Sobre a artista
Maria Bueno
Psicóloga clínica sob orientação psicanalítica e Artista do Movimento (vivência em dança contemporânea e consciência corporal, jazz musical e sapateado).
Instagram: @mariaoliveirab___
A mágoa é como um fio
Um fio que borda o invisível;
Habita e faz morada na dor,
Esvazia o que uma vez foi
cheio
E de tão vazio,
Pesa.
Peso insustentável que carrego,
O nó da dor;
Tecendo a mágoa
Invisível, porém tão
Latente.
A mágoa é como um fio;
A força que existe em mim não consegue cortá-lo;
Preso ao mais ínfimo lugar
Que tanto (des)conheço.
Eu não consigo tirá-la daqui.
A mágoa.
Não, eu não consigo.
“Liberdade” eu ouço ao longe.
Como uma ovelha perdida, ouço o Pai me chamar.
Até que eu me rendo.
Não, eu não consigo deixá-la ir embora.
Mas o Senhor consegue.
E com sua Boa e Santa mão,
Sabe onde ela está e a retira com sua misericórdia.
A mágoa é como um fio.
O Senhor desfaz os nós.
Ouço: Liberdade.
Reflexão
O entrelaçamento sistêmico da mágoa
A mágoa, essa gota de orvalho que por vezes pesa em nosso coração, é mais do que uma emoção solitária; ela é uma tapeçaria entrelaçada nas teias complexas dos nossos relacionamentos. Ao olharmos para ela, sob uma lente sistêmica, vemos que a mágoa não é apenas uma gota isolada, mas parte de um rio maior que flui através das paisagens de nossas vidas interconectadas.
Imagine uma floresta, em que cada árvore representa um de nós e as raízes se entrelaçam subterraneamente. Quando uma árvore sente dor, essa sensação é transmitida através dessa rede de raízes, reverberando em toda a floresta. Assim é a mágoa em nosso tecido social. Uma palavra dura, um mal-entendido, ou um olhar distante, podem não apenas afetar dois indivíduos, mas enviar ondulações através de todo o sistema, tocando todos que estão conectados.
Mas, assim como a floresta tem sua forma resiliente de curar e de se renovar, os sistemas humanos também têm. O olhar sistêmico nos mostra que, por trás de cada mágoa, há também uma oportunidade — uma chance de entender as dinâmicas mais profundas, de fortalecer os laços e de tecer novos padrões de conexão.
Porque, no final das contas, mesmo que a mágoa possa surgir dos intricados dançarinos de nossa dança coletiva, é também dentro desse baile que encontramos os abraços mais curativos, os passos mais compassivos e as melodias que nos unem em harmonia.
Que possamos, então, olhar para a mágoa não como uma cicatriz eterna, mas como um convite. Um chamado para mergulhar mais fundo, para ouvir com mais atenção, e para dançar com mais amor, transformando cada gota de dor em rios de compreensão e oceanos de conexão.
Que o nosso eterno Senhor lhe apresente a beleza que é mergulhar no perdão, e um processo de cura de início em sua jornada.
“A psicologia sistêmica enxerga o ser humano como um elemento que dança em harmonia e dissonância com as diversas músicas dos sistemas que integra.”
Lézia Fontana, Psicóloga Clínica
CRP 08/39052
Terapeuta relacional sistêmica de família, casal, pais e individual.
Graduada pela Universidade FAE, Curitiba/PR
Instagram: @psicologiafontana