Compreendendo que minha saúde mental não estava bem
Tendo crescido em um lar cristão, a saúde mental não era algo de que se falava. Claro, íamos ao médico se estivéssemos fisicamente doentes, mas quando se tratava do lado mental das coisas, bem, por que alguém precisaria ver um psicólogo se Deus estava conosco?
Somado a isso, havia o entendimento geral ao longo dos anos, de sermões e conversas com cristãos, que pareciam reforçar a ideia de que tudo o que precisávamos para uma ótima saúde mental era orar mais, memorizar mais versículos sobre como vencer a dúvida e a tristeza, ler sobre nossa identidade em Cristo, e cultivar uma atitude de gratidão.
Então, o mecanismo de enfrentamento que adotei ao longo dos anos era simplesmente ignorar minhas emoções (eu não recomendo fazer isso). Sempre que a dúvida ou tristeza se insinuavam em minha mente, eu as colocava numa caixa em minha mente e as marcava “para serem ignoradas”. Afinal, quem não é visto não é lembrado.
Sempre que dúvidas ou tristeza se insinuavam em minha mente, eu as colocava numa caixa em minha mente e as marcava “para serem ignoradas”.
Infelizmente, essas táticas (orar mais, meditar nas Escrituras, ignorar minhas emoções) não funcionaram para mim. E um dia, quando me vi esvaziando o conteúdo do meu estômago na pia da cozinha depois de absorver uma série de pensamentos tóxicos (e por sua vez, desencadeando uma superprodução de ácido no meu estômago), percebi que precisava procurar ajuda profissional, ou meus pensamentos venenosos arruinariam minha saúde física e mental.
A saúde mental é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “estado de bem estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade”.
Buscar ajuda profissional não era algo natural para mim. Afinal, obter ajuda também parecia admitir a derrota em minha caminhada cristã. Psicólogos, conselheiros e terapeutas eram, em minha mente fechada, pessoas destinadas ao hospital psiquiátrico. Eles eram para os clinicamente insanos, como personagens do Asylum Arkham do Batman, cada um cheio de ideias de grandiosidade. Essas pessoas, a meu ver, não eram trabalhadoras do dia a dia, com um emprego comum, um lado esportivo e uma vida social decente. Na época, eu já estava frequentando um psicólogo para trabalhar minha baixa autoestima e aprender melhores habilidades de enfrentamento emocional. Mas enquanto a COVID-19 destruía meus planos e minha esperança de um relacionamento se desfazia, meus encontros mensais com meu psicólogo provaram ser uma tábua de salvação que me conduziu através de um túnel escuro e triste.
Portanto, reunir a coragem de primeiro ver meu médico para um encaminhamento e, em seguida, ir à clínica psicológica exigiu grande quantidade de força de vontade. E quando chegou o dia da minha consulta, olhei furtivamente ao redor da sala de espera, procurando por um paciente embrulhado em uma camisa de força para passar. Mas tudo o que vi foram pessoas normais: pais com adolescentes, adultos que trabalham, estudantes.
Mesmo eu tendo lutado um pouco para procurar ajuda profissional, fiquei feliz por ter feito isso e por ter aprendido algumas coisas importantes ao longo do caminho que me levaram a uma melhor compreensão de minha própria saúde mental.
1 – Está bem não estar bem
Por mais que eu quisesse que minha vida fosse uma série de eventos felizes, aprendi a admitir que às vezes a vida não está indo bem, que estou me sentindo triste e que preciso de alguém com quem conversar. Aprendi isso em nossos momentos de tristeza; haverá dias em que nos encontraremos sentados em nossa cama, com lágrimas rolando, imaginando quando isso vai acabar. E está tudo bem.
Além disso, experimentar todo o tipo de emoções humanas pode ser bom para o crescimento pessoal. Se eu não sei o que é sofrimento ou tristeza, como poderei andar ao lado de um amigo que pode estar passando por algo semelhante no futuro (2 Coríntios 1:3-4)? Se eu não sei como são essas emoções, como poderei experimentar plenamente o verdadeiro amor ou conforto de Deus (é fácil me sentir abençoado por Ele quando a vida está indo bem)?
A vida nunca será um canteiro maravilhoso de flores, mas tudo bem.
“Aprendi a admitir que às vezes a vida não vai bem, que estou triste e preciso de alguém com quem conversar.”
2 – É normal procurar ajuda
Eu estava extremamente incerta quanto a procurar ajuda, pensando que a ajuda profissional era principalmente para malucos certificados. Eu também tinha medo de que as pessoas descobrissem e temia que futuros empregadores me taxassem como “instável”.
Mas fiquei feliz por ter feito isso, e foi por meio desse processo que aprendi que não há nada de errado (e na verdade, há muito a ser reconhecido por isso) em buscar ajuda. Para mim, foi um alívio ser capaz de me expressar totalmente sem ser julgada e ter um plano de recuperação feito para mim (em vez de confiar em algo que foi eficaz para a irmã da namorada do irmão de alguém).
E definitivamente há mais de uma maneira de buscar ajuda. Pode ser por meio de um amigo de confiança, um mentor, alguém que passou por uma experiência semelhante ou uma linha de ajuda local de saúde mental para obter apoio.
Ir à terapia também me mostrou que a vida não pode ser feita sozinho e que é importante ser capaz de ter alguém com quem possamos conversar quando as coisas ficam difíceis. Também vemos isso refletido na Bíblia, onde o Mestre fala sobre dois serem melhores do que um, porque se um deles cair, eles têm um ao outro para se ajudar (Eclesiastes 4:9-10). Para mim, isso veio na forma de aconselhamento, acompanhado dos ombros de alguns bons amigos pelos quais chorar e uma irmã amorosa a quem eu poderia recorrer.
“Ir para a terapia também me mostrou que a vida não pode ser feita sozinho e que é importante poder ter alguém com quem possamos conversar quando as coisas ficarem difíceis.”
3 – É normal reconhecer suas emoções
Não gosto de chorar — o próprio ato de lágrimas brotando dos meus olhos e escorrendo pelo meu rosto me deixa desconfortável. E se eu não gostava de chorar, não gostava de mim mesma por chorar (as lágrimas são inevitáveis na vida), pois muitas vezes me sentia como se a pessoa que me machucou tivesse vencido. Os comentários que eu costumava ler sobre como as mulheres são muito mais emocionais do que os homens e como isso é prejudicial para suas carreiras também não ajudaram. Então, eu era racional quanto às lágrimas, escolhendo em vez disso uma postura séria, de queixo erguido e lábios rígidos (mesmo que tudo o que eles quisessem fazer fosse oscilar).
Foi por meio de aconselhamento que cheguei a um acordo sobre o fato de que as lágrimas (e a tristeza) são partes naturais da vida. Esses sentimentos, eu aprendi, são o que nos torna humanos e são respostas naturais às várias emoções que sentimos. Se podemos rir quando algo engraçado aconteceu, por que não podemos chorar se algo ruim aconteceu? Permitir e aceitar que está tudo bem se as lágrimas vierem (e não que devem simplesmente ser enxugadas do rosto porque são ruins) me ajudou a reconhecer que a tristeza é uma emoção legítima para uma mágoa ou decepção que senti na vida.
Outra coisa que percebi desde então é que a Bíblia tem personagens que foram bastante chorões! Na verdade, suas expressões de lágrimas e tristeza não os tornavam menos heróis. Lá está Jó, que chorou tanto que ficou com o rosto vermelho e até com olheiras (Jó 16:16). Depois, há Jesus, que chorou com Maria e Marta quando soube da morte do irmão delas, Lázaro. As Escrituras também estão repletas de versículos cobrindo todo o espectro da emoção humana, e isso é visto em Eclesiastes 3:4 — “um tempo para chorar, um tempo para rir, um tempo para lamentar, um tempo para dançar”.
Permitir e aceitar que está tudo bem se as lágrimas vierem (e não que devem simplesmente ser enxugadas do rosto porque são ruins) me ajudou a reconhecer que a tristeza é uma emoção legítima para uma mágoa ou decepção que senti na vida.
Olhando para trás, mesmo que eu tivesse inicialmente ficado tão hesitante em pedir ajuda, estou muito feliz por ter feito isso, pois me deu um espaço seguro onde fui capaz de expor o que estava em minha mente sem ser julgada e aprendi como lidar com minhas emoções de uma maneira melhor e mais saudável.
Muitas vezes me perguntei como seria a ajuda do Senhor ou como seria ser tirada de um poço de desespero. Este episódio me mostrou que a ajuda de Deus vem de muitas formas, se eu estivesse disposta a me livrar de meus preconceitos e a estar mais aberta aos diferentes apoios que Ele tem oferecido. Cada interação que tive com as pessoas que Ele colocou em minha vida, do meu psicólogo à minha família e amigos, é um lembrete de um Deus fiel que segura minha mão enquanto caminha comigo e me tira desse poço de desespero.
Este episódio me mostrou que a ajuda de Deus vem de muitas formas, se eu estivesse disposta a me livrar de meus preconceitos e a estar mais aberta aos diferentes apoios que Ele tem oferecido.
Originalmente publicado no @ymi_today, que faz parte de Ministérios Pão Diário, em inglês. Traduzido e republicado com permissão.