Outubro rosa - Como usar o Pão Diário na capelania hospitalar com mulheres que estão passando pelo câncer de mama?
Leitura: Salmo 119
Não retires de mim a palavra da verdade… v.43
Tua promessa renova minhas forças; ela me consola em minha aflição. v.50
Se tua lei não fosse meu prazer, eu teria morrido em meu sofrimento. v.92
Tu és meu refúgio e meu escudo; tua palavra é minha esperança. v.114
Os que amam tua lei estão totalmente seguros e não tropeçam. v.165
Exercer a escuta de alguém que está num leito ou em sofrimento, seja físico ou na alma — Trata-se de uma das ferramentas mais importantes para a cura, para o alívio da dor e para o consolo do “coração” de quem está passando pela crise.
A Palavra de Deus, após a escuta, é outro recurso poderoso — Com devocionais, relatos, cânticos e poesias inspirados pelo Dono da vida, que sabe todas as coisas, que conhece o coração que sofre e se compadece, podemos fazer a diferença na vida daqueles que estão passando por um momento de enfermidade. E uma ferramenta preciosa, em minha experiência como capelã hospitalar, é o devocional Pão Diário.
A enfermidade tem seu limite, diante da grandeza de um olhar e de palavras acolhedoras, pois já se diz que a fé vem pelo ouvir e quem tem fé ou a procura, em meio à dor, pode buscar o conforto que precisa na Palavra de Deus, encontrando confiança, esperança e paz para o coração aflito.
Diante de um diagnóstico e/ou de uma má notícia a respeito da saúde física, percebemos a fragilidade do nosso corpo. Todavia, abre-se uma rica oportunidade de conhecer a força de nosso interior — que podemos chamar de coração, alma ou espírito. Trata-se de algo dentro de nós, que não é o corpo frágil e limitado. É nesse momento que se abre “uma janela” para a fé, que não pode ser destruída como nossas células, e sim fortalecida.
É nos tempos difíceis que aprendemos a buscar aquilo que pode nos dar força: paz na presença divina, confiança no Deus Poderoso e dono da vida, vitalidade nas amizades verdadeiras, poder de Deus que não pode ser contido diante de qualquer fraqueza física ou limitação humana, reflexão na eternidade — uma verdade que cresce diante de nossos dias reduzidos aqui na Terra.
O autor de Hebreus nos ensina que:
“…a palavra de Deus é viva e poderosa. É mais cortante que qualquer espada de dois gumes, penetrando entre a alma e o espírito, entre a junta e a medula, e trazendo à luz até os pensamentos e desejos mais íntimos” (Hebreus 4:12).
Durante a capelania hospitalar, conheci e acompanhei uma vida preciosa que enfrentava câncer de mama. Ela tinha seus 60 anos e, mesmo em dias difíceis, devido ao tratamento, testemunhava sobre sua fé e aproveitava para me contar sobre sua família e tudo que a preocupava por aqueles tempos que estava vivenciando. Eu a ouvia, líamos a Palavra de Deus e orávamos juntas. Contemplei dias de melhora dela, nos quais já se dispunha a ajudar alguém que precisava dela. Ela amava ser voluntária no hospital em que eu era capelã.
Certo dia, num desses encontros de escuta, o tema foi: “O livramento de Deus da morte ou através da morte.” Não era para falar sobre isso (morte), mas surgiu o assunto e pude ver como ela estava tranquila sobre a vontade de Deus para a vida dela, aqui e na eternidade. Alguns dias depois, essa irmã faleceu, deixando-nos a memória de um olhar confiante e tranquilo, que estava livre das dores deste mundo, nos braços e na presença do Pai Eterno.
Visitei, recentemente, outra irmã, com 70 anos, que está em tratamento de um câncer de mama. Enquanto a ouvia, pude perceber a importância de relatar seus sentimentos (ser ouvida) a respeito das grandes amizades que teve em sua vida. Porém, ela estava se sentindo um pouco sozinha naquele momento. Mesmo com a presença da família e das fortes lembranças de pessoas tão queridas com as quais convivera e nas quais confiou, as lembranças, naquele momento, faziam-na sentir falta delas. Também, me relatou total confiança em Deus, citando todas as coisas que Ele preparou, inclusive os médicos, cirurgia, tratamento e as intercessões. Demonstrou sua força vinda da fé e como tem enfrentado os desafios deste tempo de tratamento. Mencionou-me trechos dos Salmos: “Esperei com paciência no Senhor…” (Salmo 40:1) e “Meu socorro vem do Senhor…” (Salmo 121:2). Ela complementou os textos citados, dizendo “É com paciência e confiança no tempo e agir do Senhor que a gente chega lá (na cura vinda dele, como Ele quiser!)”.
A experiência de escutar e interceder por essas mulheres fortes no Senhor ou por aqueles que adquiriram essa força através da escuta acolhedora e fé na Palavra de Deus, proporciona um crescimento indescritível na minha fé, conhecendo mais do Deus vivo que sofre conosco, pois conhece nossa estrutura frágil e humana (Salmo 103:13-14).
Na minha experiência como capelã e conselheira, não há um só momento, ao escutar uma alma ferida e cansada — seja por dores físicas ou da alma —, em que menciono porções da Palavra de Deus, que não contemple alívio, força, esperança e até cura. O poder da Palavra é indescritível, tem efeitos rápidos na alma e atinge o físico. Ela faz isso porque, ao ouvir a Palavra de Deus, os aflitos adquirem fé no Deus vivo, arrependem-se e confessam pecados, perdoam aos outros e a si mesmos (livrando-se de mágoas, ressentimentos e culpas), encontram salvação e direção para viver dias melhores por meio da fé.
Que possamos nos colocar à disposição dos outros para ouvir e aprendamos a usar ferramentas como o Pão Diário para levar a Palavra de Deus a esses corações quando mais precisam.
Sonia Costa de Lima/Capelã hospitalar e conselheira