Mais que um devocional.

Se paro para pensar, José e Jandira assim como Arthur e Elsa me ensinaram muito, dentre esses até aquele que não tive o prazer de conhecer pessoalmente, aprendi por meio das histórias que dele (José) ouvi. Mas hoje, desses quatro nomes distintos e com histórias diferentes das quais vem minha origem, peço permissão para falar de uma de minhas avós.

Em 1929 no estado de Minas Gerais, nascia Elsa Maria, que não gostava do Maria de seu nome e era mais conhecida como Déda, filha mulher mais velha dentre os vários filhos e filhas da Dona Elvira. E que mais tarde, para mim seria conhecida apenas como vó, seria um dos grandes exemplos de mulher que eu poderia ter.

De alguma das várias histórias dela que me recordo de viver ou de ouvir junto com meus irmãos e primos à volta da mesa, e tomando café com leite, gostaria de destacar três delas. 

Primeiramente, se você conhece alguém nascido no final da década de 1920, em Minas, em que a família se dedicava à plantação de café, é muito provável que essa pessoa não tenha tido acesso a escola, como foi o caso da Dona Déda – mesmo assim era admirável as suas citações de versículos bíblicos, a qual ela aprendia e decorava nas Escolas Bíblicas que frequentava ainda criança com sua irmã (as primeiras a seguirem os passos de Jesus de sua casa e família), só anos mais tarde, depois de casada ela veria seu pai se batizar no mesmo dia que seu marido (meu vô, e grande exemplo – para mim descobrir isso foi um choque, não o imaginava de outro jeito senão “dentro da igreja”), mas voltando aos versículos, tenho um especial que sempre me lembro:

“Em tudo dai graças (…)” – 1 Tessalonicenses 5:18, ficava admirada vendo ela citar os versículos com suas respectivas referências, e eu que na época era pequena pensava se estava certo, e estava. E hoje, já grande, confesso que sei alguns versículos de cor, mas não me pergunte quais são as referências.

Lembro da explicação que ela deu como se fosse ontem. Ela dizia: 

“O verso diz TUDO e tudo, significa TUDO. Não é quando você acha que está bom, ou quando você acha que precisa. E, sim, estar o tempo todo agradecendo, porque Ele é bom e é por essa bondade que agradecemos, até quando não vemos motivo”.

A segunda história sobre minha avó é daquelas que só conseguimos ver em pessoas que realmente compreendem o papel da oração em suas vidas. Se eu conheci alguém para dizer “essa pessoa vive pelo sustento da oração”, essa pessoa era a Dona Déda.

Se você ligasse para ela lá pelas 18h, você não seria atendido. Todos os dias, exceto domingos (por que esse era o dia do Senhor, então ela estaria na igreja) no horário das 18h ela se fechava no quarto de costura para orar e só saía de lá quando sua lista de oração e conversa com o Senhor estivesse concluída, e isso poderia levar 1 ou 2 horas dependendo do dia e de sua lista. 

Lembro que na época eu ficava com ela, para que os meus pais pudessem trabalhar e como criança tem memória curta, sempre esquecia do que ela fazia nesse horário, e me desesperava quando não a encontrava. Achava que ela tinha me abandonado – até que ouvia o barulho da porta e me lembrava que ela estava no seu horário a sós com Deus. Cresci vendo isso todos os dias enquanto estava lá.

E além desses momentos diários, toda vez que ela precisava tomar uma decisão, ela só resolvia depois de um tempo em oração. Por exemplo, quando queríamos viajar e levá-la junto já sabíamos que teríamos que avisá-la com pelo menos 30 dias de antecedência, pois esse era o tempo médio que levava para ver com Deus se aquela viagem era realmente da vontade Dele. Se isso não é viver pela oração, não sei o que é.

E por último gostaria de compartilhar algo que é mais pessoal para mim, do que foi para ela.

Como já citei, cresci com ela, e das várias coisas que recordo de quando estava lá, como, tomar a mamadeira de café embaixo da mesa, ou “pescar” peixinhos (que na verdade eram girinos) no pequeno riacho que havia atrás da casa, uma das coisas que sempre gostei em sua casa era o pinguim de geladeira, mas ela não deixava a gente brincar com ele, a gente achava que era só pelo fato de ser de louça e que poderia quebrar, mas não era apenas isso, mas  porque ali ela guardava o dinheiro que meu avô deixava com ela para as despesas da casa enquanto ele estivesse fora trabalhando.

Mas por que eu lembrei do pinguim?

É porque cresci querendo ter um pinguim em cima da minha geladeira também, achava que toda casa deveria ter um. Logo depois que ela morreu, comentei isso com minha tia, e um tempo depois, ela me entregou o pinguim, ele ainda está guardado à espera de uma nova geladeira, a minha.

E foi pelo pinguim que recebi o convite de contar um pouquinho dessa mulher que tive o privilégio de chamar de vó. E o pinguim segue não apenas como uma lembrança dela, mas também que quem ela foi para mim, um exemplo de filha, mulher e cristã, e a lembrança de tudo o que Deus fez por ela e por meio dela. 

Esse foi apenas um breve relato sobre um dos meus avós, se fosse relatar um pouco dos quatro, certamente teria muito para contar sobre os exemplos de pessoas que eles foram, e mesmo não estando aqui ainda são.

Finalizo tendo em mente a bondade de Deus e… em tudo lhe dando graças.

 

Por Jessica Machado

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