Haya - A jornada de uma jovem que ousou seguir Jesus
Tudo o que eu conhecia como vida tinha ficado para trás. À minha vista, o porto foi diminuindo lá na cidade de Ptolemaida. Conforme o barco se afastava, pude ver o monte Carmelo envolto na bruma que se levantava da maresia. A cada milha, ficava mais claro que minha vida na Galileia estava tomando lugar no passado. A minha casa, o olival, o lagar, os amigos e os vizinhos. E a mesa da gruta no nosso lagar. Nunca mais nos sentaríamos juntos em volta daquela mesa onde, tantas vezes, nos reuníramos para as refeições que preparávamos com o azeite que nós mesmos produzíamos. Em torno daquela mesa, descansávamos do trabalho ou simplesmente ali nos sentávamos quando queríamos fazer as refeições fora de casa, sentindo o aroma do olival. Jamais a esquecerei.
Olhei para o Mediterrâneo enquanto o barco singrava suas águas levando-me nessa travessia sobre um mar de novidades. Para quem viveu todos os dias da vida pisando no solo firme da Galileia, o convés de um barco não parecia chão, mas um lençol flutuando sobre mistérios. O cheiro forte do mar brigava com a minha lembrança do perfume do olival — delicioso, doce, cheiro do lar. Embora ambos tivessem a cor verde, o tom não se assemelhava. A superfície do mar era ondulada pelo vento — esse invisível poder que, agora, tão distante dali, eu sabia que também fazia dançar as folhas das oliveiras. Mas isso agora era só uma lembrança a soprar nos meus pensamentos.
Havíamos partido para uma nova vida, longe da nossa terra. Um frio sentimento de perda se acomodava dentro de mim. Porém, havia a contrapartida de estar sendo levada a algo inédito. Um frescor de alma. Trazia guardado dentro do peito um sentimento que me dava esperança, uma novidade de vida.
Tudo começou naquele dia em que vi o Mestre pela segunda vez na minha cidade de Caná da Galileia.