Chegamos a Habacuque, o oitavo livro dos chamados Profetas Menores. A esta altura você já deve ter percebido que, embora sejam chamados de menores, em função do tempo ou da quantidade de escritos, as mensagens desses profetas são maiores, isto é, de grande qualidade e relevância, e o livro de Habacuque não foge à regra.
Sabemos que o profeta Habacuque viveu no período que precede o ano 606 a.C., pois ele anunciou fatos dramáticos que se desenrolaram a partir deste ano e se consumaram em 586 a.C. O ambiente em que ele profetizou é a nação de Judá, reino localizado ao Sul. A condição moral de Judá em seus dias, descrita nas primeiras palavras do livro, não era muito diferente do que vemos no nosso país hoje. Observe: “Até quando, Senhor, clamarei por socorro, sem que tu ouças? Até quando gritarei a ti: Violência! Sem que tragas salvação? Por que me fazes ver a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante de mim; há luta e conflito por todo lado’’ (1:2-3). Aquela triste realidade cheia de injustiça, maldade, destruição, violência, luta e conflitos, parece a mesma que encontramos hoje no Brasil ao abrirmos as páginas de um jornal. O povo clamava e esperava que suas cortes julgassem e trouxessem justiça, porém isso não acontecia. Hoje, a população clama contra a violência nas invasões de escolas, nos lugares públicos, no campo e nas cortes, mas a solução não vem. Enquanto tantos países se desenvolvem, o Brasil passa por crises atrás de crises, decorrentes de más e corruptas administrações públicas.
Para que fosse um paralelo perfeito, no entanto, teríamos de fazer uma distinção. O que estava acontecendo na época de Habacuque, não ocorria numa nação como o Brasil. O Brasil é uma nação que, efetivamente, não tem nenhum compromisso com Deus, enquanto Judá era o próprio povo de Deus. Se, por um lado, é possível fazer essa comparação por se tratar de duas nações, por outro, Judá era uma forma de teocracia, com um pacto firmado por Deus, diferentemente do que acontece com o Brasil, um país secular. O paralelo perfeito, portanto, seria colocar Judá de um lado e a Igreja do outro. A realidade da Igreja cristã em nossos dias não é das mais elogiáveis e, ainda que não se equipare à condição que Habacuque descreve da sociedade de Judá, podemos nos indignar, tal como o profeta, com a impiedade reinante ao nosso redor e com o fato de que, aparentemente, Deus não fazer nada sobre isso.
Habacuque diz: “Por isso a lei se enfraquece e a justiça nunca prevalece. Os ímpios prejudicam os justos, e assim a justiça é pervertida” (1:4). Nossas autoridades de investigação afirmaram que o valor desviado no Brasil com a corrupção já alcança trilhões. Eu já me impressionava quando se falava em bilhões, porém agora são estimados trilhões! Imagine se esse dinheiro tivesse sido investido na saúde e educação, em vez de cair nas mãos dos ímpios que prejudicam os justos e pervertem a justiça! Como entender e sobreviver a isso? Como expressar todo o nosso descontentamento e frustração diante da injustiça, insegurança, violência, corrupção, luta e conflitos que nos cercam? O profeta Isaías aponta que os caminhos de Deus não são como os nossos; eles são mais altos. E Habacuque expressa essa mesma compreensão em seu livro. Apesar de ver toda aquela corrupção, violência e injustiça, ele consegue perceber a mão de Deus na história do Seu povo. O conhecimento que ele tinha de Deus interferia e requalificava o sofrimento nas circunstâncias pelas quais ele passava.