Seis janelas do Natal
Na história do Natal, descobrimos seis perspectivas diferentes dos eventos do nascimento de Jesus Cristo. Podemos compartilhar estas perspectivas a partir das percepções daqueles que lá se encontravam e que nos permitem ver e sentir o que eles viram e sentiram através das janelas imaginárias. O que essas janelas nos ensinam?
Elas nos convidam a ajoelhar ao lado de uma humilde manjedoura — e antecipar os horrores de uma dolorosa cruz. Ensinam-nos a glória da encarnação — e a tragédia do pecado humano que exigiu que um Salvador levasse os nossos pecados em Seu próprio corpo. Permitem-nos celebrar o milagre do nascimento — e regozijar-nos no milagre do novo nascimento.
Em suma, elas nos permitem adentrar os eventos que alteraram para sempre o mundo e os que nele habitam; nos juntamos aos humildes adoradores que deram as boas-vindas ao Cristo no Seu nascimento. As janelas, muitas vezes, nos trazem o que mais precisamos — novas perspectivas. Vamos conferir?
A história do Natal é cheia de anjos sempre atarefados levando mensagens para lá e para cá. O primeiro anjo que encontramos é Gabriel, um anjo superior, aparentemente na posição mais alta da hierarquia de comando do reino angelical. Gabriel visitou o planeta Terra para informar aos seus principais personagens e, por fim, ao mundo que o “tempo determinado” chegou — aquele momento tão esperado na história, quando o Messias prometido chegaria (Gálatas 4:4). Isto vem em uma série de anúncios: para Zacarias, Maria, José e aos pastores.
Nós temos ouvido esta história tantas vezes que já nos tornamos imunes ao seu poder e majestade. Falamos sobre aparições angelicais como se elas fossem ocorrências diárias. Elas não eram ocorrências diárias naquela época, e continuam não sendo hoje em dia.
Até este momento, os anjos tinham servido como mensageiros de Deus na história do Natal. Mas levar mensagens não é a única função dos anjos. Na verdade, esta função era realmente secundária em relação às principais atividades que eles exerciam no céu: a de louvar e adorar.
Quando o anjo anuncia a chegada do Filho de Deus, em forma humana, a multidão celestial não consegue mais permanecer silenciosa. Eles levantam suas vozes em exaltação a Deus por Sua glória, por Seu Filho e pelo Seu plano de resgatar o perdido, o cansado, e uma descendência confusa de homens e mulheres. Esta resposta de exaltação torna-se a grande sequência de adoração, que começou naquele primeiro Natal e continua em nossas celebrações atuais.
Desde que a promessa da vinda de um Messias havia sido dada, as mulheres judias desejavam ser escolhidas para este papel privilegiado. Séculos se passaram e nenhum Messias chegou. Então veio a mensagem: chegou o tempo de o Messias nascer e Maria foi escolhida para ser a Sua mãe!
As Escrituras são muito silenciosas sobre os nove meses que Maria carregou o Cristo encarnado, mas podemos fazer algumas suposições com base no que conhecemos sobre a vida. Foi um tempo de novas experiências durante o qual Maria sentiu coisas que nunca havia sentido antes. Ela não possuía nenhuma referência para o que estava sentindo, física e emocionalmente, a cada dia no desenvolvimento da criança. Além disso, ela sem dúvida teve que suportar os olhares e cochichos de seus vizinhos na vila de Nazaré — de pessoas comuns com perguntas comuns sobre o verdadeiro pai da extraordinária criança que estava carregando.
O estigma de palavras indevidas e olhares desgostosos devem tê-la tocado profundamente. E houve certamente momentos em que Maria duvidou de sua própria compreensão: “Eu realmente vi o anjo? — até o milagre ser confirmado.
A confirmação para Maria tinha chegado da fonte mais inesperada — do bebê que tinha saltado no ventre de Isabel ao ouvir o som da voz da Maria. A resposta de Maria, às vezes chamada de Magnífica, mostra o verdadeiro sentido do milagre que ela sentiu pelo privilégio de sua gravidez: Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome (Lucas 1:46-49).
Os pastores eram “homens simples de vidas simples”, como o evangelho de Lucas os descreve: “Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite” (Lucas 2:8). E tinham uma vida de solidão, labuta, perigo e pobreza. No entanto, esses sofrimentos podem não ter sido as suas maiores dificuldades, pois, devido à sua profissão, os pastores eram considerados imundos para as cerimônias. Seu trabalho, entre outras coisas, exigia que suas mãos participassem do parto das ovelhas e, também, que se desfizessem de animais mortos. Por estas razões eram espiritualmente banidos.
Mas esses pastores se depararam com um duplo dilema, pois, não eram apenas considerados imundos pela natureza de seu trabalho, mas também se exigia deles que ficassem constantemente com seu rebanho. Isto significava que passavam semanas até que pudessem deixar suas tarefas de lado, o que os impedia de irem ao templo para que pudessem ser purificados. Era uma espécie de “paradoxo” religioso.
E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:9-14).
É “a glória do Senhor” que desperta admiração e adoração e, no caso dos pastores, medo. Por centenas de anos, a glória do Senhor não era vista na terra de Israel. Mas agora, na presença dos pastores, a glória havia retornado!
Banidos pelo próprio sistema religioso que ajudavam a abastecer, os pastores eram obrigados a procurar a esperança em outro lugar. Naquela noite, eles a encontraram na mensagem do anjo. Esta mensagem de esperança para os pastores era a mensagem de esperança para todo o mundo. Pois, esta criança nascida em Belém se tornaria… o Bom Pastor.
Por tradição acredita-se que José era significativamente mais velho do que Maria, uma hipótese baseada na probabilidade de que ele já estava morto quando Jesus começou a ensinar publicamente. Talvez José tivesse esperado um longo tempo para se casar e agora ansiava pela consumação do seu casamento com a esposa. O noivado entre eles significava que estavam legalmente unidos um ao outro, embora ainda não estivessem vivendo juntos, como marido e mulher.
Portanto, imagine a tristeza de José quando ele ouviu que Maria, sua jovem noiva, pura e religiosa, estava grávida! A sua aparente traição deve ter abalado o seu mundo. Não somos informados se José teve um contato pessoal com Maria para tratar deste assunto. O mais provável é que o pai da jovem, com muita vergonha, tenha se aproximado de José com a notícia. E agora José devia decidir o que fazer, e Mateus nos preenche as lacunas, abrindo-nos uma janela para o interior do sereno caráter do coração de José:
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente (Mateus 1:18-19).
O futuro noivo, com seu coração quebrantado, ponderou suas opções. Se a gravidez de Maria se tornasse conhecida de todos, ele seria publicamente humilhado e seria objeto de pena e zombaria. Mesmo assim, sua resposta não foi de vingança ou até mesmo de demanda por justiça. Ele poderia ter exigido que sua futura noiva fosse apedrejada até a morte pelo pecado do adultério. Em vez de vingança ou castigo, José procurou proteger Maria de maneira diferente sem deixar de obedecer às leis de Moisés.
Enquanto José estava se debatendo entre este dilema, e ao que tudo indica, decidindo por terminar o noivado discretamente, ele recebeu uma mensagem especial do mesmo mensageiro que previamente havia visitado Maria, em Mateus 1:20-23.
A mensagem do anjo foi uma notícia boa e má. A boa notícia era que Maria não lhe havia sido infiel. A má notícia? Quem, algum dia, acreditaria nisso? Como ele poderia explicar aos amigos e familiares a verdadeira natureza da gravidez de Maria? Certamente, tal história pareceria absurda, e ele ficaria marcado como um tolo por acreditar em tal bobagem. Mais uma vez José se deparou com uma encruzilhada de escolhas — uma escolha entre a auto proteção e a obediência.
José respondeu com obediência nesta situação profundamente difícil em sua vida. Não foi fácil ou indolor obedecer, e não veio sem preço. No entanto, esta não foi a única vez que a obediência seria digna de registro em sua vida.
Já em idade avançada, Simeão permaneceu ligado ao templo em Jerusalém, por mais tempo do que qualquer um possa lembrar. Sua devoção é capturada por Lucas com apenas algumas palavras: Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele (Lucas 2:25).
A esperança de Simeão veio de uma promessa extraordinária que o Espírito Santo lhe dera: Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor (Lucas 2:26). Simeão não veria a morte ATÉ QUE visse o Cristo do Senhor.
Agora, depois de séculos de espera, um sinal foi dado: a vida de Simeão serviria como uma linha de demarcação na história. Se ele morresse, o Messias estava vivo em algum lugar no planeta Terra. Mas a segunda parte da promessa era ainda mais impressionante. Simeão não viveria simplesmente até a chegada do Messias; ele veria pessoalmente o Prometido!
Repare novamente na referência ao ministério do Espírito Santo na vida deste homem fiel. O Espírito estava com ele, tinha-lhe revelado a promessa, e agora era o Espírito Santo quem estava levando Simeão ao templo, para que a promessa pudesse ser cumprida (Lucas 2:27-32).
A promessa que tinha guiado sua vida por tanto tempo, havia se cumprido. O Messias havia chegado. De que maneira ele ainda poderia querer algo mais? Ele havia, de fato, segurado Cristo em seus braços! Colocara seus olhos sobre a face de Deus. Por anos, ele aguardara este momento, Simeão deve ter se maravilhado com este encontro prometido.
Em momentos críticos na história, quando a pessoa e o evento se combinam, coisas extraordinárias acontecem. Ana era tal pessoa. Preparada por décadas de devoção espiritual, ela estava exatamente no lugar certo na hora certa.
Durante toda a sua vida, Ana fora uma adoradora fiel e uma profetisa, mas agora, sua função mudou e ela tornou-se uma missionária. “E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (Lucas 2:38). Como diz Herbert Lockyer, “Ana foi uma das devotas remanescentes em Israel que, através dos séculos, mesmo nos dias mais tenebrosos, antes da vinda de Cristo, esperou por um novo amanhecer vindo do alto. Assim que, ela ouviu o louvor de Simeão pela profecia cumprida, ela saiu ao encontro dos seus companheiros devotos para declarar aquela alegre notícia.
O que Ana estava fazendo era meramente a continuação do que ela havia feito por quase sessenta anos — ela estava indo ao templo para adorar. Entretanto, aquela atitude costumeira, é que torna isto tão extraordinário. Ela praticou este ato por cerca de sessenta anos! Imagine o que teria acontecido, se ela tivesse decidido, “Eu estou cansada. Eu faço isto há anos. Eu acho que vou tirar o dia de folga e ficar em casa.” Mas ela não o fez! E sua fidelidade a Deus a posicionou no templo naquela mesma hora que Simeão tomou o Cristo dos braços de Maria e o levantou ao céu, declarando ser Ele o Messias, a esperança de Israel aguardada por tanto tempo.
Os anos de fidelidade de Ana foram recompensados em um momento de celebração. No lugar certo, na hora certa, ela viu o Cristo. Mas ela não parou com a sua adoração ou sua gratidão. Ela rendeu testemunho do que havia visto.