Nove características da liderança de Paulo
Onde quer que fosse, Paulo se destacava como um homem de autoridade e personalidade incomuns — um homem que era líder em sua totalidade. Nunca faltou seguidores para ele. Suas qualidades de caráter irresistivelmente o elevavam acima de seus colegas e companheiros. Paulo não exercitava sua autoridade de maneira rude ou arbitrária, mas também não suportava os enganadores. Ele era sensato e não opressor.
A liderança de Paulo não era perfeita, mas nos dá um exemplo tremendamente encorajador e inspirador do que significa continuar avançando rumo à maturidade. Um líder deve estar disposto a desenvolver-se em muitos aspectos e em muitas habilidades, mas com uma unidade de propósito. Vamos conferir algumas características da liderança de Paulo?
Líderes com os talentos e força de caráter que Paulo possuía frequentemente tendem a dominar e anular outros menos poderosos e a ser insensíveis aos direitos e convicções dos outros. Paulo era meticuloso em seus relacionamentos, lidando com situações difíceis com raro tato e consideração.
Paulo era atencioso e sensível aos direitos e sentimentos dos outros e cautelosamente evitava desentendimentos. Ele esmerava-se para evitar transpor a esfera de autoridade da outra pessoa. A passagem seguinte revela sua noção de cortesia territorial:
“Não nos orgulharemos do que se fez fora de nosso campo de autoridade. Antes, nos orgulharemos apenas do que aconteceu dentro dos limites da obra que Deus nos confiou, que inclui nosso trabalho com vocês. Quando afirmamos ter autoridade sobre vocês, não ultrapassamos esses limites, pois fomos os primeiros a chegar até vocês com as boas-novas de Cristo. Também não nos orgulhamos do trabalho realizado por outros nem assumimos o crédito por ele. Pelo contrário, esperamos que sua fé cresça de tal modo que se ampliem os limites de nosso trabalho entre vocês” (2 Coríntios 10:13-16).
A sensibilidade de Paulo é vista singularmente na forma habilidosa com a qual conduziu as negociações com Filemom sobre Onésimo. “Mas eu nada quis fazer sem seu consentimento. Meu desejo era que você ajudasse de boa vontade, e não por obrigação” (Filemom 14).
A coragem moral de Paulo se igualava à sua coragem física, que era de padrão muito elevado. Ele não se detinha pelos sofrimentos esperados nem pelo perigo presente toda vez que eles o confrontavam a fim de impedir seu trabalho. A sua obstinada coragem é evidente em suas próprias palavras: “Agora, impelido pelo Espírito, vou a Jerusalém. Não sei o que me espera ali, senão que o Espírito Santo me diz, em todas as cidades, que tenho pela frente prisão e sofrimento” (Atos 20:22-23).
O corajoso apóstolo confrontou, como um leão, a multidão enraivecida pela causa de seu Mestre. “Ele também quis entrar, mas os discípulos não permitiram. Alguns amigos de Paulo, oficiais da província, também lhe enviaram um recado no qual suplicaram que não arriscasse a vida entrando no anfiteatro” (Atos 19:30-31). Ele compreendeu que nem sempre é nosso dever evitar o perigo.
No entanto, a coragem do apóstolo não desconhecia o temor. “Fui até vocês em fraqueza, atemorizado e trêmulo”, ele disse aos coríntios (1 Coríntios 2:3). Uma indiferença apática ao perigo não é um sinal de coragem verdadeira. O homem que não conhece o medo não pode conhecer a coragem. Paulo conhecia o medo, mas também sabia que Deus não havia dado a ele “um Espírito que produz temor e covardia”, mas sim que lhe conferia “poder” (2 Timóteo 1:7).
O marechal-de-campo Montgomery estabeleceu que um dos sete ingredientes da liderança militar efetiva é: “O líder militar deve ter o poder de tomar uma decisão clara, precisa”. O apóstolo Paulo, como um comandante do campo espiritual, preenche totalmente essa categoria de liderança. De fato, essa era uma característica chave de seu caráter, e ele a demonstrou no exato momento de sua conversão.
Quando os céus romperam e ele viu Cristo exaltado, sua primeira pergunta foi: “Quem és tu, Senhor?”. A resposta “Eu sou Jesus, o nazareno, a quem você persegue” (Atos 22:8) superou todo seu universo teológico, mas ele aceitou imediatamente as implicações de sua descoberta. Uma rendição absoluta ao Filho de Deus era a única resposta possível e, com sua alma completamente refeita, decidiu ali mesmo ser totalmente submisso e obediente. Isso o levou a sua segunda pergunta: “Que devo fazer, Senhor?” (Atos 22:10).
Vacilação e indecisão não tinham espaço no treinamento de Paulo. Uma vez seguro dos fatos, ele prontamente tomava uma decisão. Ter recebido a luz significava segui-la. Descobrir seu dever implicava cumpri-lo. Uma vez convicto da vontade de Deus, o líder efetivo agirá independentemente das consequências. Ele estará disposto a não deixar rastros e aceitará a responsabilidade tanto pelo fracasso como pelo sucesso.
Uma das funções mais importantes de um líder espiritual é comunicar sua própria fé e visão àqueles que o seguem. Paulo confiava plena e profundamente em Deus. O próprio apóstolo declarou: “Pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito” (Atos 27:25).
Paulo considerava o desejo de sinais exteriores, milagres, ou sentimentos íntimos para firmar a fé, um sinal de imaturidade espiritual. A fé se ocupa com o invisível e espiritual. A visão se preocupa com o visível e o tangível. A visão reconhece a realidade apenas em coisas presentes e concretas. “A fé mostra a realidade daquilo que esperamos; ela nos dá convicção de coisas que não vemos” (Hebreus 11:1).
Fé é certeza, dependência, confiança, e tem envolvimento direto com Deus. “Sem fé é impossível agradar a Deus. Quem deseja se aproximar de Deus deve crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam” (Hebreus 11:6). A fé que Paulo depositava em Deus era genuína, uma confiança natural que jamais foi traída. O apóstolo sentia-se tão confortável com o Deus revelado nas Escrituras, tanto no âmbito do impossível como na esfera do possível. Seu Deus não conhecia limitações e, por conseguinte, era digno de confiança ilimitada.
Fé é visão. Paulo era capaz de ver coisas que eram invisíveis a muitos de seus companheiros que não possuíam semelhante fé. O servo de Eliseu viu claramente a imensidão do exército inimigo que os cercava, mas a fé de Eliseu o capacitou a ver as invencíveis forças do Céu (2 Reis 6). Sua fé lhe concedeu a visão.
Paulo não priorizava o isolamento. Ele era um homem essencialmente social e possuía uma habilidade ímpar de capturar e manter o amor intenso e lealdade dos amigos com quem livremente interagia. Seu amor por eles era genuíno e profundo.
Paulo raramente trabalhava sozinho. Ele se sentia desesperadamente solitário quando isolado. “Ele tinha um dom para amizades”, escreveu C. Lees. “Nenhum homem no Novo Testamento fez inimigos mais ferrenhos, mas poucos homens no mundo fizeram amigos melhores. Eles se aglomeravam ao seu redor tão intensamente a ponto de não podermos reconhecer suas personalidades em sua afeição.”
Um dos segredos de Paulo era sua capacidade de amar seus amigos desinteressadamente, amar mesmo sem nada receber em retorno. “Por vocês, de boa vontade me desgastarei e gastarei tudo que tenho, embora pareça que, quanto mais eu os ame, menos vocês me amam” (2 Coríntios 12:15).
A amizade de Paulo com Timóteo é um modelo de amizade entre um homem mais velho e outro mais jovem. Muitas mulheres também foram mencionadas entre os amigos dos quais ele lembrava com carinho (Romanos 16). A habilidade do apóstolo em fazer amizades foi essencial para influenciar, formar e capacitar novos líderes cristãos.
Em suas pregações e escritos, Paulo inconscientemente usou suas próprias experiências como ilustrações e compartilhou suas próprias lutas interiores, frustrações e falhas. Ele não desonrou sua sinceridade e integridade (2 Coríntios 1:23; Romanos 9:1-2), mas também não se exaltou indevidamente. “Com base na graça que recebi, dou a cada um de vocês a seguinte advertência: não se considerem melhores do que realmente são. Antes, sejam honestos em sua autoavaliação, medindo-se de acordo com a fé que Deus nos deu” (Romanos 12:3).
Paulo tinha total consciência de suas falhas e fraquezas, especialmente por seu padrão de maturidade ser “à completa medida da estatura de Cristo” (Efésios 4:13). Ele reconhecia as limitações de suas próprias realizações. “Não estou dizendo que já obtive tudo isso, que já alcancei a perfeição. Mas prossigo a fim de conquistar essa perfeição para a qual Cristo Jesus me conquistou” (Filipenses 3:12). Mas, ao invés de abatê-lo moralmente, essas constatações o impulsionavam para aquilo que estava diante dele.
Apesar de toda essa modesta (mas saudável) autoavaliação, Paulo ousadamente exorta os coríntios: “Portanto, suplico-lhes que sejam meus imitadores” (1 Coríntios 4:16). Porém, mais adiante na epístola, ele adiciona uma cláusula importante: “Sejam meus imitadores, como eu sou imitador de Cristo” (1 Coríntios 11:1 – ênfase adicionada). Expor sua vida como exemplo não era uma exibição de orgulho, pois o que ele era e o que realizara fora por causa de Cristo.
Paulo era bem generoso em suas avaliações dos outros e não invejava os dons e sucesso espiritual deles. Ele sentia prazer em associar-se com companheiros da obra, mesmo os jovens, em termos de igualdade. “Pois nós somos colaboradores de Deus” (1 Coríntios 3:9).
A humildade não faz parte do programa dos cursos de liderança ao redor do mundo, nos quais a proeminência, a publicidade e a autopromoção se tornam muito importantes. De acordo com Jesus, não deve ser assim entre nós. “Entre vocês, porém, será diferente. Quem quiser ser o líder entre vocês, que seja servo” (Marcos 10:43). Paulo seguia de perto os passos de seu Senhor nesse requisito.
O apóstolo, que era altamente estimado pelos outros, vivia em humildade de grande contrição. Apesar de não se ater ao seu passado, nunca esqueceu que tinha perseguido cruelmente a Igreja de Cristo. E quando lhe disseram que não merecia viver, não argumentou sobre suas declarações. Um constante sentimento de gratidão o mantinha humilde. Não queria maior reputação do que já conseguira. “Se quisesse me orgulhar, não seria insensato de fazê-lo, pois estaria dizendo a verdade. Mas não o farei, pois não quero que ninguém me dê crédito além do que pode ver em minha vida ou ouvir em minha mensagem” (2 Coríntios 12:6).
A submissão de Paulo era uma qualidade progressiva, que se aprofundava com o passar dos anos. Segundo suas próprias palavras:
“Ainda que eu seja o menos digno de todo o povo santo, recebi, pela graça, o privilégio de falar aos gentios sobre os tesouros infindáveis que estão disponíveis a eles em Cristo” (Efésios 3:8).
Um líder é capaz de liderar outros somente porque se autodisciplina. A pessoa que não sabe como sujeitar-se à disciplina imposta pelas circunstâncias, que não sabe obedecer, não será um bom líder — como também aquele que não aprendeu a impor disciplina em sua própria vida. Aqueles que desprezam as autoridades constituídas legalmente ou segundo as Escrituras, ou se rebelam contra elas, raramente se qualificam para altas posições de liderança.
Paulo impunha a si próprio uma rigorosa disciplina interior em duas áreas:
Ele travava uma guerra com seu corpo. “Por isso não corro sem objetivo nem luto como quem dá golpes no ar. Disciplino meu corpo como um atleta, treinando-o para fazer o que deve, de modo que, depois de ter pregado a outros, eu mesmo não seja desqualificado” (1 Coríntios 9:26-27).
O líder cristão está sujeito ao perigo da derrota pelo excesso dos apetites físicos ou pela preguiça. Tal perigo crítico exige uma rigorosa autodisciplina. Do outro lado da balança há o excesso de atividade física que pode levar à fadiga e à exaustão. O líder deve estar preparado para se esforçar mais do que seus companheiros. Mas um homem exausto se torna presa fácil do adversário. Devemos estar alertas para nos proteger desses dois perigos.
Ele travava uma guerra com seus pensamentos. “Usamos as armas poderosas de Deus, e não as armas do mundo, para derrubar as fortalezas do raciocínio humano e acabar com os falsos argumentos. Destruímos todas as opiniões arrogantes que impedem as pessoas de conhecer a Deus. Levamos cativo todo pensamento rebelde e o ensinamos a obedecer a Cristo” (2 Coríntios 10:4-5). Paulo sabia que o pecado se origina nos pensamentos, então fazia um esforço constante para prevenir que eles vagassem e os colocava sob o controle de Cristo.
É necessário mais do que força de vontade para levar e manter tanto o corpo como a mente sob o controle divino. Mas Deus fez provisões para essa capacidade adicional. “Mas o Espírito produz este fruto: […] domínio próprio” (Gálatas 5:22-23). O segredo de Paulo é que ele era “cheio do Espírito”, e dessa forma o fruto espiritual desejado era produzido abundantemente em sua vida.
Quando se selecionavam líderes para posições que implicavam algum tipo de subordinação, um dos pré-requisitos era a sabedoria: elemento fundamental para boa liderança. “Sendo assim, irmãos, escolham sete homens respeitados, cheios do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos desse serviço” (Atos 6:3).
A verdadeira sabedoria é mais do que conhecimento, o qual é a acumulação básica de fatos. É mais do que perspicácia intelectual; é discernimento celestial. A sabedoria espiritual envolve o conhecimento de Deus e as complexidades do coração humano. Ela envolve a aplicação correta de conhecimento em questões morais e espirituais como também em situações que causam perplexidade e relacionamentos humanos complexos. A sabedoria é uma qualidade que refreia o líder, impedindo-o de atitudes extravagantes ou precipitadas, concedendo-lhe o equilíbrio necessário.
A sabedoria caracterizava o método intencional da pregação de Paulo. “Portanto, proclamamos a Cristo, advertindo a todos e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para apresentá-los maduros em Cristo” (Colossenses 1:28). A sabedoria inevitavelmente caracteriza o ministério do líder cheio do Espírito. “Que a mensagem a respeito de Cristo, em toda a sua riqueza, preencha a vida de vocês. Ensinem e aconselhem uns aos outros com toda a sabedoria” (Colossenses 3:16).
Devemos a Paulo a revelação de que Cristo Jesus “se tornou a sabedoria de Deus em nosso favor” (1 Coríntios 1:30).