Como ler a Bíblia? Parte 4 — Sermões de Spurgeon
LER E PRATICAR.
Se vocês não fazem isso, estão lendo para a sua própria condenação! Se vocês leem “Não há condenação alguma para quem crê nele”, e aqueles que não creem, já estão “condenados”, porque não creram no Filho de Deus! O evangelho é algo muito solene para todo homem, porque, se não for um perfume que dá vida, torna-se um cheiro terrível de morte e condenação, pois precisa sempre ser um aroma de algum tipo! Algumas pessoas parecem ler a Bíblia para saber como não fazer — quanto mais Deus ordena, mais desobedecerão! Embora Ele as atraia, elas não virão a Ele. E, quando Ele as chama, não lhe darão resposta.
Um coração muito arrependido é aquele que de alguma forma usa a Palavra de Deus de modo a fazer dela um agravante de seu pecado! Nossa vida deve ser — e, se a graça de Deus for abundante nela, será — uma nova tradução da Bíblia. Trazer a Bíblia para o vernáculo é isso! A Bíblia do mundano é o cristão. Ele nunca lê o Livro, mas lê o discípulo de Cristo e julga a religião cristã pela vida daqueles que a professam! O mundo aprenderá melhor e, muito provavelmente, será levado a conhecer a Cristo quando a vida dos cristãos for melhor e quando a Bíblia da vida cristã estiver mais em conformidade com a Bíblia da doutrina cristã! Santifique-nos! Santifique-nos, espírito, alma e corpo, e então nos tornaremos otimamente úteis para a Igreja e para o mundo! Ler e praticar! Porém, só poderemos fazê-lo à medida em que o Deus Espírito Santo nos ajudar.
LER E ORAR.
Isso é, talvez, quase voltar ao primeiro ponto, isto é, ler com dependência do Espírito Santo. Porém, desejo imprimir um pensamento bastante diferente em sua alma. Martinho Lutero disse ter aprendido mais por oração do que jamais aprendeu de qualquer outra maneira. Certo dia, um destroçador de pedras estava de joelhos quebrando rochas duras quando um ministro passou por ele e disse: “Vejo que você está fazendo o que eu costumo fazer, quebrando coisas difíceis”. A resposta foi “Sim, senhor, e eu estou fazendo isso da maneira como o senhor deve fazer: de joelhos”.
Uma passagem das Escrituras, muitas vezes, se tornará mais clara quando você orar sobre ela, o que desafiará a simples crítica ou o olhar para os expositores. Você coloca o texto em prática e, em seguida — o compreende. Suponho que, se um homem estivesse estudando anatomia e nunca tivesse visto o corpo vivo, talvez não fosse capaz de saber para que serve um certo ligamento, ou determinado osso — mas, se pudesse colocar aquele corpo em movimento, então poderia compreender o uso de todas as diferentes partes, supondo que fosse capaz de vê-las. Assim, quando um texto das Escrituras jaz, por assim dizer, morto diante de nós, podemos não ser capazes de compreendê-lo — mas quando, por oração, o texto adquire vida e nós o colocamos em movimento, passamos a compreendê-lo de imediato! Às vezes, podemos meditar sobre um texto repetidamente, ruminá-lo e digeri-lo lentamente, e ainda assim ele pode não se tornar claro para nós, mas clamamos a Deus e, imediatamente, o texto se esclarece e vemos escondidos nele maravilhosos tesouros de sabedoria divina e de graça!
Entretanto, a oração não deve ser feita simplesmente para que possamos entender o texto. Penso que devemos orar sobre cada passagem para que sejamos capacitados a extrair dela o que Deus quer nos transmitir. Um texto é como um baú de tesouros que está trancado — e a oração é a chave para abri-lo — e, assim, recebemos os tesouros de Deus! O texto é a carta de Deus, a qual é repleta de palavras amorosas, mas a oração precisa romper o lacre. Quando a leitura é acompanhada de oração e a oração é acompanhada de leitura, daí o homem caminha com os dois pés, o pássaro voa com as duas asas! Ler somente, não é proveitoso — orar sem ler não é tão enriquecedor para a alma, mas, quando as duas coisas ocorrem juntas, são como os cavalos puxando a carruagem e eles correm juntos velozmente e muito animadamente!
Leiam e orem, cristãos! Porém, cuidem para que vocês não leiam sem regar a sua leitura com a sua oração. Paulo pode plantar e Apolo pode regar, mas o crescimento vem de Deus! E, mesmo neste livro bendito, Moisés pode plantar e Davi pode regar, mas a oração precisa clamar a Deus, caso contrário, não haverá o crescimento!