Você pode estar tratando seu filho ou aluno como adulto e não sabe.
Na era medieval, as crianças eram tratadas como miniadultos, não se tinha uma preocupação em demonstrar um olhar diferente para a infância. Filhos pequenos trabalhando desde cedo para o sustento da família e adultos abordando temas pesados e se comportando de maneira inapropriada diante de menores eram cenas comuns no cotidiano da época.
Foi somente na modernidade que o conceito de infância começou a ganhar importância e a sociedade passou a entender que essa fase da vida requer um tratamento singular.
Hoje, na chamada pós-contemporaneidade, o tema da adultização ganha destaque quase como se a percepção de infância tivesse regredido aos tempos medievais, é claro, em um contexto bastante diferente.
A explosão do assunto no Brasil veio com a recente denúncia feita pelo influenciador digital Felca com foco na erotização precoce de crianças e adolescentes e paralela exposição no mundo digital.
Para os cristãos que abraçam os valores bíblicos em essência, porém, a erotização parece um mal distante da realidade do lar e do ambiente de culto, o que gera uma falta segurança. É necessário que o povo de Deus esteja atento a outras formas de adultização de igual maneira prejudiciais à criança e que podem estar sendo praticadas e passando despercebidas.
Antes de citar essas práticas, porém, vamos compreender o que é, afinal, adultização: trata-se da ação de expor crianças e adolescentes a conteúdos, comportamentos e responsabilidades de adultos antes do tempo natural de desenvolvimento para tanto. Isso pode ocorrer não apenas pela erotização ou sexualização. Quer ver?
Fique atento aos tópicos abaixo e reflita se você pode estar tratando seu filho ou aluno como adulto e não sabe:
Pressão estética
Foi-se o tempo que as roupas infantis tinham o foco no conforto da criança e em uma beleza pueril. Hoje, é tão comum observarmos nas vitrines do segmento a moda adulta sendo adaptada para as crianças seguindo um estilo inapropriada de vestimenta, incluindo saltos nos calçados, roupas apertadas e desconfortáveis, blusas curtas.
A indústria cosmética e os salões de beleza também têm explorado o público infantil como se os pequenos tivessem as mesmas necessidades estéticas de um adulto. Marcas famosas criam batons com personagens, cremes prometem aos pequenos resultados ideais etc.
Cuidado! Se você tem incentivado sua criança a buscar uma estética que segue uma tendência adulta, essa atitude pode estar desenvolvendo uma necessidade fora de tempo e, inclusive, prejudicial à saúde mental e física.
Excesso de afazeres
Judô, balé, inglês, ginástica rítmica, aula de canto, natação. Todas essas atividades podem ser positivas para uma criança. O excesso delas, porém, por certo é extremamente prejudicial. Por quê? Porque criança precisa ter tempo para brincar e para o ócio.
O adulto tem maturidade emocional para gerir uma agenda repleta de afazeres, a criança, não. Além de gerar estresse, muitos afazeres se tornam responsabilidades que sobrecarregam o emocional dos pequenos. O tempo ocioso, por mais que inicialmente incomode a criança, gera criatividade e interação com o mundo real.
Exploração da imagem
Se você tem a tendência a registrar qualquer passeio, refeição ou atividade que seu filho ou alunos realizam na intenção de expor isso nas mídias sociais, cuidado! Reflita com profundidade com qual objetivo você faz isso. Por vezes, queremos ganhar status midiático usando a imagem das crianças. E isso vale também para aquelas imagens de crianças chorando na presença de Deus que vão para os stories e feeds do Instagram.
A exposição midiática de menores, por mais pura e bem-intencionada que seja, gera na criança a comparação, a competição, o desejo por status, admiração e fama. Questões quer permeiam o imaginário adulto, mas não podem ser uma preocupação infantil.
Responsabilidades eclesiásticas
Pregador mirim, cantor mirim, pastor mirim. Essas expressões estão pipocando no meio cristão e refletem adultização também. Deus pode usar uma criança? Sabe-se biblicamente que sim, mas colocar nas costas de um pequeno uma responsabilidade espiritual e eclesiástica tão séria, obviamente gera impacto negativo no desenvolvimento emocional e na identidade da criança.
A Bíblia diz que tudo tem seu tempo debaixo do céu e, ainda fala que para exercer determinadas responsabilidades, é preciso maturidade. Atente-se para não colocar sobre os ombros das crianças da sua igreja de maneira antecipada, nem que seja de forma simbólica, um título eclesiástico próprio de um adulto. Elas precisam ser incentivadas ao relacionamento genuíno com Deus, longe dos holofotes do mundo gospel e da busca por títulos.