É em algum lugar nessa dança entre nós que estendemos a mão e o Espírito nos atrai para perto de Deus que a oração como união com Deus, como conexão com o que é duradouro e verdadeiro, acontece.
Mônica LaRose
“Se você já ousou orar ou não.” Mary Oliver, “Poema Matinal.”
Não há como evitar; a oração é arriscada, desconfortável, assustadora. Na oração, esperamos estar buscando com honestidade e confiança, esperamos estar tocando a fonte infinita de tudo o que é bom — Deus. Mas, com a mesma frequência, nos escondemos quando oramos. O alcance do pecado — aquele desejo instintivo de nos apegar ao controle, de nos esconder, de nos desconectar — atinge até mesmo nossas orações, deixando-nos desconectados do Espírito interior, deixando nossas palavras vazias e ocas, não muito diferentes das “vãs repetições” contra as quais Jesus alertou (Mateus 6:7).
Continue orando mesmo assim. Há um profundo mistério na maneira como o Espírito de Cristo se une ao nosso próprio espírito em nossas tentativas desesperadas e débeis de nos conectar com o que é eterno. Henri Nouwen explica: “O paradoxo da oração é que precisamos aprender a orar, mesmo que só possamos recebê-la como um presente”. É em algum lugar nessa dança entre nós, que buscamos e o Espírito nos aproxima de Deus, que a oração como união com Deus, como conexão com o que é duradouro e verdadeiro, acontece.
E o fundamento da oração é uma graça que excede em muito a nossa capacidade de alcançar. Adoro um poema de Mary Oliver chamado “Poema Matinal”, porque me lembra que a graça de Deus alcança nossos corações de inúmeras maneiras, mesmo que tenhamos medo de pronunciar as palavras de uma oração. “Cada lago com seus lírios flamejantes / é uma prece ouvida e atendida / abundantemente, / todas as manhãs, / quer você tenha ou não ousado ser feliz, / quer você tenha ousado ou não / orar.”
O amor e a graça sustentam o universo, e em Cristo as orações silenciosas do nosso coração são ouvidas e respondidas mesmo quando temos medo de colocá-las em palavras (Romanos 8:26–27).
Ainda assim, vale a pena o risco de aprender a “ousar orar”, a “esperar contra toda a esperança” (Romanos 4:18) para que, pela graça do Espírito, possamos encontrar nossos corações finalmente ancorados em algo além de nós mesmos. Pois é no mistério da oração — seja a oração em palavras ou uma oração de busca silenciosa — que encontramos esperança e vida renovadas em um mundo cercado de desespero e morte. Nouwen escreve: “Provavelmente não há imagem que expresse tão bem a intimidade com Deus na oração quanto a imagem do sopro de Deus… o Espírito tirou nossa estreiteza… e fez tudo novo para nós. Recebemos um novo sopro, uma nova liberdade, uma nova vida. Essa nova vida é a vida divina do próprio Deus. A oração, portanto, é o sopro de Deus em nós, pelo qual nos tornamos parte da intimidade da vida interior de Deus e pelo qual nascemos de novo.”
Continuaremos a fazer mau uso da oração. Continuaremos a moldar Deus à nossa própria imagem, através das nossas palavras e pedidos. Mas, no processo de oração, também encontraremos a graça que nos permite abandonar as nossas ilusões e as formas como sufocamos os nossos corações. Nouwen coloca-o com veemência: “Quando… a oração nos faz alcançar Deus, não por nós próprios, mas nos seus termos, então a oração afasta-nos das preocupações consigo mesmo, encoraja-nos a deixar o terreno familiar e desafia-nos a entrar num novo mundo que não pode ser contido dentro dos estreitos limites da nossa mente ou do nosso coração. A oração… é uma grande aventura porque o Deus com quem entramos num novo relacionamento é maior do que nós e desafia todos os nossos cálculos e previsões. A transição da ilusão para a oração é difícil de fazer, pois leva-nos de falsas certezas para verdadeiras incertezas, de um sistema de apoio fácil para uma rendição arriscada, e dos muitos deuses “seguros” para o Deus cujo amor não tem limites.”
Uma rendição arriscada. Mas, embora pareça arriscada, embora seja arriscada se o nosso objetivo for preservar uma sensação de controle e segurança, o maior risco é não tentar a “grande aventura” da oração, de viver a nossa vida em relação a Deus.
Uma das minhas orações favoritas para encerrar o dia é a oração atemporal de Simeão, ainda rezada em todo o mundo como uma celebração da aventura de encontrar Deus e de se entregar a Ele em confiança. Ela diz assim: “Senhor, agora podes deixar o teu servo partir em paz, / pois os meus olhos já viram a tua salvação, / que preparaste para todo o mundo ver, / luz para iluminar os gentios, / e para a glória do teu povo Israel” (Lucas 2:29-32). Nessas palavras, vemos o fundamento de uma vida de oração. Pois a cada dia a salvação de Deus nos toca, uma luz em nossa escuridão e esperança em nosso desespero, e a cada noite é essa graça que nos permite fechar os olhos em paz, prontos para sermos sustentados pela graça, prontos para recomeçar a aventura na luz da manhã.