Mais que um devocional.

Diante de um cenário tão trágico e que, como já mencionado, não é identificado na época em que se especula que Joel escreveu, surgem alguns questionamentos. Tudo isso realmente aconteceu? O texto de Joel é literal ou alegórico? A praga de gafanhotos existiu ou foi simplesmente um símbolo para descrever uma invasão militar? Seria tudo isso um prenúncio de algo que ainda aconteceria? Apesar de nenhum historiador de Israel ou de Judá relatar o que é descrito pelo profeta, podemos encontrar no livro uma pista do que se tratava. Observe Joel 1:6: “Porque veio um povo contra a minha terra, poderoso e inumerável; os seus dentes são dentes de leão, e ele tem os queixais de uma leoa”. Ele descreve a chegada de um povo, certamente com seus guerreiros, soldados bem treinados. Assim, a crise econômica estava sendo causada por uma situação de guerra, isto é, gerada a partir de uma crise política. A mesma ideia é mais desenvolvida no capítulo dois, onde ele descreve um exército bem treinado e disciplinado, que apavora por onde passa:

“À frente dele vai fogo devorador, atrás, chama que abrasa […] A sua aparência é como a de cavalos; e, como cavaleiros, assim correm. Estrondeando como carros, vêm, saltando pelos cimos dos montes, crepitando como chamas de fogo que devoram o restolho, como um povo poderoso posto em ordem de combate. […] Correm como valentes; como homens de guerra, sobem muros; e cada um vai no seu caminho e não se desvia da sua fileira. Não empurram uns aos outros; cada um segue o seu rumo; arremetem contra lanças e não se detêm no seu caminho. Assaltam a cidade, correm pelos muros, sobem às casas; pelas janelas entram como ladrão. […] O Senhor levanta a voz diante do seu exército; porque muitíssimo grande é o seu arraial; porque é poderoso quem executa as suas ordens; sim, grande é o Dia do Senhor e mui terrível! Quem o poderá suportar?” (vv.3-11 ARA).

O fato é que, ainda que o livro trate de uma situação real, ou que seja somente uma alegoria, o grande tema que o permeia é a tragédia. No momento em que escrevo, em 2020, a nossa sociedade passa por uma crise significativa, com implicações para toda a população. De quando em quando, temos uma ou outra crise econômica movidas por fatores internacionais. São notícias de revoluções, corrupção, criminalidade, entre outras, a todo o tempo. Onde está Deus nisso? Como se não bastassem essas situações que atingem a todos nós, podemos também passar por crises pessoais. Vemos e sabemos de irmãos que estão vivendo a sua tragédia particular, seja ela uma enfermidade, o desemprego que se alonga, uma morte na família. E há ainda as catástrofes naturais que nos atingem, como terremotos, enchentes e deslizamentos. Em junho de 2015, por exemplo, tivemos em Campinas uma ventania como eu nunca tinha visto antes, mesmo estando aqui há mais de 30 anos. Foi uma destruição tamanha, na qual muitos sofreram danos substanciais em suas casas. São realidades das quais não estamos isentos e com as quais temos que lidar.

Eventualmente, pode-se passar por momentos críticos também por causa de algum pecado cometido. Nesses casos, Deus deixa muito claro porque Ele está apertando o cerco: para levá-lo à confissão, disciplina e restauração da comunhão quebrada pela desobediência. Não se preocupe em tentar verificar se a crise pela qual você está passando é consequência de algum pecado cometido. Se Deus tem o propósito de disciplinar, Ele o deixará evidente para o filho a quem disciplina. 

Décadas atrás, o grupo Vencedores por Cristo produziu uma música belíssima, intitulada O dia da vitória, que diz:

Assim como a noite aguarda o sol,

Como a brisa sonha um dia soprar,

Como a terra seca espera a chuva,

Como o rio anseia pelo mar,

Eu desejo tanto ver o dia chegar;

O dia da vitória em que virá meu Salvador,

Sim, Jesus Cristo, o Senhor, virá nas nuvens para me levar;

Se tornará verdade tudo o que sempre sonhei,

E tristezas eu não mais terei,

E toda lágrima do meu olhar Ele enxugará.

Braços levantados livres do mal,

Igualdade e justiça haverá,

Já não mais terá morte ou guerra, novo céu e uma nova terra,

Eu desejo tanto ver o dia chegar.

Isso é uma promessa pela qual nós ansiamos! Porém, há fases de nossa vida em que encontramos realidades bem diferentes, nas quais a alegria e a satisfação são suprimidas. Vivemos em tempos cheios de guerras, terrorismo, cristãos sendo martirizados, problemas políticos, problemas econômicos, pandemia etc. Como podemos viver cantando com alegria, dada a situação em que nós estamos? Como devemos reagir à nossa dura realidade? Eu quero apresentar a vocês neste capítulo três reações que devemos ter diante das tragédias às quais somos expostos.

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