barco certamente afundaria, começaram a julgar o Senhor e a pensar sobre Ele de forma cética e rude. Eles pensaram que morreriam e se perguntaram como Jesus poderia permitir isso. Portanto, foram ao Senhor clamando, como Lucas registra: “Mestre, Mestre, estamos perecendo”. Ou como Marcos escreve: “Mestre, não te importa que pereçamos?”. Muitos gritaram. Um disse uma coisa, outro disse outra, mas o estado de espírito geral deles era de queixa contra o seu Senhor. Sabiam que o Mestre os amava, e ainda assim o consideravam um tanto cruel. Confiavam em Jesus, e ainda assim tiveram sérias dúvidas. Chamavam-no de Mestre, e, no entanto, semirrebelavam-se contra Ele.

Às vezes, a queixa toma essa forma. Deus permite que as leis naturais sigam o seu curso prescrito, mesmo quando Seus filhos serão esmagados por elas. Há um barco no mar. Está envolto em densa névoa. Homens piedosos a bordo fazem orações pela orientação correta da embarcação, mas, se o barco continuar sendo conduzido como está agora, ele se chocará contra a rocha, e isso realmente acontecerá, não obstante as orações. Deus não se importa que pessoas orando por direção e livramento pereçam a bordo de um barco? 

A natureza se move assim como Deus a ordenou. Para nós, as enchentes não se levantam como um monte, nem as águas se recusam a baixar. Se for mártir ou assassino, o fogo devora com igual fúria, e a espada cai como um golpe igualmente mortal. “O mesmo sucede ao justo e ao perverso”. A partir desse fato, surgem muitas queixas, e nós clamamos: “Não te importa que pereçamos?”.

Talvez, queridos irmãos, pensemos que Jesus não se importa conosco porque Ele não realizou um milagre para o nosso livramento e não se interpôs de forma notável para nos ajudar. Você está neste momento passando por uma dor tão forte que clamaria com prazer: “Ó, se Ele abrisse o céu e descesse para meu livramento!”. Mas Ele não abriu os céus. 

Meus queridos irmãos e irmãs, vocês sabem que às vezes Deus efetua uma maravilha maior quando sustenta Seu povo em meio aos problemas do que faria se Ele os tirasse deles? Para o Senhor, deixar a sarça ficar queimando e mesmo assim não ser consumida é algo mais grandioso do que apagar a chama e, assim, salvar a sarça. Deus está sendo glorificado em seus problemas, e se você se der conta disso, estará pronto a dizer: “Senhor, empilhemos as cargas se for para a Tua glória. Dá-me apenas força igual ao meu dia, e depois empilhe os fardos. Não serei esmagado debaixo deles, mas ilustrarei o Teu poder. Minha fraqueza glorificará o Teu poder”

Há em nosso Senhor um cuidado verdadeiro por seu povo em meio à sua aparente indiferença. Foi certamente assim no mar da Galileia. Observe na narrativa que, embora Cristo estivesse dormindo, Ele estava no barco; Ele não havia deixado Seus discípulos. E seja como for que Deus trate o Seu povo, Ele ainda está com eles. “Não temas”, diz Ele, “porque eu sou contigo”. Se não houver mais nada, a presença do Senhor deve ser suficiente para nos animar. Nosso Pai celestial conhece a nossa necessidade. Ser banido da presença de Deus seria o inferno. Mas, não importa como nosso barco é arremessado pela tempestade, não podemos nos desesperar enquanto o Senhor é nosso companheiro.

Lembrem-se, novamente, de que, embora Cristo estivesse dormindo, Ele foi arremessado tanto quanto os discípulos foram e com o mesmo perigo. Se somos perseguidos, Jesus é perseguido. Se sofremos, a cabeça sofre com os membros. Nossa causa é a Sua causa. Isto deveria nos encorajar. Quando César disse ao capitão assustado: “Não temas, carregas César e todas as suas fortunas”, ele nos forneceu um tipo terreno da grande verdade celestial: o barco da salvação leva em si Cristo e Sua honra, bem como Seu povo.

Quando Jesus foi despertado, Ele não ficou com raiva. Poderia ter se afastado dos Seus discípulos se desejasse. Estava em Seu poder atravessar as ondas e deixá-los em aflição. E depois das coisas duras que dissemos e pensamos de Deus, Jesus poderia nos deixar perecer se quisesse, mas não fará tal coisa. Jesus não rejeitou as orações indignas de Seus fracos seguidores. No entanto, o Mestre poderia ter se ofendido e dito: “É isso o que vocês pensam de mim? Mas não foi assim que Ele os censurou. Ele os testou gentilmente, com profundo amor por eles, sem ira. Ele aceitou suas orações e acordou — e que despertar foi esse! Não houve nenhum traço de tempestade logo depois de ter sido despertado; o mais estrondoso dos ventos conflitantes dormiu como um bebê no peito de sua mãe; as ondas eram como mármore. Aflito, você ainda desfrutará da calma. Pobre filho de Deus, provado e tentado, você verá dias em que se perguntará onde os seus problemas estão. Dirá a si mesmo: “Eles se foram completamente; nada mais tenho com que me perturbar. Cristo afastou minhas dores”. 

Talvez você vá desfrutar de uma calma longa e ininterrupta, não uma calma comum, mas uma calma tão profunda que dirá a si mesmo: “Valeu a pena ter passado por uma tempestade para desfrutar dessa paz”. Entrará em Canaã depois de atravessar o deserto. Os anjos o visitarão quando os demônios tiverem terminado sua tentação. Você deixará o campo de batalha para a terra da Desposada, onde ouvirá os coros celestiais cantarem, e os anjos lhe trarão especiarias dos jardins do bendito. Apenas tenha coragem! Permaneça em sua posição, confie em seu Senhor, pense bem dele e descanse nele, pois, como o Senhor vive, nenhum barco que tenha Cristo a bordo sofrerá naufrágio.

SERMÕES DE SPURGEON

Este artigo foi retirado do livro Sermões de Spurgeon sobre os milagres de Jesus

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Este artigo foi retirado do livro Sermões de Spurgeon sobre os milagres de Jesus

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