Com relação à mensagem de Obadias, podemos dizer que ele profetizou para uma nação, mas com um olho em outro lugar. Observe o primeiro versículo do livro: “Visão de Obadias. Assim diz o Soberano, o Senhor, a respeito de Edom. Nós ouvimos uma mensagem do Senhor. Um mensageiro foi enviado às nações para dizer: Levantem-se! Vamos atacar Edom!”. Está bem identificado aqui que Obadias profetizou acerca de Edom: um dos reinos vizinhos de Judá, que ficava ao sul do país, numa das regiões mais inóspitas da Terra, e com quem tanto Judá quanto Israel tinham um certo grau de parentesco e uma grande proximidade. Isto, pois o patriarca de Edom era Esaú, neto de Abraão, filho de Isaque e gêmeo de Jacó, o qual, por sua vez, teve seu nome trocado por Deus e deu o nome de Israel para a nação. As Escrituras descrevem que os irmãos, Esaú e Jacó, brigavam já no ventre de Rebeca, sua mãe. Durante sua vida, Esaú vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó e foi trapaceado pelo irmão, com a apoio de sua mãe, o que criou um clima bastante antagônico entre eles. Jacó precisou fugir, para preservar sua vida, voltando posteriormente. É esse o contexto do surgimento da nação de Edom que, inclusive, falava a mesma língua que Israel e Judá, e que é o foco da palavra de Obadias.
Em certa ocasião visitei a Ilha das Peças, no Paraná, e ouvi a história de como o evangelho chegou até lá. Um missionário decidiu ir a uma ilha para pregar o evangelho, porém, foi ameaçado de morte e proibido de descer do seu barco. O missionário, então, começou a, constantemente, fundear o seu barco próximo à ilha e pregar o evangelho de lá mesmo, com um megafone. Um dia, ao olhar para trás, ele viu algo estranho: cerca de um quilômetro atrás dele, havia outra ilha, e a população daquele lugar, querendo ouvir a mensagem, entrava no mar até certa profundidade para conseguir escutar o missionário. Enquanto ele pregava para uma ilha, onde as pessoas não queriam escutar, na outra ilha elas estavam ouvindo e, inclusive, se convertendo. Esse quadro ilustra um pouco do que nos é apresentado no livro de Obadias. Mais de dois terços dos versículos deste livro são dirigidos a Edom, enquanto poucos são dirigidos a Judá. Minha impressão é que, apesar de o profeta estar falando a todo o tempo para Edom, ele o faz de maneira a que o povo de Judá possa ouvir e se inspirar na sua mensagem. São palavras direcionadas a Edom que, no entanto, podem também acalentar o coração do povo de Judá.
O livro de Obadias é muito oportuno os para nossos dias, visto que, de alguma maneira, o povo edomita tinha um grande paralelo com o nosso hoje: eles eram absolutamente secularizados. Não criam na existência de um deus, fosse ele qual fosse, e, até hoje, nenhum arqueólogo encontrou vestígios de idolatria e ídolos por parte deles. Não existia nenhum deus na vida e na avaliação deles, e eles se consideravam os próprios senhores em torno dos quais girava a história. Uma nação altamente antropocêntrica, como se tudo estivesse em torno do ser humano, a respeito do ser humano e fruto da realização humana. Parece que estamos descrevendo o nosso mundo atual, não é verdade? Obadias, então, chega com uma mensagem totalmente contraposta à mentalidade reinante em Edom, trazendo palavras de advertência e punição divina, por conta do que os edomitas haviam feito, nos mostrando que Deus é o centro e o grande promotor da história.