Mais que um devocional.

Eduardo Pracucho nasceu em Piracicaba-SP e aos 15 anos, depois de uma perda familiar, sentiu seu chamado para ser médico. Formou-se pela Unesp na Faculdade de Medicina de Botucatu. Foi nesta mesma cidade que conheceu sua esposa Tanise, a responsável por lhe apresentar o Evangelho. Fez residência médica em Cirurgia Digestiva pela UNICAMP, onde finalizou seu mestrado e hoje está prestes a defender seu doutorado. Em Jaú, vive com sua esposa e seus dois filhos, Pietra de 14 anos e Giovani de 11 anos. Congrega na Igreja Presbiteriana Jaú, em que é presbítero e líder dos adolescentes. Recentemente terminou uma pós-graduação pela ABC2- Deus, o Cosmos e a Humanidade a qual fortaleceu seu chamado para um ministério de vida integral. Eduardo ama ler e assistir filmes. Hoje atua como médico-cirurgião Digestivo e Oncológico em Jaú-SP no Hospital Amaral Carvalho. Seja como médico, pai, marido ou amigo, é um cristão comum que vive pelo lema: “Não sou eu mais quem vive, mas Cristo vive em mim”.


  • O que um médico faz e/ou pode fazer?

Quando vamos falar de qualquer profissão, é interessante ler algo referente a história da sua profissão. Às vezes falamos “vou ser médico”, “vou ser psicológo”, “vou ser engenheiro”, mas onde surgiu essa profissão? No caso da medicina, onde surgiu a medicina? o que um médico faz? No ponto de vista de definição sobre ser médico, eu recentemente dei uma palestra para um grupo de alunos de medicina falando um pouco sobre o que motivou eles a fazer medicina, e eu acho que vai de encontro com essa definição do que é o médico e o que ele faz. Eu acho que o estudante terminando a faculdade de medicina tem duas coisas em que ele pode se tornar: um médico ou um técnico de medicina. São coisas diferentes. Porque para ser médico você precisa estar disposto a entrar no caos do outro e tentar participar na transformação do caos em ordem. Isso até remete um pouco de uma perspectiva teológica, mas é basicamente isso. 

Eu posso ser, por exemplo, um técnico de medicina em que qualquer pessoa do Youtube vai ser. Se tiver febre, dou dipirona, está com tosse, dou um xarope, dor de barriga, buscopan, dor nas costas, cataflam e por aí vai. Isso é ser um técnico de medicina. Se eu pegar uma criança de 10 anos de idade e condicioná-la a isso, ela vai prescrever a receita no pronto-socorro tranquilamente, agora, o médico é aquela pessoa que na definição vai tratar a pessoa que está no caos biopsicossocial. Ou seja, são três esferas que você atua. Na parte biológica na fisiologia da pessoa, na saúde mental que envolve a parte psicológica e também atua na área sociológica, parece que não e está sendo um pouco utópico, entretanto, existe uma questão de prova de residência, que é quando a pessoa termina a medicina e vai fazer uma especialização, em que o paciente passou pelo médico tratando diabetes, fez o teste e estava alto  a diabete dele, o açúcar do sangue muito alto,  o médico passou um remédio para baixar a diabetes. Na semana seguinte o paciente foi refazer o teste e continuou alterado, então o médico prescreveu a insulina e o paciente começou a tomar insulina, voltou na outra semana e nada de melhorar, por este motivo, o médico indicou mais insulina, mas o paciente voltou na outra semana e não melhorava, até que resolveram visitar o paciente  em casa e perceberam que  o paciente morava sozinho, guardava os remédios no armário e esquecia de tomar, além disso, não tinha geladeira para conservar a insulina. Então, isso é a parte social. Como você vai tratar de um paciente se  você não sabe como ele mora, onde ele mora, com quem ele mora.

Falando sobre a medicina, existem três tipos de medicina. Tem uma medicina que se chama medicina generalista. Hoje os currículos de medicina são assim, voltados a formar médicos generalistas. É a ideia de você ir em um clínico geral e, independente do que você tiver, ele vai ou te medicar, ou te encaminhar para  algum especialista. A segunda medicina que existe, é a medicina especializada que esse cara que está recebendo do generalista. Eu sou um médico especialista  em cirurgia do aparelho digestivo, trabalho com câncer e com cirurgia bariátrica. Então você  tem uma especialidade, ou seja, tem um médico que é psiquiatra, outro que é um endocrinologista que trata do diabete, tem o médico que é socorrista, emergencista e trabalha no pronto-socorro, tem o intensivista que trabalha na UTI, o pediatra, o ginecologista, enfim, medicina especializado. Entretanto, existe a terceira medicina que se chama medicina pública, que é a medicina da saúde coletiva. É uma medicina que você já tem um olhar para saúde pública em que você vai trabalhar com epidemiologia e entender como as doenças se comportam em uma população. Sendo assim, você vai ser obrigado a conhecer mais sobre a gestão de saúde pública. Esse é  trabalho que o gestor da Saúde de um município realiza, ou por exemplo, de um gestor de um posto de saúde. Nesse sentido, o olhar também é especializado, porém, é um olhar direcionado a uma gestão de informações de padronização de condutas, padronização de medidas de saúde pública. 

Você acabou de sair de uma época de pandemia. Então, olha só que interessante. Teve uma confusão enorme que aconteceu nessa época porque você pegava muitos especialistas. Pegava o imunologista e a vacina. Você pega o cara que é o infectologista que cuida realmente da infecção do covid, também tinha o cara da saúde pública que é um epidemiologista e cada um começou a falar uma coisa, cada um na sua perspectiva, e o correto era que você tivesse concílios de profissionais que envolviam dessa diversas áreas que pudessem se pronunciar como sociedades, sendo assim , teríamos que nos apoiar numa medida pública populacional. Teve gente que fazia vídeo no YouTube  e falava: “pessoal faça isso porque eu tô vendo gente isso e aquilo”. Esse tipo de medicina que você vê na prática pessoal e querer aplicar para esfera pública, é errado, pois, não funciona assim, porque você tem todo um processo de estudo científico e medidas científicas populacionais que tem que ser feitas para você poder sair dando conduta para as pessoas de forma pública. E quando a pessoa chega para mim e fala assim: “Edu,  o que eu faço para tal coisa? Eu tô sentindo isso e isso”, estou dando uma conduta médica para um paciente. o que você acha que nós devemos fazer em relação a vacina? O que nós devemos fazer em relação a tomar o coquetel que previne o covid? Eu não posso falar da minha perspectiva pessoal, porque é uma conduta pública e tem outros fatores a serem analisados. 

Por fim, são essas as três medicinas que existem. Hoje a pessoa está se formando e ela tem esses três caminhos para seguir. “Eu tô fazendo medicina,  Edu, estou assistindo esse vídeo aqui, então, o que eu tenho hoje para seguir?”. Você vai terminar o seu sexto ano e vai escolher essas três situações. Além disso, tem uma quarta que também está dentro dessa esfera pública da saúde coletiva, que é a medicina do trabalho. É quando você vai trabalhar para empresa e vai prestar serviço para a área Empresarial, às vezes até por uma esfera Municipal, Estadual para analisar essa questão das doenças ocupacionais. Enfim, são esses caminhos que o aluno de medicina pode escolher.



  • Como você decidiu que deveria cursar Medicina? Houve alguma interferência divina?

Para mim é muito gratificante poder compartilhar um pouco do que aconteceu em minha vida. Eu sou nascido em Piracicaba, sou piracicabano, nós temos um sotaque um pouco mais arrastado no “R”, com muito orgulho. Os meus pais são nascidos em Jaú  e fizeram a vida em Piracicaba. Eu sou de um lar católico e cresci frequentando missa, era católico não praticante, e quando terminei a primeira comunhão e entrei no colegial, meus pais não eram muito participantes da igreja e nesse período, senti em meu coração que devia confirmar minha fé, e no catolicismo isso se chama crisma, então resolvi fazer crisma por conta própria e terminei. Eu sou uma pessoa que  tenho facilidade para falar, sou comunicativo, e no tempo de crisma o pessoal me convidou para ser coordenador e eu ajudei por um ano. Nesse período, aconteceu algo espetacular. Eu sempre fui muito bom de exatas e naquela época eu tinha certeza de que iria fazer alguma faculdade de física, ou matemática, ou química, alguma coisa para a área de exatas. Entretanto, tivemos uma situação em que uma tia minha que era evangélica e o filho dela estava no seminário para ser pastor, e é engraçado que quando eu tive a crisma e chamei alguém para ser o meu padrinho, chamei ele e ele foi. Foi meio escondido, mas foi. Ele perguntou o porquê e eu disse que era porque ele era a pessoa em quem eu me espelhava. Ele foi, e foi muito usado por Deus porque ele não desmereceu meu ritual de crisma, mas me colocou para pensar sobre muitos dogmas que estava acontecendo ali, muitas coisas que fazíamos por fazer, por ritual, e aquilo começou colocar algumas interrogações em meu coração.

Nessa época a mãe dele faleceu de endometriose, que é uma doença ginecológica que quando se torna grave  pode causar vários problemas na barriga da paciente, ela precisou passar por  várias cirurgias e em uma das últimas cirurgias, ela teve uma complicação e acabou morrendo por volta de 45 anos de idade. Nesse tempo eu tinha entre 15 e 16 anos. Lembro até hoje que fomos conversar com o médico para recebermos a notícia, queríamos uma palavra só de explicação do que tinha acontecido, uma palavra de conforto, mas nós não tivemos isso. Simplesmente tivemos o comunicado de que ela morreu, era grave, ponto final e sinto muito. Aquilo me marcou de uma forma que foi uma faca que atravessou até as costas, porque essa tia  era como uma mãe para mim. Em todas as férias eu ia para Jaú e passava as férias na casa dela. Ela era aquele tipo de tia em que você vai na casa dela e faz tudo o que você não faz na sua casa, e isso foi algo que me feriu muito, pois, nós, quando procuramos um médico, não conhecemos a pessoa. Então quando você vai procurar uma pessoa que você não conhece, não sabe se essa pessoa tem bom caráter, se ela é honesta, se é competente o suficiente, e você confia aquilo de mais precioso que você tem, que é a sua vida e você não sabe nada sobre isso, o que é muito grave. Ou seja, isso foi um conjunto, é como se fosse a plenitude   dos tempos na minha vida, é como se Deus estivesse me cutucando na minha crisma com meu primo, eu perdendo minha tia que era mãe dele, eu passando uma situação com o médico que não teve informação nenhuma (e não tem nenhum médico na minha família), e eu falei que aquilo não poderia ficar daquele jeito e deveria mudar, e eu quero mudar a história  da minha família e a história da medicina. Naquele dia eu decidi que queria ser médico. Depois que eu descobri uma fala que é utilizada pelos médicos, inclusive, vários autores falam, que diz o seguinte “você pode, algumas vezes medicar, outras vezes você pode aliviar, mas sempre você pode consolar”, eu foi ali que eu senti o meu chamado. A partir desse momento eu comecei minha trajetória de prestar medicina.

Eu morava em Piracicaba, prestei vestibular, sempre fui bom aluno, mas nunca fui o top. Sempre fui bom aluno, mas sempre gostava bastante de ter lazer, de interagir, de fazer uma bagunça e é bem gostoso isso de você ter uma vida plena, de você estudar e interagir. Prestei vestibular no terceiro colegial e não passei, todos os meus amigos passaram em medicina e eu não  passei. Nisso fiz mais um ano de cursinho e na lista de espera eu passei na UNESP em Botucatu. Foi uma coisa especial, meu pai foi comigo, não imaginava que eu iria passar em medicina. Comecei a  minha história em Botucatu na UNESP, comecei  a fazer medicina lá e medicina é um curso que te dá muitas oportunidades, se você é cristão, você deve ler isso com atenção, pois te dá muitas oportunidades de pecar, porque é uma fase em que você está fora de casa, tendo contato com muitas pessoas, se você é solteiro a chance de se tornar um namorador, de homem sair com menina, menina sair com homem, vai em festa, é uma época em que você tem muito acesso a bebedeira, a drogas, a orgias e muitas outras coisas.  E esse foi o tempo do meu primeiro ano de faculdade. Até o meu quinto ano de faculdade foi um período negro da minha vida, pois, foi uma época em que eu me diverti muito, aproveitei muito os meus amigos de forma saudável, mas teve um lado da minha vida que eu tenho vergonha, por isso não vou falar aqui na entrevista, que é o lado do velho homem.  Eu me afastei bastante de Deus. Entretanto, é engraçado que eu morava com um cara em uma república, nossa república tinha tanta gente que o apelido dela era “Albergue”, e teve  uma vez que fizemos uma festa e esse cara olhou para a gente, ele era espírita e ainda é, e falou “Cara, esses não são os meus amigos. Eu quero os meus amigos de volta”, e nós já estávamos no quarto ano de faculdade e aquilo me marcou, pois me fez refletir sobre para onde eu estava indo e o que estava me tornando. Eu estava fazendo medicina, ainda era um bom aluno na faculdade, mas eu aproveitava muito a minha vida social e acabei me perdendo, e foi aí que decidi dar um jeito na minha vida de duas formas: virar gente e virar médico. Por esse motivo, resolvi sair da república e ir morar sozinho. Durante esse período, Deus falou que tinha chegado a minha hora e que eu era Dele, e Ele me apresentou a minha esposa. Conheci minha esposa, comecei a namorar com ela, ela não é médica, mas era de Botucatu. Ela já era cristã, frequentava a igreja presbiteriana, e eu não sei como dizer, pois a graça de Deus é irresistível. A minha é a encarnação da graça de Deus em minha vida. Foi ela quem me apresentou o evangelho, a família dela é uma benção na minha vida, e aí começou a transformação do velho homem para o novo homem. Isso foi bem engraçado porque foi na época em que eu estava virando interno, e eu não apenas estava virando um novo homem, como também um médico de verdade. Eu me converti no quinto ano de faculdade, fiz a profissão de fé, me formei  e prestei residência de cirurgia geral, passei em Botucatu de novo e já estava namorando com minha esposa, e no meu segundo ano da residência de cirurgia geral nós nos casamos. Prestei vestibular de novo para a especialidade de gastrocirurgia e passei em Botucatu e na UNICAMP. Nós já estávamos morando juntos e eu decidi conhecer outra universidade, e nos mudamos para Campinas.



  • Como foi a escolha da tua área de atuação na medicina?

Eu queria ser neurocirurgião porque achava  que seria legal entender da cabeça das pessoas, mas na primeira prova de neuroanatomia, de 0 a 10 eu tirei 3 e entendi que aquilo não era para mim. Corri atrás para não ficar de exame na faculdade e a última prova da anatomia era abdômen. Eu precisava tirar 9,7 para passar e tirei 9,8. Daí eu falei “acho que barriga é a minha praia”. Eu fiz um estágio durante a faculdade de gastrocirurgia, conheci um cara espetacular  que estava fazendo residência que se chama Sandro Angelo Nunes, que trabalha em Campinas e é gastrocirurgião lá, e ele mudou a minha vida porque fez eu me apaixonar por gastrocirurgia. Nesse período, eu fui para a UNICAMP na residência, morei 2 anos em campinas, não tomei água de Campinas (brincadeira para os campineiros), fiz a UNICAMP que foi uma faculdade que foi um divisor de águas na minha vida, pois é uma faculdade maravilhosa e o serviço de gastrocirurgia de lá é espetacular. Eles me  trouxeram um tipo de formação que eu sou muito grato até hoje. Quando terminei a residência, estava no último ano, minha esposa engravidou, minha filha nasceu na UNICAMP e  quando eu terminei a residência, tinha algumas propostas de trabalho, mas eu sentia que algo me chamava para Jaú. Eu sempre gostei de câncer, eu tenho uma atração por caos e queria trabalhar com câncer. O Amaral Carvalho tinha uma chance de eu conseguir  ir para Jaú, tivemos algumas conversas e não deu certo, e quando eu cheguei em Jaú, tentei entrar no Amaral e não consegui porque as portas não se abriram para mim. Entretanto, a igreja que era da minha tia que morreu, é uma igreja presbiteriana em Jaú. Eu falei para minha esposa que tinha duas propostas: ou eu ia para Barcelona virar transplantador, ou eu iria para Jaú. Nisso eu lembrei de Abraão e Ló, e eu falei “cara, os pastos verdejantes de Barcelona”, mas no fim fui para Jaú porque eu acreditava que aquela igreja seria a melhor coisa para a vida da minha família e na minha vida. Quando Deus chama as coisas vão. Eu acabei entrando no Amaral Carvalho, hoje sou filho do Amaral Carvalho, é uma instituição que eu tenho  uma gratidão enorme, porque da mesma forma que ela me fez, eu também tenho um pedacinho meu nela, do que eu tenho feito. Na minha  igreja eu sempre tive chance de servir, comecei dando aula de escola dominical, depois me tornei presbítero da igreja, hoje sou líder dos adolescentes da minha igreja e hoje a minha vida é essa: hoje eu trabalho e Jaú como gastro, sirvo na igreja presbiteriana de Jaú,  sou presbítero da igreja, sou líder dos adolescentes, fui obrigado a me tornar o líder da parte de som e imagem por causa desse universo híbrido virtual, pois minha igreja não tinha e nós ajudamos a desenvolver, sou pai de Pietra que tem 14 anos e do Giovani que tem 11 anos, casado com a Tanise que é a encarnação da graça na minha vida. Esse sou eu, um homem comum.  


  • Martyn Lloyd-Jones antes de ser teólogo, foi um médico muito relevante no século XX, chegando até a se tornar médico do rei da Inglaterra. Porém, através de um encontro com o Senhor, recebeu um chamado ao ministério em tempo integral. Ele relatou: “De que adianta salvar o corpo das pessoas sendo que a alma delas está condenada ao inferno?” O que você acha dessa afirmação?

 

Essa é uma das histórias mais fascinantes dos autores que lemos. Eu já li algumas coisas do Martyn Lloyd-Jones, já me interessei pela história dele, até por ele ser médico.  A pessoa que se formou em medicina e se tornou médico como ele, quando ele abandonou a profissão medicina, mas o ministério da medicina, esse nunca mais saiu dele.  O que eu entendo é que se você lê de forma superficial essa história do Lloyd-Jones, você vai cair no erro que muitas pessoas cometem, os cristãos de forma especial, que é uma dicotomia. Dicotomia é quando dividimos em dois, ou seja, construímos uma vida dupla. Durante a semana eu sou médico  e no final de semana eu vou à igreja e sou cristão. É igual quando você diz ser médico só até às 6 da tarde, e agora que está em casa, é da sua família. Nessa perspectiva, você vai criando dicotomias, que é algo que as pessoas constroem, claro que não intencionadas, mas porque temos a tendência de dividir cada coisa em seu quadradinho. Entretanto, quando Cristo veio, Ele veio para que tivéssemos vida plena em abundância, e nós somos seres integrais, não é possível dividir. Então, se é feito uma leitura superficial  do que Lloyd-Jones fez, dá a impressão de que só conseguimos servir a Deus se largarmos a profissão, porque as pessoas estão indo para o inferno e não adianta nada. Nesse sentido, iremos criar um raciocínio de que não iremos ter psicólogos, não iremos ter médicos, não teremos biólogos,  não teremos um monte de profissão e todos irão trabalhar na igreja. E o que iremos fazer na igreja? Iremos só orar, fazer culto e escola dominical? E se alguém tiver uma dor de barriga na igreja? vamos fazer igual está em Tiago 5? Vamos pegar o óleo, o azeite, vamos derramar, chamar os presbíteros, orar e vai curar? Vai! Eu sei que vai curar! Mas, o que esse texto quer dizer é que não é só atuando como médico que você cura, mas também orando. Porém, ele também está dizendo que não é só orando que se cura, mas derramando óleo e atuando sendo médico. Não é à toa que Crist disse enquanto estava no deserto “…que nem só de pão viverá o homem, mas também da palavra de Deus…”, mas não só da  palavra viverá, como também de pão. O que aconteceu com Martyn Lloyd-Jones, nós temos que nos transportar para a época dele, pois, ele trabalhou muito tempo como médico  e podemos ter certeza que para ele ter percebido que as pessoas estavam indo para o inferno, é porque ele falou do céu para essas pessoas, porém, não conseguiu falar tanto como gostaria. Nisso, eu tenho certeza que ele caiu naquele texto “do que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”, tenho certeza que ele caiu nesse texto e isso mexeu com ele. 

   Eu imagino que ele ganhava pessoas deixando de ficar doente, e ele falava um pouco de Cristo para aquela pessoa, mas não era suficiente. Aconteceu que Martyn Lloyd-Jones percebeu que chegou em uma determinada idade em que ele conseguia contribuir  mais fazendo a atuação dele para alma das pessoas do que para a medicina, pois, na medicina também temos vida útil. Foi no tempo de Deus em que ele percebeu que contribuiu para a medicina e agora iria atuar um pouco mais à serviço do reino. Entretanto, ele não abandonou a medicina. É certeza que enquanto pastor e teólogo, ele também foi muito médico entre as quatro paredes. Quantas pessoas ele atendeu na igreja dele? Mas ele partiu para uma outra fase. Pessoas que contribuíram para a ciência e também para a fé delas, agora perceberam que podem contribuir mais de outra forma. 

Quando estou atuando como médico, como psicólogo, padeiro, vendendo uma roupa numa loja, não importa a sua profissão, o evangelho  precisa estar totalmente imerso nessa atmosfera. Somos indivíduos plenos. Quando chego em minha casa, vou falar que não tenho raciocínio médico com minha família? Minha cabeça funciona de fluxograma. eu sou médico em casa, sou pastor da minha família, quando estou no consultório sou pastor do meu paciente. É claro que não vou enfiar o evangelho a goela abaixo de nenhum paciente. Jesus disse “eis que estou a porta e bato”, eu também bato, só que se abrirem a porta eu dou de bandeja o evangelho para ele.

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