A preparação de um pioneiro Parte 3 — Paulo, uma visão de liderança dinâmica
Vantagens pessoais
A mão dominante de Deus ao treinar Paulo para a liderança pode ser claramente percebida nas vantagens que ele desfrutou como resultado de sua história de família e de seu ambiente.
E o que era verdadeiro no caso de Paulo é também verdadeiro para todos nós. A suprema sabedoria de Deus está moldando nosso destino; está desenvolvendo um plano em nossa vida; um Ser supremamente sábio e amoroso está fazendo que todas as coisas trabalhem juntamente para o bem. Na sequência da história de nossa vida, veremos que havia um sentido e necessidade em todos os incidentes anteriores, exceto aqueles que são resultado de nossa própria insensatez e pecado, e que mesmo estes foram feitos para contribuir com o resultado.
É improvável que houvesse outro homem cristão do primeiro século que reunisse em si a maioria das qualidades e qualificações que o constituiriam um cidadão do mundo: um judeu com cidadania romana vivendo numa cidade grega. Tanto por nascimento como treinamento, Paulo possuía a tenacidade do judeu, a praticidade do romano, e a cultura do grego. Essas qualidades o habilitaram a se adaptar aos povos poliglotas entre os quais teria que se deslocar.
Essas virtudes também o fizeram singularmente apto para ser um líder missionário mundial. Para um cidadão romano, nenhuma cidade era estrangeira, então a controvertida questão da extraterritorialidade que aflige o trabalho missionário por tanto tempo não era problema para ele. Vistos e passaportes ainda não tinham sido inventados. Paulo nunca viajaria para muito longe de sua própria bandeira, e, já que a cultura era semelhante em todo o Império Romano, havia poucas barreiras culturais para transpor. Também não havia grandes problemas sociais, econômicos ou de moedas para superar. Sua cidadania romana provou ser uma grande bênção para ele em diversas ocasiões. E como o idioma grego era quase universal, os problemas com a língua eram mínimos.
Por ter recebido sua educação teológica aos pés do mais famoso rabino judaico, ninguém podia simplesmente impugnar a erudição de Paulo ou seu extenso conhecimento da Lei. Além disso, também, era profundo conhecedor dos sistemas filosóficos de seus dias e poderia debater com seus proponentes em suas próprias áreas. “…conversava e discutia com alguns judeus de fala grega” (Atos 9:29).
Sua habilidade em fazer tendas o livrava da desvantagem de ser um fardo financeiro às igrejas emergentes, e evitava as pressões frequentemente geradas por obrigações financeiras.
Desvantagens pessoais
Muitos líderes missionários, hoje, acolheriam com prazer as muitas vantagens que Paulo desfrutou. Mas estas eram provavelmente mais que contrabalançadas pelas severas desvantagens sob as quais ele e seus companheiros tiveram que trabalhar.
Em seu livro The old tea house (A velha casa de chá), Violet Alleyn Storey escreveu: “…alguém já disse: ‘Permita que aqueles que pensam que estão em desvantagem, por alguma aflição no corpo ou no espírito para algum trabalho nobre, lembrem de Paulo’. Milton, o cego que avistou o Paraíso! Beethoven, o surdo que ouviu extensas harmonias! Byron, o coxo que subiu até aos altos Alpes! Quem se achar em desvantagem, lembre-se desses”.
Frequentemente Paulo não tinha um lugar apropriado para pregar. Não demorou até que o considerassem um agitador e as sinagogas se fechassem para ele.
Para sustentar-se, e às vezes a outros também, algumas vezes tinha que trabalhar dia e noite. O maravilhoso é que ele ainda achava tempo para testemunhar continuamente do evangelho.
Aparentemente ele sofria a desvantagem por não ter um físico avantajado. “As cartas de Paulo são exigentes e enérgicas, mas em pessoa ele é fraco” (2 Coríntios 10:10).
No romance escrito no segundo ou terceiro século The acts of Paul and Hecla (Os atos de Paulo e Tecla), temos a única descrição de Paulo existente até o momento. Nela, o apóstolo é descrito como “pequeno em tamanho, com sobrancelhas que se unem, um nariz um tanto comprido, careca, de pernas tortas, com forte compleição física, cheio de graça, pois às vezes ele parecia homem e noutras tinha a face de um anjo”.4
Apesar de não ter uma aparência herculana, ele demonstrava uma resistência física incrível, pois durante todo seu ministério, o sofrimento corporal e o desconforto eram comuns.
Paulo, ao que se indica, não era considerado por alguns um orador comovente, como era Apolo. “As cartas de Paulo são exigentes e enérgicas, mas […] seus discursos de nada valem” (2 Coríntios 10:10).
Falsos mestres legalistas perseguiam seus passos e se esforçavam para neutralizar e dissipar sua obra. Eles refutavam seu apostolado e depreciavam sua autoridade, compelindo-o a resistir, defender-se e a reivindicar sua designação divina.
Paulo sofria pelo afastamento de alguns de seus amados companheiros — Barnabé, Demas, Himeneu e Fileto, para citar alguns. Tais quebras de comunhão eram desesperadamente dolorosas para o seu caloroso e generoso coração de pastor. Para encher sua taça de amargura, ele escreveu em certa ocasião, “Como você sabe, todos os da província da Ásia me abandonaram, incluindo Fígelo e Hermógenes” (2 Timóteo 1:15). Esse foi um duro golpe ao pressionado líder. Além disso, alguns de seus convertidos não se firmaram, tornando-se um peso para o seu coração.
O pesar de seu coração e os severos sofrimentos físicos e privações eram rotina para Paulo: exaustão e dor, fome e sede, frio e nudez, castigos e aprisionamentos, apedrejamento e naufrágio, perigos tanto na terra como no mar eram constantes parcelas de sua experiência missionária (2 Coríntios 11:23-28). Ele resumiu tudo isso em uma frase: “…não tivemos nenhum descanso. Enfrentamos conflitos de todos os lados, com batalhas externas e temores internos” (2 Coríntios 7:5).
Esse dedicado apóstolo trabalhava sob uma sobrecarga constante, mas sem ser vencido por ela. “Irmãos, queremos que saibam das aflições pelas quais passamos na província da Ásia. Fomos esmagados e oprimidos além da nossa capacidade de suportar, e pensamos que não sobreviveríamos” (2 Coríntios 1:8). Mas a pressão na vida de Paulo era geralmente produtiva: “De fato, esperávamos morrer. Mas, como resultado, deixamos de confiar em nós mesmos e aprendemos a confiar somente em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Coríntios 1:9). Além de todas as pressões acidentais, havia o tremendo peso da responsabilidade pelo bem-estar das igrejas que ele ajudou a trazer à existência. “Além disso tudo, sobre mim pesa diariamente a preocupação com todas as igrejas” (2 Coríntios 11:28).
Uma carga insuportável assim esmagaria um homem fraco. Mas Paulo foi um homem que se tornou mestre no segredo de lançar o seu fardo ao Senhor e, ao mesmo tempo, apropriar-se de Sua abundante e suficiente graça.
A atitude do apóstolo para com essas desvantagens era exemplar e é instrutiva para todos os que estão em posições de liderança. Ele não as suportou passiva e relutantemente, mas com toda certeza regozijou-se nelas e na oportunidade de provar e demonstrar a suficiência de Cristo e Sua graça.
Paulo trilhara uma longa distância no caminho para a maturidade espiritual até ser capaz de dizer: “Por isso aceito com prazer fraquezas e insultos, privações, perseguições e aflições que sofro por Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Coríntios 12:10). Ele não considerava tais provações desgraças absolutas, mas as valorizava como instrumentos propostos para conformá-lo à imagem de Cristo. Paradoxalmente, as provações se tornaram canais de graça e ocasiões de júbilo.