Como ler a Bíblia? Parte 2 — Sermões de Spurgeon
2. LER E MEDITAR
Não há exercício mais fora de moda, hoje em dia, do que a meditação! Contudo, usando a expressão de Brookes, “ela é um dever que engorda a alma”. O gado come a grama, mas a nutrição vem da mastigação do que foi ruminado! A leitura é o reunir do nosso alimento, mas a meditação é a mastigação do ruminado, a digestão, a assimilação da verdade de Deus! Eu garimpo a verdade quando leio, mas fundo o minério e obtenho o ouro puro quando medito! Rute recolheu “as espigas de cereal”, mas depois as debulhou. O leitor é quem colhe, mas quem medita é também o que debulha. Por falta de meditação, a verdade de Deus corre ao nosso lado e nós a deixamos passar e a perdemos. Nossa memória traiçoeira é como uma peneira — e o que ouvimos e lemos passa através dela e deixa pouco para trás — e, frequentemente, esse pouco não nos é proveitoso devido à nossa falta de diligência em nos aprofundarmos. Frequentemente, considero muito proveitoso fazer de um texto um doce bocado sob minha língua pela manhã e, se conseguir, manter o sabor dele em minha boca o dia todo!
Gosto de remoê-lo vezes seguidas em minha mente, porque você descobrirá que qualquer texto das Escrituras é como o caleidoscópio. Vire-o de um jeito e você dirá: “Que verdade justa de Deus!”. Vire-o de outro jeito e você verá a mesma verdade, mas sob um aspecto muito diferente! Vire-o ainda mais uma vez — e continue fazendo isso o dia todo — e você ficará surpreso e encantado ao descobrir em quantas luzes a mesma verdade aparecerá e que maravilhosas permutações e combinações você pode encontrar nela! Quando tiver feito isso o dia todo, você será compelido a sentir que há uma infinidade acerca de um único texto, de forma que nunca o compreenderá totalmente, mas descobrirá que ele ainda está além de você! Se uma passagem das Escrituras lhe for dada, não desista rapidamente dela porque você não apreende imediatamente sua força e plenitude. O maná que caía no deserto não se mantinha doce além de um dia — se fosse guardado até o dia seguinte, criava vermes e fedia. Porém, houve uma porção de maná que foi colocada num pote de ouro e mantida na arca da Aliança, que nunca perdeu a sua doçura e nutrição celestial! E há uma maneira de guardar as preciosas porções da Palavra de Deus que lhe são dadas hoje, para que você possa prosseguir na força dela durante 40 dias e continuar a encontrar alimento fresco no mesmo texto dia após dia, e até mesmo mês após mês! Porém, isso só pode ser feito meditando sobre ele. Nosso hino contém uma fábula quando diz que as —
Brisas fragrantes
Sopram suavemente sobre a ilha de Ceilão.
Os viajantes que lá estiveram nos contam que nunca sentiram o odor de “brisas fragrantes”, porque a canela não produz perfume até ser ferida e quebrada! E, certamente, a Palavra de Deus é extremamente repleta de perfume, mas não até que tenha sido afavelmente ferida por uma meditação reverente e amorosa. Você não consegue obter dela a doçura e a fragrância antes de tê-la ferido repetidas vezes na argamassa do pensamento com o pilão da lembrança. Então, medite sobre essas coisas!
Alguém pergunta: “Mas como podemos meditar quando temos tantas coisas em que pensar?” Porém, “uma coisa é necessária”, e é preciso que o cristão medite sobre as coisas de Deus! Sei que vocês precisam empregar sua mente em muitas coisas e não posso lhes pedir para não o fazer, mas, sempre que tiverem tempo para descansar, deixem sua mente voltar ao velho lar. Os pássaros passam o dia todo catando seus alimentos, mas vão diretamente para o seu poleiro à noite; então, quando os afazeres do dia terminarem e o pão do dia já tiver sido adquirido, voem para seus ninhos e descansem sua alma em alguma porção preciosa da Palavra de Deus. Durante o dia, também, sempre que vocês estiverem livres da ansiedade, deixem a sua mente se elevar — e para isso será útil se vocês pegarem um texto e o transformarem em asas que lhe permitam voar para ponderar coisas celestiais. Leiam e meditem!