O FILHO COMO DEUS
Os escritores do Novo Testamento referem-se, repetidamente a Jesus Cristo como o Filho de Deus. Mas qual o significado deste título?
Os testemunhas de Jeová usam esta expressão para dizer que Ele era um filho de Deus, à semelhança de anjos e outros seres humanos. Eles creem que Jesus foi o arcanjo Miguel em forma humana.
Líderes atuais do judaísmo dizem que Jesus foi um grande profeta, e nada mais. Os muçulmanos têm o mesmo ponto de vista. Suzanne Haneef, uma muçulmana contemporânea muito culta, destaca que o Alcorão honra Jesus, ensinando que Ele nasceu sem a intervenção de um pai humano e que foi um grande profeta. Mas ela insiste que o livro sagrado do Islamismo “afirma categoricamente de uma passagem a outra, que Jesus não é o Filho de Deus, […] que esta ideia tem muito mais em comum com as mitologias pagãs, nas quais os ‘deuses’ geravam filhos semidivinos com mulheres humanas, do que com uma religião verdadeira que vem de Deus” (What Everyone Should Know About Islam and Muslims, Haneef, 1979, Kazi Publications, Chicago, “O que Todos Deveriam Saber Sobre o Islam e os Muçulmanos”).
O Novo Testamento, todavia, ensina que Jesus Cristo é o único, o unigênito Filho de Deus (João 1:14,18;3:16,18;1 João 4:9). As Escrituras retratam Cristo como aquele que compartilha a glória de um Deus zeloso que, por meio de Moisés, insistiu que ninguém merecia ser adorado a não ser o próprio Deus. Este Deus compartilha o Seu amor com os anjos e com os mortais. Mas com Cristo o Filho, Ele compartilha a Sua glória.
Para ver até que ponto o Filho compartilha a glória do Pai, vamos considerar a evidência das palavras de Cristo, o testemunho dos apóstolos, as profecias dos profetas do Antigo Testamento e as declarações dos pais da igreja.
As Palavras de Jesus. Os quatro Evangelhos registram muitas palavras que Jesus falou durante o Seu ministério terrestre. Mesmo que não acreditássemos na inspiração do Novo Testamento, teríamos boas razões para aceitar o que eles escreveram como sendo exato. Temos fortes evidências de que os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas foram escritos muito antes de 70 d.C. E embora o Evangelho de João não tivesse sido escrito até cerca de 90 d.C., a evidência de que pertence ao apóstolo João é forte, o qual na verdade, esteve com Jesus durante todo o Seu ministério terreno. Sem dúvida, os apóstolos repetiram as palavras de Cristo quando começaram a proclamar o Evangelho. As palavras de Jesus nos dizem que Ele certamente afirmava ser Deus. Veremos somente duas das extraordinárias afirmações que Jesus fez a respeito de Si mesmo.
Em João 8:58, Jesus afirma que Ele nunca teve um começo. Como só Deus é eterno, esta equivale a uma afirmação de divindade. Para um grupo de líderes religiosos hostis, Ele disse: “Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: antes mesmo de Abraão nascer, Eu Sou!”. Note que Jesus não disse: “Antes que Abraão tivesse nascido, Eu nasci”. Ele disse: “Antes que
Abraão existisse, Eu Sou”. Abraão nasceu dentro dos limites do tempo. Jesus declarou que a Sua própria existência transcende o tempo. Ele sempre existiu. Ele não teve princípio. A declaração de que Ele nunca teve um princípio é suficiente para estabelecer a divindade de Cristo, mas alguns estudiosos da Bíblia veem algo mais nesta afirmação. Eles afirmam que Jesus Cristo declarou a Si mesmo como sendo o “Eu Sou” de Êxodo 3:14. Mesmo que este ponto seja discutível, o fato de Jesus Cristo afirmar nunca ter tido um princípio é suficiente para estabelecer a Sua divindade.
“Eu lhes digo a verdade: antes mesmo de Abraão nascer, Eu Sou!”— Jesus. Encontramos a segunda afirmação de Cristo, na qual chamou a Si mesmo de Deus, em João 10:30. Enquanto participava da festa da dedicação em Jerusalém, Ele disse: “O Pai e eu somos um” Os líderes religiosos reconheceram que Ele estava reivindicando a divindade, quando Ele fez esta afirmação. Lançaram-lhe pedras e disseram que o estavam fazendo “Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas por blasfêmia. Você, um simples homem, afirma que é Deus!” (João 10:33). Eles entenderam melhor as palavras de nosso Senhor do que os testemunhas de Jeová nos dias de hoje. Compreenderam perfeitamente o significado das palavras de Jesus, mais profundas que a declaração de um homem quando diz: “O Pai e eu somos um” Este marido estaria dizendo simplesmente que ele e sua esposa são um em seus desejos, planos ou ambições. Jesus obviamente quis dizer mais do que isto. Referiu-se à
relação entre Ele e o Pai, pois eles são um em essência. Os judeus sabiam que Jesus reivindicara a deidade a Si mesmo.
Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas por blasfêmia. Você, um simples homem, afirma que é Deus! (João 10:33).
Jesus claramente via-se a Si mesmo como sendo o Filho de Deus. Ele se via como sendo uma divindade.
O Testemunho dos Apóstolos. Os homens que escreveram o Novo Testamento, também não tiveram dúvidas a respeito da divindade de Jesus Cristo. Alguns deles podiam lembrar-se do dia em que seu amigo Tomé, viu Cristo ressuscitado e exclamou: “Meu Senhor e meu Deus!” (João 20:28). Esta não foi uma expressão de surpresa “Oh, meu Deus!” que ouvimos tantas vezes hoje em dia. Nenhum judeu do primeiro século usaria o nome de Deus dessa forma. Os apóstolos recordaram muito bem que Jesus aceitou esta designação de divindade.
Quando o apóstolo João, que estava presente naquela ocasião, começou o seu Evangelho, ele o fez da seguinte forma: “No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (João 1:1). Ele prosseguiu declarando que a Palavra se tornou um ser humano que refletia a glória de Deus (veja v. 14). A expressão no versículo 1: “a Palavra era Deuss” é tão clara que quase todos os estudiosos da Bíblia o veem como uma declaração de que Jesus Cristo é Deus. Entretanto, os testemunhas de Jeová não concordam com isso. Eles argumentam que a última frase de João 1:1 deveria ser: “a Palavra era um deus”. Eles apontam que a palavra deus não tem um artigo definido. Não diz: “a Palavra era o Deus”.
“No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (João 1:1).
Eles estão certos nesta afirmação, mas estão errados ao concluir que isto não atribui divindade a Jesus Cristo. Robertson, Wescott, Morris e outros eruditos respeitáveis nos contam que o apóstolo João tinha boas razões para omitir o artigo nesta posição. Se ele tivesse escrito: “a Palavra era o Deus,” ele teria negado a distinção que existe entre o Pai e o Filho — um erro feito por um homem chamado Sabellius e rejeitado pelos pais da igreja.
Se João desejasse dizer que Jesus era uma forma inferior de divindade, ele teria usado a palavra grega theios em lugar de theos. Morris diz: “Esta palavra estava disponível e a encontramos no Novo Testamento” (Atos 17:29; 2 Pedro 1:3).
Além disso, o contexto deixa claro que a Palavra é Deus, e não simplesmente uma quase-divindade — um ser entre Deus e as coisas criadas. A Palavra estava no princípio com Deus (João 1:2). A Palavra estava envolvida na Criação de todas as coisas (v.3). E possui uma vida que é única — uma vida não criada, que era Sua desde a eternidade e é a fonte de luz espiritual (v.4).
Está claro que a tradução de João 1:1 é correta: “a Palavra era Deus” A ordem das palavras no grego, o uso de theos em lugar de theios e o contexto exigem essa tradução. Além do testemunho de João de que Jesus Cristo é Deus, encontramos afirmações mais claras nos escritos de Paulo, com respeito a essa mesma questão. Ele declarou que nós como cristãos estamos “enquanto aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tito 2:13). Note que diz: “ nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” e não “nosso grande Deus e o Salvador Jesus Cristo”. Como Paulo não colocou artigo antes da palavra Salvador, está claro que ele viu Jesus Cristo como sendo nosso grande Deus.
…enquanto aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (Tito 2:13).
O apóstolo Pedro usou uma construção grega semelhante quando se dirigiu a seus leitores como “escrevo esta carta a vocês que compartilham de nossa preciosa fé, concedida por meio da justiça de Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador” (2 Pedro 1:1).
Em Hebreus 1:8,10, o escritor cita diversos versículos do Antigo Testamento que referem-se claramente a Deus e aplicam-se a Jesus Cristo.
“Teu trono, ó Deus, permanece para todo o sempre” (citação de Salmo 45:6). “Muito tempo atrás, lançaste os fundamentos da terra e com as tuas mãos […] teus dias jamais terão fim” (citação do Salmo 102:25-27).
O escritor desta epístola, instruído cabalmente nas Escrituras do Antigo Testamento e por isso sendo um monoteísta preciso, não estava nem um pouco relutante em declarar a divindade absoluta de Jesus Cristo. Ele identificou Jesus Cristo como Deus e SENHOR. “Teu trono, ó Deus, permanece para todo o sempre; tu governas com cetro de justiça” (Hebreus 1:8).
As Profecias dos Profetas do Antigo Testamento. Mesmo as Escrituras do Antigo Testamento, tão queridas ao povo judeu, declararam a divindade do Messias que haveria de vir com uma clareza cristalina. Uma das profecias mais extraordinárias neste sentido é a de
Isaías 9:6 “Pois um menino nos nasceu, um filho nos foi dado. O governo estará sobre seus ombros,
e ele será chamado de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz”.
Dois destes nomes dados ao Messias que haveria de vir expressam inegavelmente a Sua divindade — “Deus Poderoso” e “Pai Eterno”. Os testemunhas de Jeová traduzem a primeira expressão como “um deus poderoso” mas não são consistentes. Eles encontram a mesma expressão hebraica em Isaías 10:21 onde devem admitir que refere-se a Jeová, o Deus de Israel. O termo “Deus Poderoso”, como o encontramos aqui, é, portanto, uma declaração evidente da divindade do Messias.
O nome “Pai Eterno” pode ser traduzido como “Pai da Eternidade.” Mas na realidade não importa a expressão que escolhemos ambas expressam divindade. Como somente Deus é eterno, o nome “Pai Eterno” pode ser dado somente a Deus. E o profeta declarou que este título pertence ao “Menino” e ao “Filho” que haveria de vir como o Messias.
As Declarações dos Pais da Igreja. Os pais da igreja primitiva lutaram para encontrar uma resposta satisfatória para a pergunta: “Quem é o Filho?” Sabiam que as Escrituras atribuíam a divindade ao Filho. Viram também nas Escrituras as evidências de que Ele era verdadeiramente humano. Não sabiam exatamente como o humano e o divino se uniam em uma só Pessoa. Alguns colocaram tanta ênfase em Sua divindade que se inclinavam a negar a Sua verdadeira humanidade. Outros erravam, seguindo a direção contrária. “Pois um menino nos nasceu, um filho nos foi dado. O governo estará sobre seus ombros, e ele será chamado de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz” (Isaías 9:6).
Finalmente, um homem chamado Arius trouxe um ensinamento que negava a divindade de Cristo. Ele disse que antes de Jesus vir ao nosso mundo por meio da virgem Maria, Ele pré-existiu como o primeiro e o mais elevado de todos os seres criados. Esta negação da divindade de nosso Senhor, embora promovida por alguns líderes proeminentes daquela época, simplesmente não pôde persistir à luz de um estudo sério da Bíblia. Pouco a pouco, os eruditos cuidadosos que trabalhavam com as informações bíblicas, concluíram que Jesus Cristo é ambas as coisas, completamente humano e completamente Deus. Além disso, eles disseram que estas duas naturezas — a humana e a divina — estavam unidas em Sua única Pessoa. O Credo de Atanásio (Atanásio morreu no fim do século 4º) dizia o
seguinte: “Assim o Pai é Deus; o Filho é Deus; o Espírito Santo é Deus. Porém não são três deuses… nem desfazendo a essência, nem dividindo a substância”.
O resultado é que, com poucas exceções, os cristãos de todas as épocas têm declarado a divindade de Jesus Cristo como está expressa no Credo de Atanásio. Todas as grandes divisões da igreja — Católica Romana, Ortodoxa, Protestante, Batista e Pentecostal — concordam neste ponto. A grande maioria daqueles que reivindicam lealdade a Jesus Cristo, o consideram tanto Deus como homem, em uma Pessoa.
O fato de Jesus ter sido completamente humano é claramente revelado na Bíblia. Ele nasceu como um bebê cresceu e aprendeu como outros meninos (Lucas 2:40-52), foi filho de um carpinteiro de Nazaré (Marcos 6:3), cansou-se como todos nós (João 4:6), e até admitiu haver algumas coisas que Ele não sabia (Mateus 24:36) e na noite anterior a Sua crucificação, Ele temeu terrivelmente a séria prova que o esperava (Mateus 26:36-46). Porém a Bíblia também ensina que Jesus é completamente Deus.
Os pais da igreja não podiam explicar como Jesus podia viver como um ser humano genuíno e permanecer sendo, ao mesmo tempo, Deus (nem nós podemos). Entretanto, somos gratos pela luz que o apóstolo Paulo trouxe a respeito deste problema na sua tão conhecida passagem a respeito de Jesus, esvaziando-se de Sua eterna glória:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:5-11)(ARA). Olhando para trás, para Jesus Cristo em Seu estado anterior de glória, antes de
tornar-se um ser humano, o apóstolo disse: “…subsistindo em forma de Deus” (v.6). Ele usou a palavra grega morphe, traduzida como “em forma de”, para deixar claro que a glória externa que Ele tinha no céu, refletia a Sua forma essencial de ser. Ele é “em sua forma de” Deus.
O apóstolo continuou dizendo que Jesus “não julgou como usurpação o ser igual a Deus” (v.6). Ele renunciou à glória que Ele possuía como Deus, de forma que se pudesse tornar um membro da família humana e ser o nosso Salvador.
A frase “antes a si mesmo se esvaziou”, no grego significa literalmente “esvaziar-se de Si mesmo.” Do que Ele esvaziou-se quando se tornou um membro da família humana? Não esvaziou-se de Sua divindade! Ele permaneceu Deus. Ele esvaziou-se a Si mesmo da glória que possuía e colocou-se sob um relacionamento de dependência com o Pai e com o Espírito Santo. Portanto, embora permanecesse Deus, Ele tornou-se verdadeiramente homem.
Jesus teve que ser um membro da raça humana para ser o nosso substituto apropriado na cruz. Isto explica o fato dele depender do Espírito Santo da mesma forma que espera que os Seus seguidores o façam. Ele estava “cheio do Espírito Santo” quando foi para o deserto a fim de ser tentado por Satanás (Lucas 4:1). Ele expeliu demônios “pelo Espírito de Deus” (Mateus 12:28). Embora Jesus permanecesse Deus, Ele viveu voluntariamente com as limitações de nossa humanidade.
Talvez não entendamos completamente o relacionamento da natureza humana e divina de nosso Senhor, quando viveu aqui num estado de humilhação. Porém, as Escrituras deixam bem claro que embora Ele fosse Deus, foi em Sua condição elementar de homem que Ele enfrentou as provações, os problemas e a dor — até mesmo a cruz.
Este é o Filho com o qual o Pai compartilhou Sua glória. Este é o Filho que se identificou tão intimamente com Deus que o Pai fez o nosso relacionamento com Ele depender do nosso relacionamento com o Seu Filho.
O nosso relacionamento com o trino Deus, todavia, não termina ali. Assim como o Pai fez o nosso relacionamento com Ele depender do nosso relacionamento com o Filho, assim o Filho, fez o nosso relacionamento com Ele depender do nosso relacionamento com o Espírito Santo. Assim como o Pai compartilha a Sua glória com o Filho, o Filho compartilha a Sua glória com o Espírito Santo.
Para refletir:
· Leia Efésios 4:4-6. “Pois há um só corpo e um só Espírito, assim como vocês foram chamados para uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de tudo, o qual está sobre todos, em todos, e vive por meio de todos”. E responda: Como vemos a vida do Deus três-em-um entrelaçada com a vida da igreja? De que maneira esse inter-relacionamento traz encorajamento para você?
· Em sua vida existe uma ligação estreita com a família, amigos, outros cristãos, ou colegas de trabalho a ponto de encorajar a sua vida de fé? Em caso afirmativo, explique.
· Você já teve discordâncias com outros cristãos sobre quem é Deus ou sobre a fé cristã em geral? Como lidou com isso?